Topo
Notícias

Assassinato de jovem relança debate sobre expulsão de estrangeiros criminosos reincidentes na França

26/09/2024 10h27

O assassinato de Philippine, universitária francesa de 19 anos cujo corpo foi encontrado no último sábado (21), relança o debate sobre o cumprimento das Obrigações de Saída do Território Francês (OQTF), ordem judicial que determina que um estrangeiro não pode mais permanecer no país. O suspeito de cometer o crime é um marroquino condenado a cinco anos de prisão por estupro e que já não deveria mais estar em solo francês desde junho.

O corpo da jovem, estudante da respeitada Universidade de Paris-Dauphine, foi encontrado parcialmente enterrado no Bois de Boulogne, um enorme parque público no oeste de Paris. Philippine foi vista pela última vez na sexta-feira (20), no horário do almoço, na instituição que fica a poucos metros do parque. Uma investigação por estupro e homicídio está em curso.

O suposto autor do assassinato estava em situação irregular no território francês e foi detido enquanto fugia para a Suíça. O caso provoca uma forte polêmica no país, com políticos da direita e da esquerda criticando a "cadeia criminal e administrativa" francesa.

"Este crime é abominável", escreveu o novo ministro do Interior, o conservador Bruno Retailleau, que acabou de assumir o cargo. "Cabe a nós, funcionários públicos, recusarmos a ideia de uma fatalidade e melhorarmos o nosso arcabouço jurídico, para proteger os franceses", acrescentou.

Leia tambémAssociações francesas temem estigmatização de imigrantes após discurso linha dura do novo ministro

Extrema direita quer facilitar expulsões

As declarações vão ao encontro das posições do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), que anunciou a intenção de apresentar um projeto de lei para "facilitar a expulsão de estrangeiros que representam uma ameaça para França". O suspeito tinha sido condenado em 2021 por um estupro cometido em 2019 e aguardava os trâmites legais para ser expulso para o seu país de origem, o Marrocos.

"Um estrangeiro sob OQTF [Obrigação de Saída do Território Francês] deve passar da prisão para o avião, sem passar pela liberdade", disse a deputada do RN Edwige Diaz. "Muitos obstáculos legislativos tornam a expulsão de um estrangeiro delinquente inaplicável. Com este texto que levanta restrições, pretendemos expulsar sistematicamente qualquer estrangeiro que represente uma ameaça", indicou.

O suspeito foi reconhecido graças a imagens de câmeras de segurança do banco no qual efetuou um saque com o cartão da vítima e a comunicações telefônicas interceptadas pela polícia, especificou a promotoria. O marroquino foi detido na terça-feira (24) nos arredores de Genebra, na Suíça, onde permanece preso mediante "medida relativa aos direitos dos estrangeiros", declarou à AFP o porta-voz do Ministério da Justiça suíço, acrescentando que ele "foi identificado como suspeito de um homicídio cometido em Paris".

Menor de idade no primeiro estupro

A França tem agora 18 dias para apresentar um pedido de extradição ao país vizinho. O homem tem 22 anos e, quando cometeu o estupro pelo qual foi condenado, era menor de idade. Ele foi "libertado, no final da pena, em junho de 2024", segundo o Ministério Público de Paris.

Segundo uma fonte judicial francesa, ele não se beneficiou de liberdade condicional, mas de reduções automáticas que a lei ainda permitia no momento da sua condenação.

O homem foi libertado em 20 de junho e enviado para um centro de detenção administrativa em Metz, no leste da França, segundo uma fonte próxima do caso. Em 3 de setembro, um juiz francês validou a sua libertação do local, à condição que ele se apresentasse regularmente em uma delegacia, enquanto os trâmites para o seu retorno ao Marrocos não fossem finalizados.

Caso embaraça a esquerda

Em 4 de setembro, o país africano "emitiu a autorização de expulsão" às autoridades francesas, segundo a mesma fonte. Mas o suspeito já estava livre e havia desaparecido. Na véspera do assassinato, 19 de setembro, ele foi incluído no cadastro de procurados, por não respeitar sua obrigação de se apresentar, ainda segundo esta fonte.

O caso embaraça a esquerda, que tem preferido apontar as críticas para a aplicação da legislação existente no país.

"A OQTF teve que ser executada. Foi um problema ligado à resposta das autoridades marroquinas. Vamos parar de apontar para a lei quando, na verdade, o que há é uma questão de lentidão de um sistema", afirmou o deputado socialista Arthur Delaporte.

"Quando existem OQTFs, elas devem ser aplicadas. Mas a questão é também o número de OQTFs emitidas em França, que é o mais elevado da Europa", acrescenta o seu colega da Nova Frente Popular, o deputado de esquerda radical Antoine Léaument.

 

 

Notícias