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'Que os abusadores sejam julgados': papa encerra visita à Bélgica falando sobre pedofilia na Igreja

29/09/2024 13h43

Encerrando sua conturbada viagem de três dias à Bélgica, o papa Francisco pronunciou uma forte homilia mencionando um assunto tabu na Igreja Católica, as agressões sexuais protagonizadas por líderes religiosos contra menores. O sumo pontífice fez um apelo para que os bispos não encubram esses crimes.

Na missa final da visita, diante de 40 mil pessoas e de membros da família real belga no estádio Rei Balduíno, Francisco exigiu que integrantes da Igreja Católica acusados de pedofilia enfrentem a Justiça. "Não há lugar para os abusos, nem para cobrir os abusos", afirmou o papa, arrancando aplausos dos fiéis.

"Pensemos o que ocorre quando os pequenos são escandalizados, feridos e maltratados por aqueles que deveriam cuidar deles", disse. "Com a mente e o coração, volto às histórias de algumas dessas crianças que conheci anteontem", reiterou, em alusão ao encontro com as 17 vítimas de violências sexuais que encontrou em Bruxelas. 

O sumo pontífice afirmou ter sentido "o sofrimento" de todas essas pessoas, hoje adultas. Além disso, Francisco também ouviu pedidos de uma maior indenização da Igreja Católica belga, que encobertou durante décadas casos de pedofilia dentro da instituição. 

"Não falamos do valor, mas deixamos muito claro sobre o fato de que tudo o que foi feito e obtido até agora é totalmente insuficiente", declarou Annesophie Cardinal, uma das vítimas de agressões sexuais cometidas por membros da Igreja Católica, presente no encontro promovido na embaixada do Vaticano na capital belga. 

Jean-Marc Turine, outra vítima que participou da reunião com o papa, expressou sua frustração. Segundo ele, o sumo pontífice "fez rodeios" e não propôs nenhuma ação concreta. "Ele pede perdão, diz que tem vergonha e que se sente triste", afirma. "Mas isso não nos ajuda muito", completa.

"Não encubram os abusos!"

Oficialmente, a visita do papa à Bélgica tinha o objetivo de celebrar o 600º aniversário da Universidade Católica de Louvain, mas a questão da pedofilia na Igreja Católica dominou a viagem do sumo pontífice, cuja primeira etapa foi em Luxemburgo, na quinta-feira (26). O rei Philippe e o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, foram os primeiros a fazer apelos em prol de um maior envolvimento do papa na prevenção desses crimes e na identificação dos culpados. 

"Peço a todos: não encubram os abusos! Peço aos bispos: não encubram os abusos! Condenem os abusadores e nos ajudem a curar essa doença do abuso", afirmou Francisco neste domingo, visivelmente emocionado. "O mal não pode ser escondido, o mal tem que ser esclarecido. Que se julguem os abusadores, sejam padres ou bispos", concluiu, sob fortes aplausos.

Durante a missa, o sumo pontífice anunciou ainda que abrirá o processo de beatificação do rei belga Balduíno, falecido em 1993, que se opôs à lei que descriminaliza o aborto no país. A prática é legalizada no país desde 1990. Para Francisco, o monarca foi "um exemplo de homem de fé".

No final da celebração, o papa rezou pela paz no Líbano e voltou a pedir um cessar-fogo no país bombardeado diariamente por Israel há quase uma semana. Jorge Bergoglio também mencionou a guerra na Faixa de Gaza, pedindo a libertação dos reféns mantidos pelo grupo Hamas no enclave e ajuda humanitária à população palestina vítima de um rígido cerco israelense.

(RFI e Reuters)

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