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Ex-boxeador é absolvido aos 88 anos no Japão após mais de 4 décadas no corredor da morte

26/09/2024 10h10

Iwao Hakamada, ex-boxeador japonês de 88 anos, condenado à morte em 1968 pelo assassinato de uma família de quatro pessoas, foi finalmente absolvido. Em 2014, ele foi libertado depois de passar 46 anos no corredor da morte, mas o caminho para a absolvição foi tortuoso. Nesta quinta-feira (26), a justiça declarou Iwao Hakamada inocente, e seus advogados pedem agora uma reforma do sistema judicial no Japão. Hakamada foi o prisioneiro no corredor da morte mais antigo do mundo até ser libertado.

O ex-boxeador japonês acusado de assassinar a família de seu chefe há 52 anos foi absolvido nesta quinta-feira após uma longa batalha judicial que determinou que as provas da acusação eram falsas. "O tribunal declara o réu inocente", disse o juiz Koshi Kunii do tribunal distrital de Shizuoka, a oeste de Tóquio.

Iwao Hakamada havia abandonado o boxe profissional enquanto trabalhava em uma fábrica de miso, uma pasta de soja usada na comida tradicional japonesa.

Uma noite, após um incêndio na casa do gerente da fábrica, foram encontrados os corpos do executivo, de sua esposa e de dois de seus filhos. Os corpos apresentavam sinais de terem sido esfaqueados repetidamente.

Hakamada, que morava no dormitório da fábrica e havia ajudado a apagar o incêndio com os vizinhos, foi preso como o principal suspeito. A principal prova, de acordo com a acusação, foi uma roupa manchada de sangue encontrada em um dos tanques de miso.

Hakamada foi interrogado dia e noite durante 20 dias. Foi espancado e impedido de dormir. No vigésimo dia, ele cedeu e assinou uma confissão, mas a retirou assim que o julgamento começou. O ex-boxeador diz que foi maltratado pela polícia. 

Mas, embora tenha se declarado inocente no julgamento, ele foi condenado à morte e passou quase meio século no corredor da morte antes que novas evidências levassem ao fim de sua prisão, em 2014. Testes genéticos e análises de DNA realizadas em roupas cobertas de sangue confirmaram que elas não correspondiam às do acusado.

O tribunal de Shizuoka concedeu-lhe um novo julgamento e um juiz reconheceu que era possível que as provas tivessem sido fabricadas pela polícia para condená-lo.

O ex-boxeador foi libertado, mas continuou condenado à morte e perdeu suas faculdades mentais. Uma pessoa condenada à morte no Japão permanece em uma pequena cela iluminada 24 horas por dia, sem contato com o mundo exterior.

Interrogatório considerado "desumano"

A decisão judicial desta quinta-feira fez alusão a confissões coagidas e interrogatórios "desumanos", reforçando a percepção popular de que o grande número de condenações que os promotores japoneses conseguem decorre de seus métodos de obter confissões. 

Por causa de sua saúde delicada, Hakamada não compareceu ao tribunal, mas sua irmã mais velha, Hideko, de 91 anos, estava na sala de audiência e se curvou várias vezes diante do juiz após ouvir sua decisão."Ganhamos uma absolvição, tudo graças ao seu apoio", disse a irmã ao sair da sala do tribunal, dirigindo-se ao público reunido, com lágrimas nos olhos e voz trêmula.

O caso, que começou em 1966, tornou-se um símbolo para os defensores da abolição da pena de morte no Japão, que são minoria, de acordo com as pesquisas. 

A promotoria tem duas semanas para recorrer, segundo a mídia local.

(Com informações de Gonzalo Robledo e Fréderic Charles, correspondentes da RFI em Tóquio)

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