Evo Morales se declara perseguido na Bolívia após mandado de prisão anulado
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, investigado por um suposto caso de tráfico de pessoas que envolve uma menor de idade, declarou-se perseguido e ameaçado nesta quinta-feira (3), após uma ordem de prisão contra si que foi anulada pela Justiça.
O líder indígena e hoje chefe da oposição está no centro de um escândalo que veio à tona na quarta-feira, quando a promotora Sandra Gutiérrez denunciou que foi destituída por pedir a prisão de Morales no âmbito de uma investigação por "tráfico de pessoas".
Sem se referir ao expediente, Morales escreveu na rede social X: "Não me causa estranhamento nem preocupação. Todos os governos neoliberais, incluído o atual, me ameaçaram, me perseguiram, me prenderam, tentaram me matar. Não tenho medo! Não vão me calar!"
Ontem, a promotora Gutiérrez, do departamento de Tarija, revelou que havia iniciado uma investigação contra Morales a partir de uma denúncia que foi apresentada na semana passada com base em um relatório policial de inteligência.
Em 26 de setembro, Gutiérrez pediu a prisão do líder indígena de 64 anos. O mandado contra Morales - que teve trecho vazados à imprensa - aponta que, em 2016, o então presidente se envolveu com uma menor de 15 anos com quem teve uma filha.
Na quarta-feira, uma juíza de Santa Cruz acolheu um recurso da defesa de Morales que deixou sem efeito a ordem de captura. Depois disso, Gutiérrez garantiu que foi destituída por instrução do procurador-geral Juan Lanchipa.
"Eu não me demiti, mas recebi o memorando de agradecimento assinado [...] pelo senhor Lanchipa", disse Gutiérrez aos jornalistas.
Nesta quinta, Lanchipa informou que destituiu Gutiérrez por "conduta negligente", mas que, "em nenhum momento, deu qualquer instrução" para paralisar o processo contra Morales.
Por ora, nenhuma autoridade judicial se pronunciou sobre o futuro das investigações contra Evo Morales depois da anulação do mandado de prisão.
- Em segurança -
Diante do rebuliço causado pela declaração da promotora Gutiérrez, os apoiadores de Morales disseram que seu líder está seguro em algum lugar da região produtora de coca de Chapare, no centro de Bolívia, diante do risco de ser preso.
"Irmãos e irmãs do Trópico [Chapare] se mobilizaram clandestinamente, se tornaram os vigilantes, os guarda-costas, os protetores da vida de Evo Morales", afirmou seu ex-ministro e advogado Carlos Romero em uma declaração aos meios de comunicação.
Segundo o porta-voz, o governo é responsável por pelo menos cinco processos contra Morales.
Sem dar pistas sobre seu paradeiro, o líder indígena escreveu: "Seguirei lutando junto de nosso povo, junto de minhas irmãs e irmãos que nunca me abandonaram".
Até antes de quarta-feira, nenhuma autoridade ou o próprio ex-presidente haviam relatado a existência da investigação revelada pela promotora destituída.
Morales governou a Bolívia entre 2006 e 2019 e impulsionou o triunfo eleitoral de seu sucessor Luis Arce, que foi seu ministro da Economia durante mais de uma década.
Contudo, os dois romperam e hoje disputam a liderança do partido da situação, o MAS, e a indicação presidencial para as eleições gerais de 2025.
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