Em 20 anos, festival de documentários Brésil en Mouvements "mudou o olhar" sobre o Brasil na França
Um dos mais importantes festivais de documentários sobre o Brasil na Europa está completando 20 anos. O festival Brésils em Mouvements (Brasil em Movimentos), fundado por Érika Campelo, começa neste sábado (28) e apresenta até o próximo domingo (06/10) curtas, longas-metragens e debates sobre as questões sociais, políticas, culturais e as lutas da sociedade brasileira contemporânea.
A RFI viu nascer e acompanhou durante esses 20 anos cada edição do festival militante, que sempre escolheu o "seu campo", afirma Érika Campelo, presidente da associação Autres Brésils, que organiza o "Brésil en Mouvements".
"O mundo contemporâneo, nossa época, pede essa escolha de campo, não para polarizar o debate porque isso é uma das ferramentas que a extrema direita usa para não nos deixar dialogar", aponta. O campo do Brasil em Movimentos é "um campo democrático, progressista, de como a gente faz sociedade e democracia juntos", define.
Programação
A programação dessa edição do aniversário de 20 anos do festival espelha essa escolha. São quase 15 curtas e longas-metragens, muitos deles inéditos, de cineastas confirmados ou novos talentos.
Entre os destaques da programação, Érika Campelo ressalta dois eixos: a questão ambiental e indígena, representada pelos filmes "A Transformação de Canuto", codirigido por Airel Kuaray e Ernesto de Carvalho, e "A Queda do Céu", codirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha; e os 40 anos do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), com o filme "Aucun homme n'est né pour être piétiné" (Nenhum homem nasceu para ser pisoteado), codirigido por Narimane Baba Aïssa e Lucas Roxo.
Outras temáticas abordadas são os 60 anos do Golpe Militar no Brasil", o direito ao aborto, violência policial e a polarização política atual.
Pré-festival
O "Brasil em Movimentos" acontece tradicionalmente no cinema "Les 7 Parnassiens", no bairro de Montparnasse, em Paris, mas este ano a grande novidade é a realização do evento em 2 cinemas diferentes. "Não tem pré-carnaval? Para essa edição de 20 anos, a gente decidiu fazer um pré-festival", brinca, completando que nada melhor do que dois cinemas "para destacar a riqueza do documentário brasileiro".
A edição 2024 começa neste sábado e domingo no cinema L'Écran, de Saint-Denis (periferia parisiense), com a exibição, entre outros, do excelente "Viajo porque preciso, volto porque te amo". A exibição contará com a presença do codiretor Marcelo Gomes. No cinema "Les 7 Parnassiens", os filmes serão apresentados de 3 a 6 de outubro.
"Dessa maneira, a gente comemora o aniversário. Se dar de presente dois cinemas é um privilégio e também uma maneira de ampliar o nosso público", espera. O festival tem um público cativo em Paris. No ano passado, o evento reuniu 1.200 pessoas.
Balanço
Brésil em Mouvements é um festival militante feito por militantes, na base do voluntariado e quase sem nenhum apoio institucional fixo. "É um festival participativo. Poderia ser um festival feito com menos sofrimento, mas a gente faz esse festival com muito amor, na garra e eu tenho que agradecer a toda equipe de voluntários e a todas as pessoas que passaram pelo festival. Graças a essas pessoas, o festival existe há 20 anos",
"Brésil en Mouvements" foi pioneiro na França e Érika Campelo acredita que o evento continua sendo o único exclusivamente dedicado ao documentário brasileiro no país. Ela festeja que nesses 20 anos "o público francês, europeu, conhece melhor o Brasil, a nossa diversidade, a nossa Riqueza através do festival".
Para comprovar essa mudança de olhar, a presidente da associação diz que as matérias feitas sobre o Brasil na imprensa francesa há 20 anos, são completamente diferentes das reportagens atuais. "Nós não fomos os únicos, mas a gente contribuiu bastante para essa mudança de olhar de como ver o Brasil ou ver o Brasil como também um laboratório de reflexão sobre questões sociais, sobre questões ambientais, o lugar e a importância dos povos indígenas, de toda a questão racial, das pessoas afrodescendentes, o debate sobre a escravidão e que lugar tem a escravidão ainda hoje na nossa sociedade brasileira, mas qual é esse lugar também aqui na sociedade francesa", salienta. "A França e o Brasil evoluíram, o público evoluiu e aprendemos muita coisa mutuamente", conclui.
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