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Em Nova York, Lula pretende firmar a posição do Brasil como referência do Sul Global

23/09/2024 06h45

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à cidade com a missão de reforçar a posição do Brasil como um líder emergente do Sul Global e participará de eventos importantes, como a Cúpula do Futuro e a Assembleia Geral da ONU. Lula pretende discutir temas como o multilateralismo, a mudança climática e a luta contra a fome, além de propor reformas significativas nas estruturas internacionais.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

A viagem de Lula é essencial para reforçar sua meta de ser um protagonista na reformulação das regras globais e do sistema internacional.

Este será um teste para a política externa do Brasil, que avaliará sua capacidade de influenciar o cenário global em meio à reorganização de poderes e instituições, como a ONU.

Lula participará de cerca de 30 encontros bilaterais, com reuniões já confirmadas com a França, Haiti, Espanha e União Europeia. Após o anúncio do retorno do Brasil ao cenário internacional em 2023, o objetivo agora é mostrar os primeiros resultados dessa retomada, com foco na aliança contra a fome e no papel do país no G20.

O discurso de abertura da Assembleia Geral foi elaborado pelo Itamaraty e ajustado pelo Palácio do Planalto. O texto irá destacar a questão climática, tendo em conta a relevância das queimadas recentes no Brasil.

Espera-se também que o presidente brasileiro dê continuidade aos temas já abordados no discurso emitido durante a Cúpula do Futuro, quando Lula subiu o tom das críticas, lembrando que o sistema multilateral atual, incluindo a ONU e o Conselho de Segurança, precisam de reformas profundas para incluir o Sul Global de forma mais justa e eficiente.

Além disso, Lula deve dobrar a aposta por uma maior regulação dos meios digitais, como plataformas como o X (ex-Twitter), para evitar a propagação de notícias falsas e discurso de ódio e, assim, proteger a democracia.

Compromissos do Presidente e da Comitiva

Além dos compromissos já mencionados, Lula participará de eventos promovidos pela Iniciativa Global Bill Clinton e dividirá o palco com Bill Gates na premiação Goalkeepers, onde receberá um prêmio por sua trajetória no combate à fome.

Trata-se da premiação anual da Fundação Bill e Melinda Gates que reconhece indivíduos que tenham contribuído para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Estão confirmadas reuniões bilaterais de Lula com o Primeiro Ministro do Haiti, Garry Conille, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Com relação ao governo brasileiro, destaca-se a participação em uma atividade da Cúpula para o Futuro, organizada pela Plataforma Global de Líderes Mulheres nas Finanças. O Brasil terá uma participação destacada nas discussões sobre financiamento para a transição justa e para energia verde.

A ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Banco de Desenvolvimento do BRICS (NDB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participarão ao lado de líderes como Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, e Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abordará a transformação ecológica e o uso de facilitadores financeiros para ampliar o financiamento público e privado.

O evento também destacará o papel das mulheres nas finanças, com a presença da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, discutindo como mulheres líderes poderão acelerar o financiamento de energia verde.

Impacto das enchentes no Rio Grande do Sul

Durante um evento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) ocorrido em Nova York, o brasileiro que preside o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, antecipou que as enchentes no Rio Grande do Sul terão um impacto econômico de R$ 87 bilhões. Segundo um estudo elaborado em conjunto pelo BID, CEPAL e Banco Mundial, a retração do PIB gaúcho deve ser de 1,8% neste ano.

O estudo completo será divulgado nos próximos dias. Goldfajn também compartilhou informações sobre as ações que estão sendo tomadas no estado. Em maio, o BID ofereceu R$ 5,5 bilhões em assistência, além dos R$ 10,5 bilhões destinados a financiar iniciativas relacionadas à crise hídrica no Brasil.

Durante o evento, Goldfajn recordou a gravidade da situação. "Há alguns meses, eu estava no Brasil ajudando e oferecendo assistência com as enchentes no Rio Grande do Sul de abril. Foi a pior enchente já registrada, deixando 182 pessoas mortas e muitas desabrigadas."

Participação do Brasil na Climate Week NYC

A Climate Week NYC, que começou neste domingo dia 22 e vai até o dia 29 de setembro, é um evento que acontece anualmente em paralelo à Assembleia da ONU. A atividade reunirá representantes dos setores público e privado para impulsionar a ação climática.

No dia 24 de setembro, organizações da sociedade civil brasileira realizam o evento "Climate Politics and Climate Science". O encontro, promovido pelo Instituto Arapyaú, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Uma Concertação pela Amazônia, visa debater desafios e soluções na agenda climática com a participação de autoridades e cientistas.

Entre outros temas, serão discutidos os preparativos para a COP30, que ocorrerá em Belém do Pará em 2025, quando, pela primeira vez,  a conferência será realizada na Amazônia. Estarão presentes Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima e o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago.

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