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Juscelino tenta eleger motorista para manter poder em cidade no Maranhão

Prefeita de Vitorino Freire, Luanna Rezende, com Fogoió e o ministro Juscelino Filho - Reprodução
Prefeita de Vitorino Freire, Luanna Rezende, com Fogoió e o ministro Juscelino Filho Imagem: Reprodução
do UOL

Do UOL, em Brasília

28/09/2024 05h30

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, tenta eleger o motorista da família, Ademar Alves Magalhães (União Brasil), como prefeito de Vitorino Freire (MA). O nome foi lançado para tentar manter o controle da cidade, já que a atual prefeita e irmã dele, Luanna Rezende (União Brasil), está no segundo mandato e não concorre.

O que aconteceu

Motorista era responsável por levar Juscelino Filho a festas e vaquejadas, segundo fontes ouvidas pelo UOL. Conhecido como Fogoió, ele era adversário político da família Rezende e passou a ser aliado de primeira hora após seus irmãos se aproximarem de Juscelino Rezende, o pai do ministro. Durante a adolescência do ministro, Fogoió foi incumbido de levá-lo a eventos sociais e fazer sua segurança na cidade do interior do Maranhão (a cerca de 300 km de São Luís).

Fogoió entrou para o funcionalismo público em 2004. Ele ficou como motorista na Prefeitura de Vitorino Freire de março de 2004 a fevereiro de 2019. De 2015 a 2019, foi contratado como secretário parlamentar no gabinete do então deputado federal Juscelino Filho.

Cargo permite que ele desempenhe a função em Brasília ou no estado do parlamentar. Fogoió ficava no Maranhão e era motorista de Juscelino, com salário bruto inicial de R$ 10,5 mil. Em 2019, o rendimento chegou a R$ 15,6 mil, segundo o site da Câmara dos Deputados.

Segundo a assessoria do ministro das Comunicações e da Prefeitura de Vitorino Freire, Fogoió não foi remunerado pelo município no período em que foi funcionário da Câmara. A informação consta no Portal da Transparência do município somente de 2018 a 2019. O UOL solicitou uma certidão dos anos anteriores e não obteve resposta até a publicação deste texto.

De motorista de Juscelino a prefeito

A sucessão de Luanna na prefeitura começou a ser construída com a nomeação de Fogoió para secretário de Infraestrutura e Transportes, em 2023. De acordo com a CNM (Confederação Nacional dos Municípios), não há restrições quanto à formação da pessoa para assumir a posição, já que é um cargo de confiança do gestor da cidade. Portanto, uma pessoa sem experiência na área ou sem curso superior pode exercer a função de secretário municipal de qualquer pasta ao gosto do prefeito.

Na reeleição da Luanna, pegaram o Fogoió, que ficava em São Luís, para ficar com a Luanna em Vitorino. Aqui no Maranhão está cheio de ilhas políticas em que o pessoal coloca a mulher numa cidade, o motorista na outra.
Stenio Rezende, ex-deputado estadual e tio de Juscelino Filho

Cidade têm 3 candidatos a prefeito. Além de Fogoió, disputam o comando da cidade: Cyreno Rezende (PSB), vereador e tio de Juscelino, e Ribamar Filho (Agir).

Cyreno entrou na disputa após Juscelino e Luanna optarem por lançar Fogoió. Ele tem o apoio de parte do clã familiar. Stenio, outro tio de Juscelino, contou ao UOL que recebeu a indicação do motorista com "muita surpresa".

Nós temos uma história na política de Vitorino e, alguns anos atrás, nos unimos com todos os aliados e lançamos o Juscelino para deputado federal. Ele cresceu em Brasília junto ao centrão, só que eu não sei direito se ele estava preparado para tanto poder. Antes de chegar ao ministério, ele era mais próximo. Ele mudou muito depois do ministério, passou a achar que o poder e dinheiro são tudo. Somos 13 irmãos e tem 12 apoiando o meu irmão, apoiando o Cyreno.
Stenio Rezende, ex-deputado estadual e tio de Juscelino Filho

Por outro lado, Fogoió conta com o apoio dos vereadores da cidade. A assessoria de imprensa da prefeita informou ao UOL que o candidato tem 12 dos 13 vereadores de Vitorino Freire como cabos eleitorais.

Dos 13 parlamentares da Câmara Municipal, nove são do União Brasil, mesmo partido do candidato, de Luanna e de Juscelino Filho. Já a assessoria do ministro negou que a escolha tenha partido de uma relação pessoal. "O apoio a Fogoió como candidato a prefeito de Vitorino Freire considera a conjuntura política na cidade e não possui caráter pessoal", afirma.

A escolha de Fogoió como candidato a prefeito não é uma decisão isolada da prefeita Luanna Rezende, mas conta com o apoio de 12 dos 13 vereadores da cidade, refletindo uma frente ampla, sólida e unida em torno de sua candidatura. Esse respaldo evidencia a confiança e o alinhamento político em prol de seu nome.
Trecho da nota enviada pela assessoria da prefeita

Magoado, Stenio afirmou ao UOL que Juscelino não conversou sobre a indicação de Fogoió. "Ele nunca chegou para mim e disse: 'Tio, como vamos fazer?'. Ele simplesmente bota e impõe."

Agora todo mundo que faz essas coisas tem as suas desculpas para justificar para a sociedade. Eu que sempre tive o maior carinho por eles, não conhecia o Juscelino com o poder. Ele se revelou um sobrinho perverso, malvado e ditador, que passa por cima de qualquer um. Se revelou um traidor, ele traiu o Rodrigo Maia, que comprou brigas por ele, mas, quando precisou, ele [Juscelino] pulou fora para ficar do lado do [Arthur] Lira [presidente da Câmara dos Deputados].
Stenio Rezende, ex-deputado estadual e tio de Juscelino Filho

Cyreno pediu a impugnação da candidatura de Fogoió por possível falsificação da declaração escolar. A campanha do vereador argumentou que o documento emitido no Centro Social e Comunitário, em São Luís, para atestar que Fogoió cursou e concluiu o ensino fundamental na modalidade jovens e adultos era falso. A Justiça Eleitoral, no entanto, aceitou a carteira de habilitação como segunda comprovação de alfabetização do ex-secretário municipal.

Vitorino dos Juscelino: uma cidade para chamar de sua

A história da família Rezende em Vitorino Freire começou na década de 1970. O avô de Luanna e Juscelino foi vereador e presidente da Câmara Municipal. Depois, Juscelino, o pai, comandou a cidade por dois mandatos consecutivos.

Prefeita tem um bairro e um haras com seu nome na cidade. Quando era criança, Juscelino Rezende batizou uma das regiões da cidade com o nome da filha. Anos depois, o município ganhou o Parque Haras Luanna, que realiza vaquejadas com cavalos de raça. A empresa responsável pelo haras estava no nome do ministro e foi encerrada em março de 2023, após entrar na mira da Polícia Federal por suspeitas de irregularidades com dinheiro público.

Juscelino foi indiciado por irregularidades com emendas parlamentares. O ministro das Comunicações foi apontado pela PF como suspeito de integrar uma organização criminosa e de cometer crimes de corrupção passiva por desvios de verbas destinadas para pavimentação de ruas com dinheiro da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). As suspeitas envolvem obras em Vitorino Freire custeadas com emendas parlamentares indicadas pelo ministro quando exercia o mandato de deputado federal.

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