Topo
Notícias

Em encontro de eventos inéditos, Lula abre reunião de chanceleres do G20 no seu último dia em Nova York

25/09/2024 05h45

No último dia de sua agenda em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre a reunião de chanceleres do G20. Se tudo sair dentro do script, será um encontro cheio de símbolos e de ineditismos. Esta será a primeira vez que os ministros de Relações Exteriores das 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE) e União Africana se reúnem formalmente dentro do prédio das Nações Unidas, de onde farão um "Chamado à ação" por reformas dos organismos internacionais criados no pós-Segunda Guerra Mundial, entre eles a própria ONU.

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Brasília

A grande expectativa da presidência brasileira do G20 é o anúncio da declaração conjunta de chanceleres ao final do encontro, a primeira aprovada por consenso na história do bloco. Para o governo brasileiro, é um dos grandes resultados desta edição do G20. Esta é a segunda reunião de chanceleres este ano. Tradicionalmente, só se fazia uma.

O encontro inédito será carregado de símbolos. Não por acaso será aberto pelo presidente Lula. Ele quer conferir ainda mais importância ao evento para o qual foram convidados não apenas os ministros do G20, mas, pela primeira vez, os ministros de todos os 193 países que integram a ONU. A ideia é garantir legitimidade ao "Chamado à ação por reformas da governança global". Se o G20 é um bloco mais diverso do que o G7 (o clube dos sete países mais ricos do mundo), ainda assim ele deixa muitas nações de fora. Daí a importância de se trazerem as outras para o pleito que acontece às margens da Assembleia Geral da ONU.

Leia tambémNa tribuna da ONU, Lula pede reforma do órgão e inclusão de mais países no Conselho de Segurança

"Call to action" inédito

Ao final da reunião, será divulgado o "Call to action" (ou "Chamado à ação"), a declaração conjunta dos chanceleres do G20. Esta é outra primeira vez. Nunca houve documento formal aprovado por consenso pelos ministros das Relações Exteriores do bloco no seu quarto de século de existência. Tentou-se na edição do G20 comandado pela Índia, em 2023, mas não deu certo.

O texto, aprovado por todos, pede reformas dos organismos criados em Bretton Woods. É claro que seu palavreado não será ousado como queriam o Brasil e outros emergentes. Mas é o texto possível diante de tantas nações com interesses tão distintos, em um mundo polarizado como nunca e marcado pelo maio número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.

Espera-se que este "Chamado à ação" seja novo impulso ao bloco. Consensos no G20 têm sido cada vez mais difíceis diante da turbulenta geopolítica mundial. E, mexer na composição desses organismos e seus processos decisórios, é mexer com quem faz as regras do jogo. Cada vez mais distantes dos desafios do século 21, os organismos internacionais já não refletem a configuração da economia global.

Brasil volta ao protagonismo global

Em seu tradicional discurso na Assembleia Geral na terça-feira (24), Lula afirmou que, prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma grande reforma. Teve quatro emendas aprovadas entre 1965 e 1973. A versão atual da Carta não trata de alguns dos desafios importantes da humanidade, como a mudança do clima. À época da fundação, a ONU era composta por apenas 51 países. Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos.

O presidente Lula faz discurso de abertura. Vai insistir na importância do multilateralismo e na necessidade das reformas. Sua presença ali, com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, serão a prova da sua aposta no G20 como canal para mostrar que o Brasil voltou a ser ator global de relevância.

O "Chamado à Ação" foi milimetricamente costurado pela diplomacia por meses. Foi preciso contornar as diferenças entre Estados Unidos, China, e, na reta final, Rússia e Argentina. A intenção é que isso se traduza em sinal de força do G20. Mas simbólica, porque, como instância informal, a plataforma não tem efeitos vinculantes, nem cria leis ou muda estruturas e organismos internacionais existentes.

O próximo desafio do bloco será o comunicado final que será divulgado pelos líderes dos países presentes na reunião de cúpula em novembro no Rio de Janeiro, quando o Brasil passará o comando do G20 para a África do Sul. De Nova York, Lula volta para Brasil, de onde partirá para nova viagem internacional, desta vez ao México, onde participa da posse da primeira presidente mulher daquele país, Claudia Scheinbaum.

Notícias