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Debate acaba com Marçal expulso e assessor de Nunes agredido

do UOL

Do UOL*, em São Paulo

23/09/2024 22h43

O debate do Flow News entre os candidatos a prefeito de São Paulo nesta segunda-feira (23) foi preparado para evitar o confronto entre os adversários. Mas, durante as considerações finais, o candidato Pablo Marçal (PRTB) foi expulso por infringir as regras por três vezes, provocando um clima de animosidade que culminou em uma briga no palco.

O que aconteceu

Marçal foi expulso do programa, e uma confusão tomou conta da reta final final do debate. Último a se despedir nas considerações finais, Marçal xingou ao vivo o prefeito de "bananinha" e foi advertido pelo apresentador Carlos Tramontina, que o lembrou das regras que proibiam insultos aos adversários. Quando deveria voltar a falar, Marçal preferiu ficar mudo até os instantes finais, quando afirmou que o prefeito seria preso por suposta corrupção em merenda de creches. Tramontina, então, avisou que Marçal estava excluído do debate, e uma confusão começou.

Seguranças invadiram o palco e o programa foi cortado. Quando voltou ao ar, Tramontina explicou a confusão. Disse que Marçal "reiteradamente desrespeitava as regras, e na saída dele houve uma confusão e um assessor do prefeito Ricardo Nunes foi agredido, levou um soco no rosto, está sangrando bastante", disse. Na verdade, a vítima foi Duda Lima, marqueteiro do prefeito.

O homem que agrediu Duda Lima é Nahuel Medina, sócio de Marçal, que também é cinegrafista do candidato. Ele foi detido pela Polícia Militar na saída do debate em condição de "investigado".

Depois da confusão, a apresentadora Helen Braun disse que assessores de Marçal insinuavam que o debate e o sorteio de perguntas era manipulado. "Ele estava buscando uma narrativa para provocar sua expulsão", disse ela.

Já fora dos palcos, Tramontina culpou o ex-coach pela confusão. "Foi o debate com o maior numero de propostas, de ideias (...) é uma pena que o candidato decidiu entornar o caldo. Não precisava. Vai ganhar o quê? E aí vem bater boca comigo?", disse.

Marçal já havia escolhido Nunes como alvo antes do debate. Os dois chegaram a bater boca antes do programa começar. "Desde o começo estava uma briguinha entre o Nunes e o Marçal", lembrou Boulos ao final. "Os dois bateram boca no início do debate. Os dois se xingando, quem era tchuchuca de quem, um negócio de baixo nível mesmo. Entraram no debate os meninos da 5ª série."

A confusão provocada por Marçal e sua equipe foi alvo de crítica dos adversários. "Pablo Marçal consegui mais uma vez. Não tem proposta e, frustrado, fez isso", disse Tabata. "O cara deu um soco no coordenador de outro candidato. O que mais me dá raiva é que eu estava conseguindo apresentar as minhas propostas", disse.

Marina Helena (Novo), que chegou a fazer dobradinha com o empresário em alguns debates, também condenou o clima criado pelo ex-coach, que culminou na agressão do marqueteiro de Nunes. "Uma agressão física como essa, gravada, todo mundo vendo, é inaceitável. De qualquer parte, não importa", disse ela. Já Datena comparou o adversário a um filme de máfia. "O bandido sempre aparece no fim", disse.

Marçal culpou assessor de Nunes

Antes de sair dos estúdios, Marçal falou com a imprensa. Ele mostrou um vídeo em seu celular afirmando que um assessor do Nunes "agrediu um integrante da minha equipe, e ele, na reação, acabou desferindo um soco", disse. "Infelizmente as pessoas estão sem equilíbrio emocional em nossa sociedade."

Marçal disse ainda que Duda Lima "não pode entrar em debate". "Porque ele assumiu as dores do prefeito, que eu vou prender junto com a Polícia Federal", disse ao voltar a associar Nunes ao crime organizado. Ele disse que em seu "primeiro dia de mandato" vai "criar uma agência dentro da prefeitura para investigar todos os passos desse cara e de todo o crime organizado ali dentro. Ele sim compõe o crime organizado, me colocou de doido."

Marçal tentou justificar sua expulsão do debate ao responsabilizar Tramontina. "O Datena falou coisas absurdas a meu respeito e vergonhosamente o Carlos Tramontina não interrompeu. Na minha fala ele me advertiu, e eu fui continuar da mesma forma usando o principio da equidade, e ele não me respeitou. Ele me advertiu mais uma vez e eu não vou aceitar esse tipo de censura."

Críticas de eleitores e Nunes como alvo

Até a confusão, as regras do debate tinha conseguido evitar o confronto entre os candidatos, substituindo as polêmicas por propostas. Nos três primeiros blocos, os candidatos responderam a perguntas de especialistas; no segundo as perguntas foram feitas por eleitores nas ruas.

O desabafo da cadeirante Andrea Schwarz, CEO da ONG Inclusão e Diversidade, chamou a atenção para a falta de investimento em acessibilidade. "Desde que adquiri minha deficiência, há quase 30 anos, não me sinto pertencente à sociedade e à cidade de São Paulo", afirmou. "A saúde da mulher com deficiência, então, é impossível fazer uma mamografia."

A ativista também se queixou de poucos investimentos. "A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência tem o menor orçamento. É uma vergonha o orçamento que está sendo destinado às pessoas com deficiência. Esse assunto é transversal a todas as ações que a Prefeitura tem que fazer", criticou.

Ricardo Nunes (MDB) reconheceu que, na história de São Paulo, pouco foi feito por pessoas com deficiência. "O orçamento da Secretaria Municipal de Pessoa com Deficiência era de R$ 12 milhões. Hoje é de R$ 80 milhões, mas ainda é pouco", afirmou o prefeito, após ter sido sorteado para responder à pergunta.

"Nem cachorro é tratado assim"

Gisele da Silva, moradora de Guaianases, também chamou a atenção ao questionar o valor da passagem de ônibus. "Nem cachorro é tratado igual a gente é [tratado]", disse Gisele. Ela afirmou ainda que os candidatos só lembram da população na hora do voto e perguntou onde o dinheiro da passagem do transporte municipal estava sendo usado.

Guilherme Boulos (PSOL) ironizou pedindo uma "salva de palmas" à Gisele. "Ela falou o que tá entalado na garganta de muita gente", disse Boulos. "Para onde tá indo o dinheiro do transporte? (...) Tem o dinheiro que o povo paga e tem o dinheiro que a prefeitura complementa, nosso dinheiro, dinheiro de imposto que a gente paga", disse Boulos.

Nunes, que também foi o principal alvo dos candidatos, disse que os adversários "não gostam de São Paulo". "Pode observar: só tem crítica, crítica, crítica", disse o prefeito.

Tabata e Boulos retrucaram Nunes. A candidata disse "nunca" ter visto "um prefeito brigar tanto com o que o povo está dizendo". Boulos afirmou que "ninguém falou mal da cidade", disse. "Falam mal da sua gestão, que é péssima, horrorosa, arrogante, além de tudo, não reconhece erro", afirmou.

Tom de confronto

No terceiro bloco, Marçal se esquivou de responder a uma pergunta sobre poluição. O empresário provocou Boulos ao sugerir que o psolista poderia apoiar "invasões" de propriedades. "Se alguém for fazer uma invasão em GCM e entrar pra combater isso, o Boulos vai ficar do lado de quem? Boulos respondeu com ironia. "Marçal, a única coisa que eu vou invadir é sua cabecinha vazia, vou invadir com ideia, com proposta, quem sabe até você aperta 50 no dia 6 de outubro."

Método Paulo Freire é hostilizado por Marina. A candidata do novo condenou o educador Paulo Freire ao tratar sobre analfabetismo na cidade. "Aqui não vai ter método Paulo Freire", prometeu. Boulos rebateu: "É impressionante, eles [bolsonaristas] falam com uma convicção que eu acho que eles acreditam nas baboseiras que eles criam", disse. "O método Paulo Freire de alfabetização de jovens e adultos é um método renomado, reconhecido internacionalmente, que alfabetizou muita gente aqui e lá fora", disse.

Prefeitura é alvo

Queda no ranking de educação expôs Nunes. Em uma pergunta sobre educação,Tabata criticou o prefeito ao dizer que a cidade "caiu 19 posições no ranking de capitais brasileiras" e que Nunes "será o primeiro prefeito da nossa história a entregar resultados piores de português e matemática do que ele recebeu". "De cada três crianças em são Paulo, duas passam de ano sem ler e escrever", disse ela ao propor ensino integral.

O prefeito culpou a pandemia de covid-19 pelos maus resultados. Disse ainda que a média de alfabetização da cidade são melhores do que Recife e Belém. "Hoje temos vaga de creche para todas as crianças", disse. ao afirmar que caiu a evasão escolar na cidade. "A gente tinha aqui 0,95% de evasão, recebeu os dados agora, olha que coisa sensacional: caiu para 0,7% a nossa evasão escolar", afirmou.

A pandemia voltou ao debate quando especialista criticou a política negacionista do governo Jair Bolsonaro (PL). Marina, que trabalhou no governo anterior, preferiu dizer que faltou vacina para a dengue no governo Lula (PT). Sobre a oferta de vacinas, disse que acha "fundamental", mas é contra exigir passaporte vacinal.

Marçal, que deveria comentar, defendeu Bolsonaro. "Ele fez tudo o que ele fez tentando acertar", disse. "Eu defendo a saúde, os especialistas, mas a politização que foi feita com esse assunto é nojenta", concluiu.

*Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Caíque Alencar, Fabíola Perez, Laila Nery, Saulo Guimarães e Wanderley Preite Sobrinho, do UOL, em São Paulo

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