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Recrutamento e acomodação de trabalhadores para colheita é desafio para região de Champanhe, na França

24/09/2024 13h56

Recrutar e acomodar 120 mil trabalhadores temporários para colher manualmente 34 mil hectares de vinhedos é um desafio para a indústria do Champanhe, no nordeste de França. Os vinhedos se mobilizam para proteger sua reputação abalada em 2023 pelo fechamento de alojamentos insalubres e pela morte de quatro trabalhadores.

Em Igny-Comblizy, uma pequena cidade no departamento de Marne, a 136 km a nordeste de Paris, sindicalistas distribuem folhetos pelos vinhedos aos trabalhadores temporários vindos do leste da Europa. Desde o início da colheita, em 7 de setembro, eles percorrem os municípios da denominação Champanhe. O folheto, disponível em oito línguas (polonês, búlgaro, russo, ucraniano, espanhol, italiano, romeno e francês) indica qual é o salário mínimo por hora na França, o número máximo de horas de trabalho e as pausas obrigatórias.

As autoridades locais, por seu lado, mobilizaram 22 inspetores do trabalho e 84 policiais. Já foram emitidas três ordens de fechamento de alojamentos coletivos considerados "insalubres", informou a prefeitura local à AFP.

Em 2023, a prefeitura de Marne fechou três alojamentos coletivos para trabalhadores considerados "insalubres" e "deteriorados". "Pessoas desonestas que ameaçam a imagem da Champagne", condena o copresidente do Comitê de Champagne, David Chatillon.

 

"Tráfico de seres humanos"

Após estes fechamentos, foram abertas duas investigações pelo Ministério Público de Châlons-en-Champagne, cidade da região onde estão as principais vinícolas, por "tráfico de seres humanos". Uma empresa prestadora de serviços e seu gestor comparecerão no dia 26 de março de 2025, a segunda investigação ainda está em andamento.

"Nós chamamos para a mobilização geral de todo o setor", garante o presidente do sindicato dos viticultores, Maxime Toubart.

O alojamento é uma das questões centrais, explica José Blanco, secretário-geral da intersindical CGT da região de Champanhe. Ele destaca "melhorias", mas ainda aponta "acampamentos na mata".

Segundo ele, a nova geração de viticultores "falhou em sua missão". "Muitos não se responsabilizam mais pelo alojamento, alegando, algumas vezes, padrões duros demais", e "estão contratando prestadores de serviços para uma colheita 'chave na mão'".

Para Maxime Toubart, as condições de alojamento impostas pelos serviços do Estado - por exemplo, uma superfície mínima de 4,5 m² por trabalhador nos quartos - são efetivamente muito rigorosas e desencorajam os viticultores.

A supervisão da prestação de serviços é um dos grandes eixos do plano de ação adotado em resposta aos "desfuncionamentos" de 2023, como o alojamento, o recrutamento e a segurança dos trabalhadores. No mesmo ano, quatro trabalhadores temporários morreram num contexto de calor extremo.

As casas de champanhe "devem ficar de olho em seus prestadores de serviços, mas muitas enterram a cabeça na areia", lamenta José Blanco, insistindo na necessidade de condenar conjuntamente clientes e prestadores de serviços em caso de deficiências.

Após o "choque", todos "recuperam o controle de sua atividade", observa Maxime Mainguet, vice-presidente da recém-criada federação de prestadores de serviços em Champagne. Na hora de assinar contratos, os viticultores são mais cuidadosos, observa.

Dificuldade de encontrar trabalhadores

Para atrair trabalhadores, a casa de Champagne Moët & Chandon acolhe em suas próprias instalações 1.900 dos 3.500 coletores temporários necessários. Cerca de 100 trabalhadores vivem em uma de suas residências, na cidade de Pierry, equipada com dormitórios, banheiros, lavanderia e refeitório. Eles podem se beneficiar de sessões de fisioterapia e atividades como aulas de alongamento.

"As pessoas têm que querer vir e voltar para a colheita", insiste Frédéric Gallois, diretor de vinhedos e suprimentos da Moët & Chandon. Os colaboradores ganham entre € 1.200 e € 2.000 brutos (entre R$ 7.312 e R$ 12.188) por uma colheita que dura em média 10 dias.

Se os sindicatos lamentam a utilização massiva de trabalhadores estrangeiros, o que contribui para "a queda dos salários", Toubart assegura que "não existe tratamento salarial diferenciado" e alega "dificuldades de recrutamento".

"A denominação Champagne não tem interesse em ser mal recebida e mal paga, tem também a ver com a sua imagem, não queremos brincar com isso", insiste.

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