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Discurso de abertura e evento pela democracia marcam participação de Lula na Assembleia Geral da ONU

24/09/2024 06h33

O Brasil, como de costume, é o primeiro país a discursar na Assembleia Geral da ONU, cujo tema este ano é "Unidade na diversidade, para a promoção da paz, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana". 

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York.

Em seu discurso, Lula deve abordar temas centrais de sua diplomacia, como a inclusão, o combate à fome, a defesa da democracia, o fim das guerras na Ucrânia e em Gaza, e a reforma dos órgãos internacionais. Um dos principais pontos é o apelo por uma reforma desses organismos, com seus assessores estudando até a possibilidade de propor uma Constituinte para reescrever a Carta das Nações Unidas.

Lula também pretende destacar os avanços na questão climática, mas os recentes incêndios florestais complicam esses planos. Além disso, o presidente alerta sobre o poder das plataformas digitais, sem mencionar diretamente Elon Musk, mas destacando a soberania dos países frente a essas ofensivas.

Outro ponto importante de seu discurso é a condenação da violência em Gaza, enfatizando a desproporcionalidade entre os ataques do Hamas e a resposta de Israel, que envolve a destruição de todo um território.

Antes de se dirigir ao palco do Salão Oval da ONU em Nova York, Lula terá um breve encontro com o secretário-geral do organismo, António Guterres. Na sequência de Lula, que discursa por volta das 9h da manhã no horário local, está programada a fala do presidente americano Joe Biden.

Evento contra o extremismo e pela democracia

A iniciativa "Em defesa da democracia, combatendo o extremismo" foi proposta pelo presidente Lula em conjunto com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. A mesa-redonda abordará temas como o avanço dos princípios democráticos, tentando encontrar alternativas para a proteção das instituições contra movimentos extremistas, assim como o enfrentamento à desinformação e a propagação dos discursos especialmente através da internet.

Devem ser discutidas estratégias para a promoção de um crescimento econômico sustentável e inclusivo, além do combate às desigualdades.

Além do Brasil e da Espanha, participam do evento Barbados, Cabo Verde, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, Quênia, México, Noruega, Senegal, Timor Leste e também o Conselho Europeu.

O encontro é organizado dentro da ONU, com a presença de líderes mundiais para compartilhar medidas adotadas em cada nação.

Encontros Bilaterais de Lula

Lula também se encontrou com o chanceler alemão, Olaf Scholz, com quem discutiu temas relacionados às próximas COPs (COP29 e COP30). Scholz confirmou sua presença na Cúpula de Líderes do G20, que ocorre em novembro, no Rio de Janeiro. Além disso, ambos os líderes reafirmaram a continuação das consultas intergovernamentais de alto nível entre Brasil e Alemanha, cuja próxima etapa está prevista para 2025 no Brasil.

Na última consulta, realizada em dezembro de 2023, os dois países destacaram seu compromisso com a industrialização verde, agricultura de baixo carbono e a meta de desmatamento zero até 2030. De acordo com a agência EBC, durante o encontro em Nova York, Scholz ressaltou a importância da transição ecológica para gerar empregos no Brasil e incentivou um maior processamento industrial das matérias-primas brasileiras.

Outro tema abordado foi o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, com destaque para a preocupação brasileira em relação à lei ambiental europeia que entrará em vigor em 2025. O Brasil teme que a nova legislação, que visa proibir a importação de produtos agrícolas provenientes de áreas recentemente desmatadas, possa ser usada como um instrumento de protecionismo disfarçado, com um impacto potencial de até US$ 15 bilhões (R$ 83 bilhões) na economia brasileira.

Em outra reunião, Lula se encontrou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para continuar as negociações sobre o acordo entre Mercosul e UE, reiterando a necessidade de diálogo sobre questões ambientais e comerciais. Além disso, Lula discutiu a situação do Haiti junto ao seu recém-empossado primeiro-ministro Garry Conille, enfatizando a responsabilidade internacional na crise do país e se comprometendo a mobilizar outros líderes para apoiar o Haiti.

Na saída do encontro, Lula falou rapidamente com jornalistas e disse que "nós temos que assumir responsabilidade, não o Brasil, mas o mundo, com o Haiti. Não é possível que o país esteja se deteriorando, sem a solidariedade internacional."

O primeiro-ministro haitiano, por seu lado, disse que Lula "se comprometeu a garantir que se mobilizará junto a outros países para apoiar a situação do Haiti. Ele foi muito generoso com a concessão do seu tempo e muito inspirador em termos de ideias. Nós contamos com a cooperação do Brasil no futuro", enfatizou.

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Desistência de participar em evento

O presidente Lula desistiu de participar de um dos eventos programados para a noite de segunda-feira devido a uma confusão ocorrida durante a entrada da delegação brasileira no local. O problema aconteceu porque o presidente americano Joe Biden resolveu fazer uma aparição surpresa na noite de Gala da Fundação Bill Clinton, fazendo com que o serviço secreto tomasse o controle da segurança do Jazz at Lincoln Center.

A mudança fez com que parte da delegação brasileira, incluindo ministros, tivessem que ser revistados e passar por um controle mais rígido. O clima de constrangimento ocasionado pela situação motivou a decisão do presidente brasileiro de deixar o local.

Críticas à Concentração de Riqueza

Após o incidente, Lula foi à premiação anual da iniciativa Goalkeepers 2030, promovida pela Fundação Bill e Melinda Gates. Durante a cerimônia, o presidente brasileiro recebeu um prêmio por sua contribuição para alcançar dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): a erradicação da pobreza e a fome zero.

Ao receber o prêmio, o presidente brasileiro abordou a questão da fome e da desnutrição global, enfatizando a responsabilidade dos governantes em atender às necessidades dos mais pobres. O presidente utilizou o exemplo da própria infância para explicar como a fome afeta a população brasileira, lembrando que a experimentou e enfatizando que ela não é um fenômeno natural, mas sim uma consequência da irresponsabilidade dos líderes mundiais.

Lula destacou a importância de políticas públicas e do programa Bolsa Família, implementado durante seu governo, como uma solução efetiva para combater a pobreza e a fome no Brasil. Ele expressou sua determinação em erradicar a fome novamente, após ter alcançado essa meta em 2014.

Além disso, Lula criticou a concentração de riqueza, apontando que enquanto há bilhões de dólares em circulação, muitas pessoas ainda enfrentam a pobreza extrema. Ele defendeu a necessidade de uma reforma na governança global, com maior representação dos países em desenvolvimento e uma ONU mais eficaz.

Lula concluiu dizendo que a fome no mundo é uma questão que envergonha os governantes e que, com compromisso e ação política, é possível acabar com essa situação.

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