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Moradores de Gaza e suas vidas destruídas, um ano após 7 de outubro

Homem chora abraçado a corpo de criança morta em ataque israelense na Faixa de Gaza - Eyad BABA / AFP
Homem chora abraçado a corpo de criança morta em ataque israelense na Faixa de Gaza Imagem: Eyad BABA / AFP

23/09/2024 08h25Atualizada em 23/09/2024 08h55

Em quase um ano de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, a população de Gaza perdeu quase tudo: pessoas queridas, suas casas, suas carreiras e sonhos.

A AFP conversou com um estudante, uma paramédica e um ex-funcionário público em Gaza para saber como o conflito destruiu suas vidas.

Um estudante sem universidade

Fares al Farra, 19 anos, era tão brilhante quanto ambicioso na escola. Dois meses antes de 7 de outubro, ele se formou com notas altas e se matriculou na Universidade de Ciências Aplicadas de Gaza para estudar Inteligência Artificial.

"Eu tinha muitas ambições e objetivos. E sempre tive esperança de um dia alcançá-los", explica.

No entanto, dias após o ataque do Hamas que desencadeou a guerra, o Exército israelense bombardeou parte do seu campus.

Fares al Farra e sua família deixaram sua casa em Khan Yunis, cidade no sul de Gaza que se tornou campo de batalha entre Israel e militantes do Hamas, e se refugiram em um abrigo temporário.

Eles voltaram para casa quando as tropas israelenses se retiraram. Porém, bombardeios subsequentes destruíram as paredes da sua casa e mataram seu amigo Abu Hasan. Ele quebrou o braço.

"Ele sempre cuidou de mim", diz o jovem, lembrando-se do amigo, com quem conviveu durante o deslocamento forçado de sua casa. "Era uma boa pessoa."

Paramédica e mãe

Maha Wafi, 43 anos, explica que "realmente amava" seu trabalho como paramédica em Khan Yunis porque podia ajudar outras pessoas.

"Nós vamos até as pessoas e dizemos: 'Nós ouvimos você'", diz. Ela também amava sua vida com Anis, seu marido há 24 anos, seus cinco filhos e sua linda casa.

A guerra forçou a família a sair de casa e a procurar refúgio em um campo, enquanto o fluxo de feridos e doentes após os bombardeios aumentava a pressão sobre os profissionais de saúde mal equipados de Gaza.

No início de dezembro, o marido de Wafi foi preso. Ela não o viu desde então. Agora deve lidar sozinha com as adversidades da guerra, cuidar dos cinco filhos e continuar trabalhando como paramédica.

"Moro em uma barraca (...) Tenho que trazer água e gás, acender fogo e lidar com as dificuldades de tudo isso", afirma.

"Tudo isso é pressão psicológica sobre uma mulher trabalhadora" diz Wafi em sua ambulância, antes de começar a limpar o sangue do chão.

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Palestinos ficam no pátio da escola Al-Jawni (Jaouni) após um ataque aéreo israelense atingir o local, em Nuseirat, na Faixa de Gaza central, em 11 de setembro de 2024
Imagem: EYAD BABA/AFP

De funcionário a mendigo

Antes de 7 de outubro, Maher Zino, 39 anos, desfrutava de uma "boa rotina" como funcionário do governo com um salário decente. Ele morava com sua esposa Fátima e seus três filhos na Cidade de Gaza.

Um ano depois, foi deslocado "tantas vezes que é difícil contar", explica ele, de um abrigo no centro de Gaza.

Da cidade de Gaza a Khan Yunis, no sul, foi para Rafah, na fronteira com o Egito, depois voltou ao centro da Faixa, e a família teve que começar do zero todas as vezes.

"Montar uma barraca, construir um banheiro, comprar móveis básicos e encontrar roupas porque tudo ficou para trás", diz.

Às vezes, conseguiam encontrar um teto antes do anoitecer. Outras, dormiam na rua, explica Zino, que garante que "nunca precisaram de ninguém" antes da guerra.

No abrigo onde moram, Zino e a esposa conseguiram criar um ambiente parecido com um lar, com local para dormir, caixa d'água e banheiro improvisado.

Ele também deseja que as coisas voltem a ser como eram antes.

"Virei um mendigo", pedindo cobertores para aquecer a família e procurando "cozinhas comunitárias para conseguir um prato de comida para alimentar meus filhos", diz Zino.

"Isso é o que a guerra fez de nós".

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© Agence France-Presse

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