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Carro automático estraga se tentar pegar no tranco? Saiba mitos e verdades

Empurrar o carro e fazer motor 'pegar no tranco' é alternativa em caso de bateria arriada, mas é preciso fazê-lo da forma correta Imagem: Getty Images

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/10/2024 05h30

Deixar o carro parado por longo período pode deixá-lo sem carga na bateria, mas tomando alguns cuidados é fácil evitar a bateria arriada. Porém, se isso acontecer, o recomendável é recarregá-la em um auto elétrico ou apelar para a famosa "chupeta" - caso não seja necessário substituir o componente.

Outra alternativa, embora não seja a ideal, é usar o próprio movimento das rodas motrizes para fazer o motor "pegar no tranco".

A tática é conhecida: em automóveis manuais, coloca-se o câmbio em neutro enquanto alguém empurra o veículo. Ao atingir determinada velocidade, o motorista engata a segunda marcha e solta a embreagem, na expectativa de o motor ligar.

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Mas dá para fazer o mesmo em veículos com transmissão automática? "Pegar no tranco" traz risco de danos mecânicos?

Para esclarecer mitos e verdades envolvendo o tema, UOL Carros consultou dois especialistas em motores a combustão.

1 - Carro automático não pega no tranco - Mito

De acordo com Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação da SAE Brasil, é possível usar o método em carros com transmissão automática para fazer o motor ligar. No entanto, devem ser tomados alguns cuidados.

"O mais importante é nunca colocar o câmbio na posição "P" com o veículo em movimento, o que travaria imediatamente as rodas. Nessa situação, podem ocorrer danos", alerta o especialista.

Franieck explica que, ao selecionar "P", é acionado um pino que trava o eixo que conecta o câmbio ao motor, que pode quebrar, além de outros componentes como o sincronizador.

Para "pegar no tranco", ele orienta a posicionar o seletor em "N" e colocar em "D" ou "2" quando o veículo atingir uma velocidade de aproximadamente 20 km/h. Com isso, o motor deve ligar.

2- Pegar no tranco pode danificar veículo - Verdade

Edson Orikassa, ex-presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), afirma que o risco de danificar o motor e/ou a transmissão é "baixo" ao "pegar no tranco".

Isso decorre do fato de o veículo estar em baixa velocidade, não submetendo os componentes a forças excessivas. Porém, salienta, é preciso dosar esse tranco.

"Evite soltar o pedal de embreagem bruscamente. Faça-o de forma gradual".

Por outro lado, o colega Erwin Franieck alerta que as coisas podem ficar complicadas caso a correia dentada se rompa.

Responsável por sincronizar a abertura e o fechamento das válvulas, essa correia pode arrebentar na hipótese de já estar desgastada - o risco aumenta se o tranco for muito forte.

"Quando a correia arrebenta, as válvulas ficam paradas enquanto os pistões ainda estão em movimento. Por isso, o risco de uma ou mais delas ser atingida pelo pistão e entortar é alto, ainda mais considerando a elevada taxa de compressão dos motores atuais", pontua Franieck.

Segundo o especialista, a possibilidade de estragos cresce se o motor for diesel, que tem taxa de compressão ainda maior.

Há o risco, ainda, de danificar outras peças, como pistões e bielas, o que obrigaria a fazer uma retífica do motor.

Esses alertas valem tanto para carros manuais quanto para automáticos.

3 - 'Tranco' é mais prejudicial a motor turbo - Mito

Muitos pensam que motores turbinados são mais suscetíveis do que os aspirados a danos quando o motor "pega no tranco".

Essa crença decorre do fato de a turbina ainda não estar devidamente lubrificada, o que poderia estragar componentes internos, durante as tentativas de fazer o propulsor ligar.

De acordo com Erwin Franieck, esse risco não existe porque a turbina somente é acionada por volta das 1.500 rpm. Ao empurrar o automóvel, não se atinge velocidade suficiente para o motor chegar a essa quantidade de rotações por minuto.

4 - Desconectar a bateria facilita arranque - Verdade

Retirar a bateria ajuda motor a 'pegar no tranco', mas há risco de danos a equipamentos eletrônicos Imagem: Smith Collection/Gado/Getty Images

Ao empurrar o veículo, as rodas movimentam o motor e, consequentemente, a correia de acessórios.

Ela é responsável por ativar o alternador, que tem a missão de gerar eletricidade para recarregar a bateria e ativar os sistemas necessários para o motor entrar em combustão.

Porém, boa parte da eletricidade gerada é direcionada para a bateria. Com isso, a tensão (voltagem) necessária para gerar a centelha das velas e fazer os bicos injetores funcionarem leva mais tempo para ser atingida.

Por isso mesmo, o motor só irá ligar quando a bateria já tiver alguma quantidade de carga acumulada.

"Desconectar a bateria libera mais tensão para os sistemas responsáveis por ativar a combustão no motor. Porém, a bateria também serve para estabilizar as variações de tensão geradas pelo alternador. Por essa razão, se ela não estiver conectada, o risco de queimar dispositivos eletrônicos do veículo é maior", explica Franieck.

5 - Motor injetado também pode 'afogar' - Verdade

Para fazer o motor pegar empurrando o veículo, é necessário atingir velocidade suficiente para gerar a tensão necessária para acionar as velas e o sistema de injeção.

Uma velocidade entre 10 km/h e 20 km/h geralmente já permite que a ignição aconteça. Porém, dependendo do terreno, do peso do carro e da quantidade de pessoas empurrando o automóvel, não é incomum precisar de diversas tentativas até que o motor, finalmente, ligue.

Em carros carburados, a cada tentativa frustrada o motor recebe mais combustível, que não é queimado.

A consequência é que esse combustível acaba atingindo as velas, impedindo a geração de centelha - e, consequentemente, impossibilitando a partida até que o líquido evapore.

Esse é o famoso "afogamento" do motor.

Ao contrário do que muitos pensam, esse fenômeno também acontece com carros injetados - e pelo mesmo motivo, esclarece Franieck.

Orikassa destaca que a chance de o propulsor "afogar" é maior se ele estiver abastecido com etanol - sobretudo em dias mais frios.

"Sob temperaturas mais baixas, o etanol fica mais denso e há mais dificuldade de ele vaporizar, condição necessária para sua queima no motor. Por isso, mesmo que você consiga fazer o carro 'pegar no tranco', é comum ele 'engasgar' e desligar novamente. O número de tentativas malsucedidas tende a ser maior", afirma.

Em veículos flex com tanquinho de partida a frio, mesmo se o reservatório estiver abastecido com gasolina, ela só é injetada no motor sob temperatura ambiente abaixo de 20ºC, complementa Erwin Franieck.

"Mesmo nos carros flex sem tanquinho, que pré aquecem o etanol antes de ele ser injetado, dificilmente o sistema é ativado ao empurrar o carro, pois a tensão gerada pelo alternador é muito baixa. Portanto, se você deixar o veículo parado por muito tempo, prefira abastecer com pelo menos 50% de gasolina para a eventualidade de precisar 'pegar no tranco'", orienta o engenheiro da SAE Brasil.

*Com informações de matéria publicada em 31/05/2020

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