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"Maturidade é poder usufruir do que plantei", diz Tânia Alves, atriz de Senhoritas, em Biarritz

27/09/2024 10h47

Serão apresentados nesta sexta-feira (27) os vencedores da 33ª edição do festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Entre os filmes brasileiros exibidos no tradicional evento, no sudoeste da França, está o longa-metragem Senhoritas. A estreia na ficção da diretora Mikaela Plotkin oferece uma abordagem diferente do envelhecimento, trazendo temas ainda considerados tabus, como a sexualidade entre adultos maduros.

Serão apresentados nesta sexta-feira (27) os vencedores da 33ª edição do festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Entre os filmes brasileiros exibidos no tradicional evento, no sudoeste da França, está o longa-metragem Senhoritas. A estreia na ficção da diretora Mikaela Plotkin oferece uma abordagem diferente do envelhecimento, trazendo temas ainda considerados tabus, como a sexualidade entre adultos maduros.

Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz

Com personagens femininas, Senhoritas mostra como a maturidade pode ser leve, divertida e apaixonada. A produção, que tem a atriz Tânia Alves como uma das estrelas principais, apresenta a terceira idade não como o início do fim, mas como um momento de viver plenamente tudo o que a vida oferece.

"É uma história muito interessante, muito ousada e instigante, que trata do encontro de duas amigas que não se veem há muito tempo e se reencontram já como senhoras maduras", conta a atriz, em entrevista à RFI Brasil, em Biarritz. "Uma delas tem um neto e a outra viaja para fora, passa um tempo na Argentina e em várias partes do mundo, e volta para Pernambuco com saudade da amiga, querendo vê-la", continua Tânia Alves.

"Trata de vários assuntos sobre envelhecimento e sobre padrões e crenças que as mulheres maduras têm sobre envelhecer", completa a atriz, que veio à França para a estreia mundial do filme.  

Rodado nas cidades de Recife, Olinda e Cabo de Santo Agostinho, Senhoritas acompanha Lívia, uma arquiteta aposentada de 70 anos que cuida da casa e da neta. A chegada de Luci, uma amiga de juventude com uma personalidade vibrante (personagem de Tânia Alves), abala a sua rotina. Com a inesperada visita, Lívia resgata a sua vitalidade e confronta desejos adormecidos, embarcando em uma jornada de autodescoberta e de liberdade feminina. 

"Trata da libertação de uma mulher que fica adulta, que se casa, tem filhos e netos e que percebe que pode continuar a ter a sua sexualidade, que é uma coisa muito importante para a saúde, para a qualidade de vida da pessoa", destaca Tânia Alves.

Aos 75 anos, a atriz comenta sobre como vive a maturidade. "Para mim é maravilhoso, porque na minha infância e adolescência, eu sofri muito, já que vim de uma família disfuncional e tive cinco maridos", relata. "Então, para mim, a maturidade significa que eu me sinto livre para ser eu mesma, não só a esposa de alguém" diz. "Eu quero o meu sexto marido, devo deixar bem claro aqui para todos. Mas houve um momento em que eu percebi que eu tinha que pensar em mim primeiro", explica.  

"Diva"

Em 50 anos de carreira como atriz e cantora, além de empresária no spa Maria Bonita, no Rio de Janeiro, Tânia Alves conta que tem uma agenda atribulada, mas que nesta fase tem colhido os frutos de todo o seu trabalho. "Estar madura nesse momento e estar num patamar onde tem essas homenagens todas, onde as pessoas já se referem a mim como ícone, diva, e chegar até aqui viva e com força física para poder usufruir de tudo que eu plantei é uma delícia", avalia. 

Para Tânia, estar em Biarritz para apresentar esse novo trabalho é a realização de um sonho. "Eu sou uma pessoa de mar. Estar aqui neste ambiente tão gostoso, tão praiano, é viver um sonho, é estar num paraíso, num lugar maravilhoso e com tantas emoções em relação a uma obra da qual eu participei", afirma.  

Em entrevista à RFI Brasil, a diretora Mikaela Plotkin explicou que o filme Senhoritas nasceu há dez anos, quando ela, então uma jovem adulta, admirava as próprias avós. "As mulheres mais velhas eram muito mais livres do que eu, que estudava, trabalhava e não tinha tempo e nem dinheiro, enquanto elas já tinham liberdade, tempo e maturidade para viver", completa. "Comecei a investigar muito essas personagens e daí nasceu o Senhoritas. É uma história que toma a velhice não como um momento de desaceleração, muito pelo contrário, mas como um momento de renovação, de pulsão de vida, como uma segunda adolescência", diz.  

Plotkin acredita que a sexualidade na velhice ainda é um grande tabu - como mostrou a edição das três cenas de sexo no filme. "Lembro que, durante a edição, era incômodo pra muita gente, era estranho. Mas é justamente sobre esse estranhamento que eu quero tratar. "É a naturalização da sexualidade na idade madura que o filme propõe", ressalta.

"Eu penso muito na representação da mulher no cinema e sinto que é importante representar esses corpos gozando, desfrutando da sua sexualidade para que isso se torne natural e estimule outras mulheres e pessoas maduras a viverem isso fluidamente", continua a diretora.  

Carta para o futuro

Mikaela Plotkin explica que escolheu Tânia Alves para o papel justamente pela necessidade de que a personagem Luci fosse "uma mulher encantadora, avassaladora", e que o olhar da antiga amiga convidasse Lívia a olhar sobre si mesma.  

"Eu sempre digo que o filme é uma carta para o meu eu do futuro e eu quero prometer para mim mesma que eu não vou me esquecer da minha sexualidade. É um filme que conecta muito com mulheres de todas as idades e com jovens de todas as idades, porque é uma forma de a gente se projetar e, ao mesmo tempo, enxergar que, muitas vezes, na nossa idade, a gente já está se privando e encaixando em tradicionalismos desnecessários", conclui. 

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