Oposição venezuelana volta às ruas de Caracas dois meses após reeleição de Maduro
Dois meses depois da contestada reeleição do presidente venezuelano Nicolás Maduro, uma nova manifestação está prevista em Caracas neste sábado (28). A mobilização foi convocada pela líder da oposição, Maria Corina Machado, que vive na clandestinidade diante da repressão instaurada no país.
Com informações de Alice Campaignolle, correspondente da RFI em Caracas, e da AFP
O protesto foi convocado pelas redes sociais, com o objetivo de contestar a permanência de Maduro no poder, mas também exigir que o ex-candidato Edmundo Gonzalez Urrutia, exilado na Espanha, seja considerado o vencedor das eleições de 28 de julho. Maria Corina Machado também fez um apelo por uma mobilização mundial, para que cidadãos se reúnam nas cidades onde vivem, em todo o mundo, para cantar o hino nacional venezuelano e divulgar as manifestações na internet.
Essa é a primeira mobilização desde que Urrutia se exilou na Espanha. A saída do opositor da Venezuela foi um golpe duro para o movimento contra Nicolás Maduro. Segundo especialistas, o exílio dificulta o diálogo com o governo venezuelano sobre a autenticidade da contestada eleição. Já Urrutia alega ter deixado o país sob ameaças de morte.
O anúncio da vitória do líder chavista desencadeou protestos que deixaram 27 mortos, quase 200 feridos e mais de 2 mil detidos, segundo números oficiais. Por isso, as manifestações deste sábado também devem pedir a libertação de presos. De acordo com fontes oficiais, 2.400 pessoas já foram detidas durantes os atos que chacoalharam o país.
Entre os 100 detidos menores de idade, também acusados de terrorismo, 86 já foram libertados. Na quinta-feira (26) uma manifestação foi realizada para pedir a libertação de jovens que ainda se encontram em prisões. Familiares afirmam que muitos deles foram torturados.
Vitória de Urrutia
Em uma entrevista à agência AFP na sexta-feira, a opositora de 56 anos insistiu na vitória de Urrutia: "ninguém tem dúvida de que ele ganhou", disse Maria Corina Machado. Para ela, a permanência de Maduro no poder "é insustentável".
"O regime está absolutamente deslegitimado (...) é um pária em nível internacional", afirmou por meio de uma entrevista de vídeo, realizada de um local secreto. "Maduro tenta transmitir aos apoiadores que lhe restam que a situação vai se estabilizar, que o mundo vai virar a página e que os venezuelanos vão se calar. Isso não vai acontecer. Este sistema é inviável financeiramente, diplomaticamente, e, o mais importante, socialmente", reiterou.
Maria Corina Machado lembrou que dezenas de líderes da oposição foram detidos, somando-se aos mais de 2.400 presos e acusados de terrorismo por participação em protestos após o anúncio dos resultados. "Foram muitos meses em contato com milhares de pessoas o tempo todo, ouvindo-as, abraçando-as, beijando-as e, de repente, não temos contato direto há semanas", descreveu a opositora.
Apesar de uma frágil situação da oposição, ela segue confiante em reverter a situação. "O que Maduro tem hoje? Noventa por cento de um país contra ele, 90% de um país que quer mudança. A única coisa que lhe resta é a violência e semear o terror", aponta.
Em 10 de janeiro, dia da cerimônia de posse em Caracas, "Edmundo González Urrutia deve prestar juramento como presidente", martela María Corina Machado. A líder da oposição descarta uma cerimônia simbólica no exterior: "Isso não existe, ele vai prestar juramento na Venezuela".
Dois meses de crise política
A Venezuela mergulhou em uma nova e grave crise política desde o anúncio dos resultados da eleição. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), Maduro venceu o segundo turno do pleito com 52% dos votos. Já a oposição se apoia na cópia de 80% das atas de votação, que afirma provarem a vitória de González Urrutia, que substituiu María Corina Machado após a sua inabilitação.
No plano diplomático, cerca de 30 países, liderados pelos Estados Unidos e pela Argentina, pediram na quinta-feira (26) que o governo venezuelano inicie negociações "construtivas e inclusivas" para uma "transição com garantias" para resolver a crise política e "restaurar as instituições democráticas pacificamente".
Os países também pedem o fim da "repressão generalizada" contra a oposição e dos "abusos e violações dos direitos humanos" após a vitória de Maduro.