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Escândalo de pedofilia na Igreja Católica deve marcar visita do papa Francisco à Bélgica

26/09/2024 06h22

O papa Francisco inicia nesta quinta-feira (26) uma visita de quatro dias à Luxemburgo e Bélgica, para a comemoração do 600º aniversário da Universidade Católica de Louvain. No entanto, o principal foco da visita papal deve ser o escândalo dos casos de pedofilia cometidos por membros do clero da Bélgica durante décadas.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

A viagem do papa Francisco começa na manhã desta quinta-feira em Luxemburgo, onde ele deve permanecer apenas por oito horas. Durante sua curta estada, o pontífice de 87 anos se reunirá com os dirigentes do país, assim como com a comunidade católica na Catedral de Notre Dame.

No início da noite, o papa Francisco desembarca em Bruxelas sob um forte esquema de segurança e cumprirá uma agenda de três dias na capital belga e nas cidades de Louvain e Louvain-la-Neuve. Na sexta-feira (27), ele será recebido pelo rei Philippe e a rainha Mathilde da Bélgica no Castelo de Laeken, residência oficial da família real belga, além do tradicional encontro com autoridades políticas e representantes da sociedade civil.

Durante a tarde, o argentino Jorge Bergoglio visita a Universidade Católica de Louvain (KU Leuven), a cerca de 26 km de Bruxelas, para um encontro com docentes e jovens refugiados. Logo depois, o papa segue para o centro histórico da cidade, em carro aberto, para saudar as 20 mil pessoas esperadas.

No sábado (28), o papa Francisco se encontra com membros do clero da Igreja belga, de institutos religiosos e agentes pastorais na Basílica do Coração de Jesus em Koekelberg. Está previsto a intervenção de um representante do centro de acolhimento para as vítimas de abusos sexuais; e na parte da tarde, o papa deve visitar a Universidade de Louvain-la-Neuve (UCL). A viagem se encerra no domingo (29), com a missa de beatificação da religiosa carmelita Ana de Jesus, no Estádio Rei Balduíno, onde é esperado um público de 35 mil pessoas.

Catolicismo em queda na Bélgica

Apesar da comemoração do 600º aniversário da Universidade Católica de Louvain, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, ressaltou que a visita a Luxemburgo e à Bélgica se trata de "uma viagem ao coração da Europa" que vai abordar os temas da paz, migração, cultura e mudanças climáticas.

O papa Francisco vai desembarcar em um país onde a comunidade católica tem diminuído bastante nos últimos anos. Segundo uma pesquisa recente feita pelo jornal Le Soir, apenas 43% dos belgas se consideram católicos, o que contradiz as estatísticas publicadas pela Santa Sé, que afirma que 72% da população do país é católica.

Há dois anos, o Relatório Anual da Igreja na Bélgica apontou que houve uma queda de 40% no número de pessoas que frequentam a missa dominical no país. Os sacramentos - batismo, casamentos e primeiras comunhões - também diminuíram de 15% a 21%. O cenário também é preocupante em relação ao clero, com uma perda de 33% no número de padres diocesanos ao longo de seis anos. Entre os sacerdotes religiosos a diminuição foi de 22%.

Combate à pedofilia cometida pela Igreja

Durante décadas, a Igreja belga encobriu os casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero da Bélgica. Em sua visita, o papa deve se reunir privadamente com 15 vítimas destas agressões. Este encontro em "absoluta discrição" será organizado pela conferência episcopal do país. A pedofilia dentro da Igreja da Bélgica é uma questão que ressurgiu no final do ano passado, depois da exibição de um documentário onde depoimentos de vítimas colidem com o silêncio da Igreja.

A primeira comissão parlamentar para investigar estes casos de abuso sexual registrou 327 queixas correspondentes aos últimos 60 anos, a maioria cometida nas décadas de 60 e 70. A Bélgica pretende lançar outra investigação em breve.

O grupo de vítimas de abusos sexuais por parte do clero católico na Bélgica deve pedir por carta ao papa que os casos sejam investigados e que se estabeleça um sistema de reparação e prevenção destas agressões em todo o mundo. Em março passado, o papa Francisco expulsou do sacerdócio o ex-bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, que admitiu ter abusado sexualmente de dois sobrinhos.

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