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'Luta por justiça', diz mãe de morto em ação com segurança de Marçal em GO

Pré-candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal contratou tenente-coronel Edson Melo como segurança. Oficial chefiava unidade da PM de Goiás investigada por suposto confronto forjado filmado após assassinato em Goiás - Redes sociais
Pré-candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal contratou tenente-coronel Edson Melo como segurança. Oficial chefiava unidade da PM de Goiás investigada por suposto confronto forjado filmado após assassinato em Goiás Imagem: Redes sociais
do UOL

Do UOL, em São Paulo

23/09/2024 05h30

A mãe de um dos três mortos em operação chefiada pelo oficial da PM, hoje segurança de Pablo Marçal (PRTB), disse que a reabertura da investigação de possível assassinato seguido de confronto forjado em Goiás devolve às famílias a sensação de luta por justiça. O piloto Felipe Ramos Morais, que também estava entre as vítimas, era alvo de ameaças do PCC quando foi morto pela PM, em fevereiro de 2023.

O que aconteceu

Mãe de Nathan Moreira Cavalcante, um dos mortos na ação policial, procurou o Programa de Proteção a Testemunhas ao dizer ter se sentido ameaçada pelo segurança de Marçal nas redes sociais. O documento, obtido pela reportagem, foi registrado pelo núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de Goiás em maio deste ano. Além de Felipe e Nathan, o mecânico de aeronaves Paulo Ricardo Pereira Bueno também morreu na ação.

No documento, a pedagoga Viviane Cavalcante, 48, relatou que o tenente-coronel Edson Melo, o Edson Raiado, disse em vídeo que o caso "teria volta". "Na época, eu havia citado o nome dele como o assassino do meu filho em entrevista a um veículo local. Não era uma ameaça direta, mas passava a impressão de que ele tomaria providências diante das acusações", disse, em entrevista ao UOL.

A sensação de medo permanece, mas as famílias não desistiram de provar a inocência das vítimas. Temos a convicção de que eles [PMs] mataram pessoas inocentes. Mesmo sabendo que não teremos eles de volta, pelo menos a memória deles será honrada. A luta é por justiça.
Viviane Cavalcante, mãe de Nathan

Dos 15 tiros que mataram as três vítimas, 12 foram disparados por Edson Melo, segundo o MP. Ainda de acordo com o órgão, os outros três disparos foram dados pelo major Renyson Castanheira Silva, que também participou da operação policial com três mortos.

O tenente-coronel pediu licença da PM de Goiás para atuar como segurança do candidato a prefeito de SP. Mesmo licenciado, ele recebe salário bruto de R$ 33 mil do governo goiano, indica o Portal da Transparência.

O que se sabe sobre a reabertura do caso

O MP solicitou à Polícia Civil o exame pericial de vestígios de sangue e de DNA no veículo onde estavam os corpos. A investigação foi reaberta pela Justiça após resultado negativo de exame de pólvora nas mãos do piloto Felipe Ramos Morais.

Com reabertura do inquérito, a Promotoria pediu novos depoimentos de testemunhas. A entidade também solicitou acesso aos celulares dos mortos, a extração de impressões digitais nas armas supostamente apreendidas e a complementação dos laudos cadavéricos, indicando as lesões sofridas pelas vítimas.

Pedido de esclarecimentos ao Samu. O MP quer que os socorristas que retiraram os corpos da cena do crime prestem depoimento. Os laudos cadavéricos indicam que as vítimas já estariam mortas após a ação policial e não precisariam de atendimento médico. Com os corpos no local, a perícia poderia fazer um trabalho mais preciso.

Segurança de Marçal comentou reabertura do caso em seu perfil nas redes sociais. "Realmente, o inquérito foi reaberto (...). Passou [sic] horas ali, o cadáver não vai dar positivo [sobre o resultado negativo do exame de pólvora]", disse o tenente-coronel licenciado da PM de Goiás. A reportagem também procurou a defesa do major Renyson Castanheira Silva. Se houver retorno, o texto será atualizado.

Mudança de cena e outro caso suspeito

Equipe chefiada por segurança de Marçal disse, à época, que atirou após disparos dos mortos na ação. Contudo, laudos anteriores do MP de maio de 2023 indicavam alteração de cena de crime, já contestando a versão de legítima defesa da equipe do tenente-coronel Edson Melo, o Edson Raiado, conforme revelou reportagem do UOL.

Os estojos das munições dos PMs foram removidos do local. As armas supostamente usadas pelos três mortos foram encontradas em uma caminhonete, retiradas da cena do crime. Mas os policiais não souberam explicar em depoimento como as armas foram colocadas no veículo. Apesar de reconhecer irregularidades, a Promotoria arquivou o caso à época alegando falta de provas.

Segurança de Marçal tentou se eleger deputado nas eleições de 2022 em Goiás citando participação em buscas de serial killer. Influencer no Instagram, onde tem 328 mil seguidores, Raiado escreveu um livro sobre a operação do Caso Lázaro Barbosa, morto em junho de 2021 em Águas Lindas de Goiás (GO).

A morte do piloto ameaçado pelo PCC não foi o primeiro caso de suspeita de confronto forjado envolvendo Raiado. O oficial chefiava agentes da tropa investigada por suposta armação após o vazamento de um vídeo que registrou o assassinato de dois homens no dia 1º de abril em Goiânia. As imagens foram gravadas pelo celular de uma das vítimas sem que os PMs percebessem. Seis PMs foram indiciados.

A Polícia Civil apura se o vídeo mostra PMs simulando armação. Um deles retira a arma de um saco plástico. O outro agente atira, simulando disparar. Um dos mortos na ação era informante da própria PM e havia acusado policiais de extorsão quando foi preso em 2020.

Quem era o piloto ameaçado pelo PCC

O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, jurado de morte pelo PCC - Reprodução - Reprodução
O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, jurado de morte pelo PCC
Imagem: Reprodução

Felipe Ramos Morais levou de helicóptero dois líderes do PCC para uma emboscada na região metropolitana de Fortaleza (CE) em 2018. Rogério Jeremias Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram mortos pela própria facção.

Após os assassinatos, o piloto foi preso por suspeita de envolvimento no crime. Em abril de 2021, Felipe foi solto da penitenciária federal de Campo Grande (MS) por determinação da Justiça cearense. O piloto sempre negou o envolvimento com a organização criminosa.

Após fazer acordo de delação premiada contra a cúpula do PCC, ele foi ameaçado de morte pela facção. Com base nas delações dele, a Polícia Federal bloqueou ao menos R$ 1 bilhão em bens e contas bancárias ligadas à organização criminosa.

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