Jornal revela regalias, contas não declaradas e gastos controversos da ministra francesa Rachida Dati
O jornal Libération desta terça-feira (24) estampa sua capa com o resultado de uma investigação realizada sobre a ministra francesa da Cultura. "O modo de vida nem tão modesto de Rachida Dati" é o título da reportagem que revela que essa célebre política conservadora se beneficiou de regalias durante anos, "sem pagar um centavo", afirma o diário.
O jornal Libération desta terça-feira (24) estampa sua capa com o resultado de uma investigação realizada sobre a ministra francesa da Cultura. "O modo de vida nem tão modesto de Rachida Dati" é o título da reportagem que revela que essa célebre política conservadora se beneficiou de regalias durante anos, "sem pagar um centavo", afirma o diário.
Um "explêndido apartamento familiar" de 225 m2, no sexto distrito de Paris - um dos bairros mais chiques da capital francesa - com cinco quartos, uma sala de 50 m2, um escritório, a dois passos do Jardim de Luxemburgo. É desta forma que o jornal Libération descreve o imóvel onde viveu de junho de 2019 até 1° de agosto deste ano a ministra Rachida Dati. O aluguel mensal do local, cujo proprietário é um homem de negócios jordaniano, é calculado em € 12,5 mil (cerca de R$ 74 mil): um valor que nunca saiu do bolso de Rachida Dati, integrante do partido de direita Os Republicanos.
O diário apurou que a ministra, que também é prefeita do sétimo distrito de Paris, viveu no local desde junho de 2019. O aluguel ficava a cargo do outro inquilino, Henri Proglio, na época companheiro de Dati. Ex-presidente da multinacional Veolia e da sociedade francesa de produção e fornecimento de energia EDF, ele é um empresário com forte influência nas esferas políticas e econômicas da França, com conexões com empresas ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin.
O Libé lembra que no período em que morou no luxuoso apartamento, Dati enfrentou um processo de corrupção passiva e abuso de poder.
Rixa com o presidente francês
No dia em que a política conservadora assumiu o Ministério da Cultura, em 11 de janeiro deste ano, Proglio resolveu deixar o local, segundo a publicação, devido a uma rixa com o presidente francês, Emmanuel Macron, que pode ter interferido na relação do casal. Em 2014, época em que o líder centrista era ministro da Economia da França, ele teria recusado renovar o contrato de Proglio como presidente da EDF, criando uma inimizade entre eles.
Apesar da saída do companheiro do luxuoso apartamento e do fim da relação, Dati permanece morando no local até o final do contrato do aluguel, com os gastos ainda arcados por Proglio, "um belo presente de milhares de euros", diz a reportagem. Curiosamente, o valor não é declarado junto à Autoridade de Transparência da Vida Pública da França, entidade à qual todos os membros do governo devem apresentar seus gastos.
Também intrigante, segundo Libé, é que a autointitulada de "a ministra sem-teto" é proprietária de um apartamento na grande região parisiense, de uma casa na região da Borgonha, centro-leste da França, bem como dois imóveis no Marrocos, país onde nasceram o pai e a mãe de Dati.
A matéria também aponta que, oficialmente, sua residência principal, declarada às autoridades francesas, é um apartamento perto da Torre Eiffel, outro bairro nobre de Paris, do qual a ministra não é proprietária.
Mais de € 5 milhões no bolso e contas paga pelo companheiro
A reportagem também apurou que o patrimônio financeiro da política conservadora deu um salto nos últimos anos, chegando a € 5,2 milhões (cerca de R$ 32 milhões) em ações, seguros, contas correntes e poupança. O jornal destaca que, apesar de possuir essa fortuna, parte dos gastos da ministra também eram arcados por Proglio até a separação do casal. "Regularmente ele transferia € 10 mil ou € 15 mil" à Dati, diz a matéria.
Além disso, montantes utilizados em reformas e renovação feitos pela ministra no luxuoso apartamento, além de contas de energia elétrica, são quitados pela Veolia. O diário ainda descobriu empréstimos de Proglio a Dati com valores entre € 15 mil (R$ 92 mil) e € 50 mil (R$ 307 mil) - dívidas que, segundo a reportagem, jamais foram declaradas por Dati.
Entre outras controversas atividades do ex-casal, o jornal relata a contratação de vários membros da família da ministra - quatro irmãs e dois irmãos - para cargos na Veolia e na EDF. Não por acaso, o Ministério Público das Finanças investiga Proglio por corrupção, abuso de bens sociais e fraude fiscal. Já Dati aguarda uma decisão da Justiça francesa sobre a prescrição de acusações relacionada a Carlos Ghosn, ex-patrão da Renault-Nissan, de quem é acusada de ter recebido € 900 mil (R$ 5.540 milhões) entre 2010 e 2012.
"A hipótese de um processo e de uma eventual condenação pesa sobre os ombros desta que faz da conquista da prefeitura de Paris sua próxima batalha", diz o Libé. O diário também lembra que um dos pedidos do novo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, é que os integrantes do gabinete que iniciou as atividades nesta semana, entre eles, Rachida Dati, tenham um estilo de vida "correto e modesto".
Nem a ministra, nem seu ex-companheiro aceitaram conversar com a reportagem do jornal Libération.
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