Nomes do alto escalão da gestão Bolsonaro patinam em eleições para prefeito
Três candidatos que fizeram parte do alto escalão do governo do Bolsonaro patinam nas pesquisas de opinião, na reta final das eleições municipais.
O que aconteceu
Alexandre Ramagem, Marcelo Queiroga e "ministro sanfoneiro" não devem ir para o segundo turno. As pesquisas de intenção de voto mostram Ramagem, no Rio, Queiroga, em João Pessoa, e Gilson Machado, no Recife, distante de seus adversários.
Baixa competitividade expõe dificuldade de apadrinhados de Bolsonaro repetirem o desempenho de 2022. Nas eleições para o Congresso Federal e para governador, ao menos 12 expoentes do governo anterior surfaram na onda do bolsonarismo e conquistaram algum cargo nas eleições daquele ano.
Ramagem é a aposta do PL no Rio e contou com a presença de Bolsonaro em atos de sua campanha. O ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) aparece em segundo lugar nas pesquisas, distante do atual prefeito Eduardo Paes (PSD) — o bolsonarista ficou com 17% das intenções de voto contra 59% de Paes, segundo o último Datafolha.
Em Recife e João Pessoa, ex-ministro de Turismo e ex-titular da Saúde estão na faixa de 10% dos votos. Na capital pernambucana, Machado, que ficou conhecido por tocar sanfona nas lives semanais de Bolsonaro, registrou 9% no último Datafolha. Em João Pessoa, Queiroga tem 11% dos votos, segundo pesquisa Quaest de 17 de setembro.
Contexto de eleições municipais é outro
Bolsonaro fora da Presidência e sem disputar novo cargo enfraquece candidatura de bolsonaristas, afirma especialista. "Pesa a questão de que ele não está mais no poder. Quando você não exerce mais nenhum cargo, o fato de colocar um candidato não tem mais tanto efeito", diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
Em 2022, Bolsonaro elegeu ao menos 12 expoentes de sua antiga gestão. Entre os destaques, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro da Infraestrutura e venceu Fernando Haddad (PT) no 2º turno da disputa pelo governo do estado de São Paulo, além de nomes como os de Damares Alves, Marcos Pontes e Hamilton Mourão para o Senado, e Ricardo Salles e Eduardo Pazuello para a Câmara.
Contexto local das cidades também tiram poder de influência do ex-presidente. Para Consentino, questões mais cotidianas, como a zeladoria das cidades e nomes com mais força regional, são fatores mais determinantes para os eleitores escolherem em quem votar.
A população eleitor considera mais a dinâmica do próprio município, com preocupações mais locais. O Rio de Janeiro é um exemplo disso. O Eduardo Paes é uma liderança forte na cidade e conseguiu formar uma coligação ampla que supera a força de Bolsonaro.
Leandro Consentino, cientista político
Condenação no TSE é outro fator que põe Bolsonaro na posição de carta fora do baralho. O ex-presidente foi declarado inelegível até 2030 por convocar uma reunião com embaixadores transmitida pela TV Brasil para fazer ataques às urnas eletrônicas.
"Vemos muito mais os candidatos a prefeito associando suas imagens aos governadores", diz pesquisador. Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP, cita o exemplo de Ricardo Nunes (MDB). O prefeito de São Paulo tenta a reeleição e não faz parte do governo Bolsonaro, mas tem o apoio do ex-presidente e conta a presença maior de Tarcísio na campanha.
Tarcísio participou de 13 de agendas de campanha de Nunes, e Bolsonaro apareceu em vídeo em uma. Entre os compromissos que o governador foi estão caminhadas por comércios, encontros com empresários e entidades de classe e reuniões políticas. O ex-presidente, por outro lado, só participou virtualmente de uma — Bolsonaro também não gravou para o programa eleitoral de Nunes e ainda não há data para que isso ocorra.
O que dizem os especialistas
Se comparamos com 2022, o Bolsonaro estava muito mais engajado na própria candidatura, porque o nome dele aparecia. Isso, de alguma forma, fortaleceu o voto em dobradinha, quando o eleitor votou nele para a Presidência e em outros nomes apoiados por ele para outros cargos. Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper
Nas eleições de 2022, o Bolsonaro ainda era candidato e ocorreu a simultaneidade por ele estar disputando a Presidência. Por isso, ele funcionou como cabo eleitoral, aparecia na campanha desses aliados e funcionava como um puxador de votos. O nome dele naquele momento estava em mais evidência. Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP