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Julian Assange vai fazer primeiro discurso público no Conselho da Europa na próxima semana

25/09/2024 11h45

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, é esperado na próxima terça-feira (1°) em Estrasburgo, na França, onde deverá discursar no Conselho da Europa. Será a primeira vez que ele falará em público desde a sua libertação da prisão no Reino Unido, em junho.

Julian Assange, de 53 anos, deve viajar para Estrasburgo, no leste de França, no dia 1° de outubro, "para testemunhar perante a Comissão dos Assuntos Jurídicos e dos Direitos Humanos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa", após a publicação de um relatório investigativo sobre "as implicações da sua detenção e os seus efeitos mais amplos sobre os direitos humanos, em particular a liberdade de jornalismo", afirmou o WikiLeaks.

Num comunicado de imprensa, o Conselho da Europa confirmou a participação de Julian Assange em uma audiência dedicada à "sua detenção e condenação e a sua consequência para os direitos humanos".

A instituição tem se oposto constantemente à extradição de Julian Assange para os Estados Unidos, e um dos seus membros esteve com ele na prisão, em maio passado, no Reino Unido, pouco antes da sua libertação.

 A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa deverá debater este relatório de investigação no dia 2 de outubro.

"Primeiro testemunho oficial"

Esta audiência será o "primeiro testemunho oficial de Assange sobre o seu caso" desde a sua detenção pela polícia britânica em abril de 2019, depois de sete anos passados ??na embaixada do Equador, em Londres, para evitar a sua extradição para a Suécia numa investigação por estupro, arquivada no mesmo ano.

O australiano passou então cinco anos na prisão de alta segurança de Belmarsh (leste de Londres) lutando contra a extradição para os Estados Unidos, onde foi acusado de acordo com uma lei de espionagem de 1917.

Em 2010, Assange publicou na plataforma WikiLeaks mais de 700 mil documentos relativos às atividades militares e diplomáticas de Washington, particularmente no Iraque e no Afeganistão, o que lhe valeu ser apresentado como um defensor da liberdade de informação.

Estes documentos incluíam atividades militares e diplomáticas dos EUA, particularmente no Iraque e no Afeganistão, bem como relatos de execuções extrajudiciais e recolha de informações contra aliados.

"Ainda em recuperação"

Um acordo de confissão com o sistema de justiça americano permitiu-lhe finalmente, no final de junho, deixar o Reino Unido em direção a Saipan, um território americano no Pacífico, onde um juiz o condenou a uma pena de prisão que abrange a sua detenção provisória. Ele foi então libertado e voltou para a Austrália.

Assange não falou publicamente desde então, com sua esposa dizendo que ele precisava de privacidade e tempo para se recuperar.

"Julian Assange ainda está se recuperando após ser libertado da prisão", disse a organização na quarta-feira.

O grupo disse que Julian Assange compareceria pessoalmente à "sessão do Conselho da Europa devido à natureza excepcional do convite".

 

Pedido de perdão ameaçado?

"Era apenas uma questão de tempo até que ele levantasse a cabeça para falar publicamente sobre questões que lhe são importantes", disse Matthew Ricketson, professor de comunicações na Universidade Deakin, na Austrália. Mas vários especialistas jurídicos questionam a adequação do momento e do local.

O Conselho da Europa é uma organização internacional que reúne os 46 estados signatários da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que tem pouco poder sobre o destino judicial de Julian Assange.

Além disso, alguns especialistas acreditam que o discurso do australiano pode comprometer o seu pedido de perdão presidencial nos Estados Unidos.

Julian Assange "será inevitavelmente crítico em algum nível do governo dos EUA e não vejo isso como algo que possa ser considerado útil", disse à AFP Holly Cullen, professora de direito na Universidade da Austrália.

"Mesmo que ele pessoalmente pense que não se importa, seus assessores jurídicos podem dizer 'talvez você deva exercer um pouco mais de moderação até que a questão do perdão seja resolvida'", disse ele.

Chelsea Manning, a analista de inteligência militar dos EUA que forneceu os documentos a Julian Assange, teve a sua pena de 35 anos comutada pelo então presidente Barack Obama em 2017.

O caso Assange permanece profundamente controverso. Os apoiadores, que há muito apelam ao perdão presidencial total dos EUA, tratam Assange como um defensor da liberdade de expressão e do jornalismo investigativo, perseguido pelas autoridades e preso injustamente.

Já os contrários a ele consideram Assange como um blogger imprudente cuja decisão de publicar documentos altamente sensíveis colocou vidas em perigo e comprometeu seriamente a segurança dos Estados Unidos.

O presidente Joe Biden, que deverá conceder uma série de indultos antes de deixar o cargo em janeiro próximo, já chamou Julian Assange de "terrorista".

(Com AFP)

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