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'Ricardo fez': propaganda de prefeito traz de volta o espírito malufista

Propaganda de Ricardo Nunes nestas eleições de 2024 - Reprodução/Redes sociais
Propaganda de Ricardo Nunes nestas eleições de 2024 Imagem: Reprodução/Redes sociais
do UOL

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

26/09/2024 13h23

Como já é tradição em época eleitoral, uma competição interna entre candidatos e candidatas é para saber quem tem a página mais descolada nas redes sociais —leia-se Instagram.

Até Ricardo Nunes (MDB), talvez o candidato mais cintura presa da eleição em São Paulo, já arriscou alguns passos de dança.

Outro dia mesmo resgatou o hit Gangnam Style, do sul-coreano Psy —sucesso em 2012, mas vá lá— e botou umas pessoas jovens e bonitas para rebolar em uma peça de campanha que conclamava a população a "Nunestar". Em ano de eleição, até trocadilho ruim é perdoado.

Mas quem olha com atenção a campanha do prefeito percebe o DNA novecentista no ar. Ativar os gatilhos do eleitor mais saudosista parece ser a busca do marqueteiro Duda Lima —isso quando ele não está ocupado trocando sopapo com algum segurança de Pablo Marçal.

Quer ver?

O slogan mais repetido do candidato à reeleição até aqui é "Ricardo fez, Ricardo faz". Geralmente acompanha imagens aéreas de obras ou números de fonte estourada para mostrar o lado, digamos, trabalhador do chefe do Executivo paulistano.

Lembra alguma coisa?

Propaganda de Paulo Maluf nas eleições de 1998, para o governo de São Paulo - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Propaganda de Paulo Maluf nas eleições de 1998, para o governo de São Paulo
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Era exatamente assim que Paulo Maluf se apresentava ao eleitor. São Paulo era Paulo porque Paulo era trabalhador. E se alguém colocasse a máquina pública para rodar direitinho, era possível mostrar um candidato empreendedor com uma fileira de obras públicas com o selo "Foi Maluf que fez".

A obra principal aqui não era nem do ex-prefeito, e sim do xará do atual marqueteiro de Nunes: o publicitário baiano Duda Mendonça.

A música "foi Maluf que fez" alçou Mendonça ao panteão dos magos eleitorais. E, antes de sair de cena, ele reaproveitaria a ideia em campanhas para Carlos Menem, na Argentina, e Marta Suplicy, uma das maiores adversárias do ex-cliente.

Hoje é a inspiração dos jovens marqueteiros.

Entre os candidatos deste ano, Nunes é quem tem o maior tempo de TV. E, segundo o chefe de seu partido, Baleia Rossi (MDB), a ideia de sua propaganda é usar todo esse latifúndio televisivo para dizer que o prefeito tem "realizações a exibir".

"Nós não temos o mesmo poder de outros candidatos nas redes sociais, mas agora, na TV, o Ricardo é o único que tem o que mostrar e isso deve impactar o eleitor", disse Rossi em entrevista à revista Veja.

A estratégia, para Maluf, funcionou até a segunda página.

Anos depois, muitas das obras exibidas com peito estufado na TV foram investigadas por suspeita de superfaturamento. E Maluf jamais conseguiu se desprender da fama de ex-prefeito que fazia. Mas roubava. Ou seria o contrário?

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