Topo
Notícias

Governo trabalhista britânico tenta contornar primeiras críticas com mensagem de esperança

23/09/2024 10h28

O governo trabalhista britânico, no poder desde o início de julho e já criticado por sua gestão, apresentou mensagens de esperança nesta segunda-feira (23), no segundo dia do seu congresso em Liverpool, com a promessa de "reconstruir" o país. 

A ministra das Finanças, Rachel Reeves, prometeu em seu discurso na cidade do norte da Inglaterra uma "década de renovação nacional", após 14 anos de governos conservadores, embora acompanhada de "decisões difíceis" em meio à crescente dívida estatal.

Segundo a ministra, o seu primeiro orçamento, previsto para o final de outubro, abrirá caminho para investimentos empresariais que proporcionarão ao país um "crescimento sustentável" e "ajudarão a reconstruir o Reino Unido".

O governo trabalhista tenta enviar uma mensagem otimista, após uma reação furiosa dos sindicatos aos cortes propostos na assistência social e aos relatos de presentes recebidos de doadores do partido pelo primeiro-ministro Keir Starmer e por outros membros do Executivo.

- Presentes a ministros -

Todos os presentes foram declarados, sem violar as regras parlamentares, mas vieram à tona depois que o governo alertou o público para se preparar para futuras restrições orçamentárias, incluindo o cancelamento de uma doação de 300 libras (US$ 400 ou R$ 2.190) para ajudar 10 milhões de aposentados nos gastos de combustível no inverno.

Sharon Graham, secretária-geral do sindicato Unite, descreveu este corte aos aposentados como "cruel".

"Não consigo acreditar que a primeira coisa que eles fazem não é pensar direito", disse à AFP um ativista trabalhista aposentado, Neil Mallett, de 70 anos. 

Juntamente com esta medida impopular, descobriu-se que o primeiro-ministro Starmer recebeu uma série de presentes desde 2019, como roupas para a sua esposa e para ele próprio e ingressos para jogos de futebol e shows por cerca de 141 mil dólares (R$ 722 mil).

Soube-se também que Reeves, a ministra das Finanças, recebeu como presente roupas no valor de cerca de 7.500 libras (cerca de 10 mil dólares ou R$ 54,7 mil) e que a vice-primeira-ministra, Angela Rayner, aceitou o empréstimo de um apartamento em Nova York para passar as férias. 

A ministra da Educação, Bridget Phillipson, também admitiu ter recebido uma doação de 14.000 libras (cerca de US$ 18.600 ou R$ 101,8 mil) para financiar duas recepções.

A ministra defendeu-se afirmando que este dinheiro foi recebido "em contexto de trabalho". 

O ministro do Comércio, Douglas Alexander, admitiu que estas informações sobre os presentes "não são as manchetes que teríamos escolhido" para o primeiro congresso do partido desde que chegou ao poder. 

Uma pesquisa publicada nesta segunda-feira pelo YouGov indica que apenas 34% dos britânicos afirmam ter uma opinião positiva sobre o Partido Trabalhista, enquanto 57% têm uma opinião negativa.

- Buraco nas finanças públicas -

O Executivo trabalhista atribui os problemas econômicos aos 14 anos de governos conservadores, aos quais atribui um "rombo" de 22 bilhões de libras (29,3 bilhões de dólares ou R$ 160,4 bilhões) nas finanças públicas. 

O Escritório Nacional de Estatísticas (ONS) informou esta semana que a dívida pública britânica atingiu 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto, aumentando a pressão sobre o governo. 

A ministra das Finanças falou sobre a necessidade de "decisões difíceis", mas descartou medidas de austeridade ou aumentos de impostos para os trabalhadores. 

Reeves, que não se referiu em seu discurso aos presentes recebidos, confirmou uma ampliação do imposto sobre os lucros das empresas energéticas e a introdução do IVA nas taxas de matrícula das escolas privadas. 

Também prometeu intensificar a luta contra a evasão fiscal e atacar as empresas que se beneficiaram indevidamente das ajudas relacionadas com o covid, em um dia no qual as enfermeiras rejeitaram a proposta de um aumento de salário de 5,5%. 

O discurso da ministra foi interrompido por um ativista ambiental que se opôe à venda de armas britânicas a Israel e acabou expulso da sala. 

Mas seu discurso foi bem recebido pela City of London Corporation, o setor financeiro britânico, que expressou sua "visão positiva", em particular pela manutenção do imposto de sociedades em sua versão atual. 

bur-psr/avl/eg/aa/fp/jb

© Agence France-Presse

Notícias