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Oposição venezuelana volta às ruas de Caracas dois meses após reeleição de Maduro

28/09/2024 12h22

Dois meses depois da contestada reeleição do presidente venezuelano Nicolás Maduro, uma nova manifestação está prevista em Caracas neste sábado (28). A mobilização foi convocada pela líder da oposição, Maria Corina Machado, que vive na clandestinidade diante da repressão instaurada no país.

 

Com informações de Alice Campaignolle, correspondente da RFI em Caracas, e da AFP

O protesto foi convocado pelas redes sociais, com o objetivo de contestar a permanência de Maduro no poder, mas também exigir que o ex-candidato Edmundo Gonzalez Urrutia, exilado na Espanha, seja considerado o vencedor das eleições de 28 de julho. Maria Corina Machado também fez um apelo por uma mobilização mundial, para que cidadãos se reúnam nas cidades onde vivem, em todo o mundo, para cantar o hino nacional venezuelano e divulgar as manifestações na internet.

Essa é a primeira mobilização desde que Urrutia se exilou na Espanha. A saída do opositor da Venezuela foi um golpe duro para o movimento contra Nicolás Maduro. Segundo especialistas, o exílio dificulta o diálogo com o governo venezuelano sobre a autenticidade da contestada eleição. Já Urrutia alega ter deixado o país sob ameaças de morte.

O anúncio da vitória do líder chavista desencadeou protestos que deixaram 27 mortos, quase 200 feridos e mais de 2 mil detidos, segundo números oficiais. Por isso, as manifestações deste sábado também devem pedir a libertação de presos. De acordo com fontes oficiais, 2.400 pessoas já foram detidas durantes os atos que chacoalharam o país.

Entre os 100 detidos menores de idade, também acusados de terrorismo, 86 já foram libertados. Na quinta-feira (26) uma manifestação foi realizada para pedir a libertação de jovens que ainda se encontram em prisões. Familiares afirmam que muitos deles foram torturados.

Vitória de Urrutia

Em uma entrevista à agência AFP na sexta-feira, a opositora de 56 anos insistiu na vitória de Urrutia: "ninguém tem dúvida de que ele ganhou", disse Maria Corina Machado. Para ela, a permanência de Maduro no poder "é insustentável". 

"O regime está absolutamente deslegitimado (...) é um pária em nível internacional", afirmou por meio de uma entrevista de vídeo, realizada de um local secreto. "Maduro tenta transmitir aos apoiadores que lhe restam que a situação vai se estabilizar, que o mundo vai virar a página e que os venezuelanos vão se calar. Isso não vai acontecer. Este sistema é inviável financeiramente, diplomaticamente, e, o mais importante, socialmente", reiterou.

Maria Corina Machado lembrou que dezenas de líderes da oposição foram detidos, somando-se aos mais de 2.400 presos e acusados de terrorismo por participação em protestos após o anúncio dos resultados. "Foram muitos meses em contato com milhares de pessoas o tempo todo, ouvindo-as, abraçando-as, beijando-as e, de repente, não temos contato direto há semanas", descreveu a opositora.

Apesar de uma frágil situação da oposição, ela segue confiante em reverter a situação. "O que Maduro tem hoje? Noventa por cento de um país contra ele, 90% de um país que quer mudança. A única coisa que lhe resta é a violência e semear o terror", aponta.

Em 10 de janeiro, dia da cerimônia de posse em Caracas, "Edmundo González Urrutia deve prestar juramento como presidente", martela María Corina Machado. A líder da oposição descarta uma cerimônia simbólica no exterior: "Isso não existe, ele vai prestar juramento na Venezuela". 

Dois meses de crise política

A Venezuela mergulhou em uma nova e grave crise política desde o anúncio dos resultados da eleição. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), Maduro venceu o segundo turno do pleito com 52% dos votos. Já a oposição se apoia na cópia de 80% das atas de votação, que afirma provarem a vitória de González Urrutia, que substituiu María Corina Machado após a sua inabilitação.

No plano diplomático, cerca de 30 países, liderados pelos Estados Unidos e pela Argentina, pediram na quinta-feira (26) que o governo venezuelano inicie negociações "construtivas e inclusivas" para uma "transição com garantias" para resolver a crise política e "restaurar as instituições democráticas pacificamente".

Os países também pedem o fim da "repressão generalizada" contra a oposição e dos "abusos e violações dos direitos humanos" após a vitória de Maduro. 

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