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Único cabo eleitoral da esquerda, Lula tem presença tímida no 1º turno

O presidente Lula (PT) no comício do candidato a prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), na zona leste - Adriano Vizoni/Folhapres
O presidente Lula (PT) no comício do candidato a prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), na zona leste Imagem: Adriano Vizoni/Folhapres
do UOL

Do UOL, em Brasília

27/09/2024 05h30

O presidente Lula (PT) teve uma presença tímida no primeiro turno das eleições municipais neste ano.

O que aconteceu

Único cabo eleitoral nacional da esquerda, sua falta foi sentida pelos candidatos de sua base. A expectativa já era que Lula só fizesse atos de campanha "fora do expediente" (ou seja, nas noites de dias úteis e aos finais de semana), mas se desejava que participasse mais ativamente.

Lula centrou fogo em apenas três cidades, onde foi fisicamente. Neste final de semana, ele teria mais agendas, mas foram canceladas de última hora. De resto, apenas gravou vídeos e tirou foto com candidatos pelo país.

O Planalto não comenta o que chama de compromissos pessoais, mas pessoas próximas elencam três motivos: agenda corrida, ciúmes entre candidatos e evitar o excesso de exposição.

Poucas participações

Lula só participou de atos eleitorais em São Paulo, São Bernardo do Campo (SP) e Fortaleza. Cada uma por um motivo específico, mas era esperado, tanto pelos partidos da base quantos pelos candidatos, que ele viajasse um pouco mais.

São Paulo foi o único lugar onde ele foi mais de uma vez. Lula participou do lançamento da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e dedicou o último final de semana de agosto a ele, com dois comícios no sábado (24) e a gravação de um programa eleitoral na casa do psolista, na zona sul, no domingo (25).

Mesmo compondo apenas com a vice, Marta Suplicy, a capital paulista é prioridade para o PT. Mais do que uma antessala de 2026, quando Lula deverá tentar a reeleição, reconquistar a cidade que comandou três vezes seria uma demonstração de força para o partido, que já admite que não terá um grande resultado no pleito nacionalmente.

Deverá ser também a última cidade em que Lula fará um ato, no sábado (5), véspera da eleição. Está prevista uma caminhada do presidente com Boulos pelo centro da capital. Ele iria ainda neste final de semana, mas cancelou para evitar ainda mais rusgas e mais exposição.

Retomar São Bernardo é uma questão pessoal para o presidente. Seu reduto eleitoral, onde surgiu com o Sindicato dos Metalúrgicos, foi o local escolhido para iniciar os eventos eleitorais, na convenção do deputado Luiz Fernando (PT). A última vez que o PT administrou São Bernardo foi em 2016, com Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho.

Um dos planos do PT para este ano é se fortalecer na Grande São Paulo. Hoje, a sigla só comanda dois dos 39 municípios da região metropolitana. Além de Fernando, o partido escalou o deputado federal Alencar Santana em Guarulhos e o deputado estadual Emídio de Sousa em Osasco e conta com a reeleição de José Filippi em Diadema.

Fortaleza é a maior cidade em que o PT tem candidato próprio. Capital de um estado governado pelo partido desde 2015, o projeto é fazer com o deputado estadual Evandro Leitão (PT) o que a aliança entre Lula, o ex-governador Camilo Santana (PT) e o senador Cid Gomes (PSB) fez com o governador Elmano de Freitas (PT), eleito em 2022 no primeiro turno.

Desejos frustrados

Os candidatos esperavam mais. Com nomes próprios em 13 capitais, petistas ansiavam —e brigavam— pela participação presencial do presidente. Em Porto Alegre, a deputada Maria do Rosário (PT) deve ir para o segundo turno contra o prefeito Sebastião Mello (MDB). O mesmo deve acontecer com o deputado estadual Fábio Novo (PT) em Teresina. Em Natal, a também deputada Natália Bonavides (PT) busca uma vaga no segundo turno.

O argumento é que Lula pode mudar a trajetória de uma eleição, seja pela participação popular, seja pela arrecadação de dinheiro, seja para mostrar a força da candidatura. Publicamente, os candidatos não reclamam, mas o PT também não esconde que se esperava mais.

Lula ser o único cabo eleitoral da esquerda a nível nacional é outro problema. Diferentemente da direita, que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu filho Eduardo Bolsonaro (PL), o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), entre outros, a esquerda carece de figuras que possam rodar o país pedindo votos.

No PT, há lideranças regionais. A presença do ministro e ex-governador Wellington Dias é disputada no Piauí, assim como Camilo no Ceará e o também ministro e ex-governador Rui Costa na Bahia, junto ao senador Jaques Wagner (PT-BA). Mas nenhum deles puxa voto em outras regiões.

Chegou-se a se planejar a presença da primeira-dama Janja da Silva nas cidades com candidaturas femininas. Como faz a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com eventos do PL, Janja subiria nos palanques de mulheres, em especial em cidades em que já não estava prevista a presença de Lula, como Campo Grande e Aracaju. A ideia não foi para a frente.

Agenda, ciúmes e exposição

Lula tem alegado uma agenda corrida. Essa foi a desculpa dada à campanha de Boulos —com uma viagem ao México— para cancelar a ida a São Paulo neste final de semana e tem sido a justificativa em geral. Além dos eventos em Brasília, o presidente tem viajado pelo país para inaugurar obras e ido a eventos internacionais, como a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta semana.

Nos bastidores, falam, no entanto, em evitar rusgas e excesso de exposição. Como o UOL mostrou, as poucas idas de Lula têm gerado reclamações e ciúmes nacionais entre petistas e base. Partidos aliados também se incomodam com a atenção dada ao PSOL.

Lula tem falado que a prioridade é o Planalto. Como passou a seus ministros, ele quer tentar evitar que qualquer rusga eleitoral acabe resvalando no governo, composto por dez partidos, que ainda tem dois anos e uma reeleição pela frente.

Por isso, aliados aconselham evitar exposição indevida. Ao mergulhar de cabeça em uma eleição, como fez em São Paulo, ele acaba trazendo igualmente os revezes para a sua imagem, em caso de derrota, como já começa a pesar para o PT.

Ao trazer a eleição para si, uma derrota de Boulos vira, também, uma derrota sua. No caso da capital paulista, há o agravante que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é não só o nome de Bolsonaro como o do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado a concorrer contra Lula em 2026.

2026 é logo ali, dizem. Da mesma forma que um aumento no número de prefeituras petistas —que em 2020 pela primeira vez não conquistou nenhuma capital— fortalece o presidente, uma sucessão de fracassos com o seu rosto o enfraquece.

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