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Oceanos mais ácidos: sétimo limite do planeta está prestes a ser ultrapassado

02/10/2024 10h44

O planeta Terra está com a saúde debilitada. Um estudo científico acaba de realizar uma avaliação de nove critérios diferentes para a medição das condições de vida na Terra e seis indicadores já estão no vermelho. Um sétimo limite planetário está prestes a ser ultrapassado, o da acidificação dos oceanos - um processo inevitável nos próximos anos, mas que não deve desencorajar as ações para limitar os riscos de degradação iminente da biodiversidade marinha, ao dissolver moluscos e corais.

Tudo começa com emissões de CO2. As enormes quantidades de dióxido de carbono que estamos bombeando para a atmosfera não estão apenas aquecendo o clima, mas também desestabilizando o equilíbrio do oceano.

Parte do CO2 da atmosfera se dissolve na água por meio de reações químicas naturais. Desde o início da revolução industrial, cerca de um terço do CO2 gerado pelas atividades humanas foi absorvido pelos oceanos.

O problema é que isso está fazendo com que eles se tornem mais ácidos, afinal o CO2 é um gás ácido. A acidificação dos oceanos já aumentou em quase 30% e, se nada for feito para reverter as emissões, os modelos de previsão preveem um aumento de 150% na acidez até 2100.

Dissolução de moluscos e corais

O fenômeno é monitorado de perto por cientistas como Wolfgang Lucht, especialista em sistemas planetários do Instituto do Clima de Potsdam. "Muitos micro-organismos, mas também organismos maiores, como os corais, constroem suas conchas ou esqueletos a partir do carbonato. Em um oceano mais ácido, o carbonato se dissolve mais facilmente e, portanto, eles têm muito mais dificuldade para formar seus corpos", explica.

É como usar vinagre para dissolver calcário, exceto que, nesse caso, são as ostras, os caranguejos, os ouriços-do-mar, as lagostas e os corais que estão em jogo, mas também toda uma gama de plânctons microscópicos, os blocos de construção essenciais da vida subaquática, que estão ameaçados ou, pelo menos, enfraquecidos pela acidificação dos oceanos.

"Isso pode criar enormes distúrbios em toda a cadeia alimentar do oceano, e agora estamos muito próximos da zona de alto risco em que essas mudanças profundas podem ocorrer", alerta Lucht. 

Os nove "limites planetários"

Há 15 anos, uma equipe científica internacional que trabalha no Centro de Resiliência de Estocolmo (SRC) definiu o conceito de nove limites planetários: nove indicadores com limiares além dos quais "os equilíbrios naturais da Terra podem ser desestabilizados e as condições de vida podem se tornar desfavoráveis para a humanidade", de acordo com a Comissão Geral para o Desenvolvimento Sustentável da França.

Em setembro de 2023, os pesquisadores soaram o alerta vermelho porque seis dos nove limites planetários já haviam sido ultrapassados. São eles: o aquecimento global, o declínio da biodiversidade, a poluição por fertilizantes químicos (os ciclos do nitrogênio e do fósforo), a degradação do solo, o ciclo da água doce e a introdução de novos elementos na natureza, como transgênicos, as nanopartículas e outros plásticos.

Seis indicadores da saúde do planeta já estão no vermelho

Faltam, em termos de indicadores, a camada de ozônio e a presença de partículas finas (ou aerossóis) na atmosfera. Esses dois ainda estão no verde. No entanto, o limite para a acidificação dos oceanos está prestes a ser ultrapassado "dentro de alguns anos", de acordo com Boris Sakschewski, um dos principais autores do Planetary Health Check, uma avaliação da saúde da Terra que faz um balanço dos limites planetários e que agora é atualizada todos os anos pelo Instituto do Clima de Potsdam.

O estilo de vida poluente dos seres humanos já levou à emissão de CO2 em excesso, que se acumula na atmosfera e acaba parando nos oceanos. "Ainda faltam dezenas e centenas de milhares de anos e, embora seja difícil prever a escala exata do impacto dessa acidificação, é certo que ela não será insignificante", explica Wolfgang Lucht, também autor do Planetary Health Check.

Eembora algumas das mudanças já pareçam irreversíveis, o pesquisador pede que não nos entreguemos ao fatalismo. "A melhor coisa que podemos fazer é limitar nossas emissões para que as coisas não piorem", conclui.

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