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Jornal revela regalias, contas não declaradas e gastos controversos da ministra francesa Rachida Dati

24/09/2024 10h41

O jornal Libération desta terça-feira (24) estampa sua capa com o resultado de uma investigação realizada sobre a ministra francesa da Cultura. "O modo de vida nem tão modesto de Rachida Dati" é o título da reportagem que revela que essa célebre política conservadora se beneficiou de regalias durante anos, "sem pagar um centavo", afirma o diário.

O jornal Libération desta terça-feira (24) estampa sua capa com o resultado de uma investigação realizada sobre a ministra francesa da Cultura. "O modo de vida nem tão modesto de Rachida Dati" é o título da reportagem que revela que essa célebre política conservadora se beneficiou de regalias durante anos, "sem pagar um centavo", afirma o diário.

Um "explêndido apartamento familiar" de 225 m2, no sexto distrito de Paris - um dos bairros mais chiques da capital francesa - com cinco quartos, uma sala de 50 m2, um escritório, a dois passos do Jardim de Luxemburgo. É desta forma que o jornal Libération descreve o imóvel onde viveu de junho de 2019 até 1° de agosto deste ano a ministra Rachida Dati. O aluguel mensal do local, cujo proprietário é um homem de negócios jordaniano, é calculado em € 12,5 mil (cerca de R$ 74 mil): um valor que nunca saiu do bolso de Rachida Dati, integrante do partido de direita Os Republicanos.

O diário apurou que a ministra, que também é prefeita do sétimo distrito de Paris, viveu no local desde junho de 2019. O aluguel ficava a cargo do outro inquilino, Henri Proglio, na época companheiro de Dati. Ex-presidente da multinacional Veolia e da sociedade francesa de produção e fornecimento de energia EDF, ele é um empresário com forte influência nas esferas políticas e econômicas da França, com conexões com empresas ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin.

Libé lembra que no período em que morou no luxuoso apartamento, Dati enfrentou um processo de corrupção passiva e abuso de poder.

Rixa com o presidente francês

No dia em que a política conservadora assumiu o Ministério da Cultura, em 11 de janeiro deste ano, Proglio resolveu deixar o local, segundo a publicação, devido a uma rixa com o presidente francês, Emmanuel Macron, que pode ter interferido na relação do casal. Em 2014, época em que o líder centrista era ministro da Economia da França, ele teria recusado renovar o contrato de Proglio como presidente da EDF, criando uma inimizade entre eles. 

Apesar da saída do companheiro do luxuoso apartamento e do fim da relação, Dati permanece morando no local até o final do contrato do aluguel, com os gastos ainda arcados por Proglio, "um belo presente de milhares de euros", diz a reportagem. Curiosamente, o valor não é declarado junto à Autoridade de Transparência da Vida Pública da França, entidade à qual todos os membros do governo devem apresentar seus gastos.

Também intrigante, segundo Libé, é que a autointitulada de "a ministra sem-teto" é proprietária de um apartamento na grande região parisiense, de uma casa na região da Borgonha, centro-leste da França, bem como dois imóveis no Marrocos, país onde nasceram o pai e a mãe de Dati.

A matéria também aponta que, oficialmente, sua residência principal, declarada às autoridades francesas, é um apartamento perto da Torre Eiffel, outro bairro nobre de Paris, do qual a ministra não é proprietária. 

Mais de € 5 milhões no bolso e contas paga pelo companheiro

A reportagem também apurou que o patrimônio financeiro da política conservadora deu um salto nos últimos anos, chegando a € 5,2 milhões (cerca de R$ 32 milhões) em ações, seguros, contas correntes e poupança. O jornal destaca que, apesar de possuir essa fortuna, parte dos gastos da ministra também eram arcados por Proglio até a separação do casal. "Regularmente ele transferia € 10 mil ou € 15 mil" à Dati, diz a matéria.

Além disso, montantes utilizados em reformas e renovação feitos pela ministra no luxuoso apartamento, além de contas de energia elétrica, são quitados pela Veolia. O diário ainda descobriu empréstimos de Proglio a Dati com valores entre € 15 mil (R$ 92 mil) e € 50 mil (R$ 307 mil) - dívidas que, segundo a reportagem, jamais foram declaradas por Dati.

Entre outras controversas atividades do ex-casal, o jornal relata a contratação de vários membros da família da ministra - quatro irmãs e dois irmãos - para cargos na Veolia e na EDF. Não por acaso, o Ministério Público das Finanças investiga Proglio por corrupção, abuso de bens sociais e fraude fiscal. Já Dati aguarda uma decisão da Justiça francesa sobre a prescrição de acusações relacionada a Carlos Ghosn, ex-patrão da Renault-Nissan, de quem é acusada de ter recebido € 900 mil (R$ 5.540 milhões) entre 2010 e 2012.

"A hipótese de um processo e de uma eventual condenação pesa sobre os ombros desta que faz da conquista da prefeitura de Paris sua próxima batalha", diz o Libé. O diário também lembra que um dos pedidos do novo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, é que os integrantes do gabinete que iniciou as atividades nesta semana, entre eles, Rachida Dati, tenham um estilo de vida "correto e modesto". 

Nem a ministra, nem seu ex-companheiro aceitaram conversar com a reportagem do jornal Libération

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