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Atleta para carreira por doença; hoje fatura R$ 14 mi com treino sob medida

Clarissa Rios é CEO e diretora técnica da DoctorFit, empresa criada em 2012 - Divulgação
Clarissa Rios é CEO e diretora técnica da DoctorFit, empresa criada em 2012 Imagem: Divulgação
do UOL

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/09/2024 05h30

Clarissa Rios, 42, teve que interromper a carreira de jogadora de basquete profissional aos 23 anos, por conta de um tumor no fêmur. Já formada em educação física, decidiu cursar medicina, para ajudar as pessoas lesionadas ou em recuperação médica. Ainda na faculdade, abriu um estúdio de treinos personalizados com um método sem uso de máquinas convencionais de academia. Em um ano, o estúdio virou a DoctorFit. Em 2023, a empresa faturou R$ 14 milhões.

Tumor no fêmur interrompeu carreira

Clarissa começou a jogar basquete aos 6 anos, em Osório (RS), sua terra natal. Na época, o irmão treinava no time da cidade. "Então, minha mãe insistiu com o técnico para aceitar meninas também. Comecei a treinar lá", diz.

Dos 14 aos 23 anos, Clarissa jogou na Seleção Gaúcha de Basquete. A equipe que representava o Rio Grande do Sul nos campeonatos brasileiros e Conesul. Passou por todas as categorias (mirim, infanto, cadete e juvenil). Jogou na Liga Nacional por Florianópolis (SC). Atuava como ala-pivô.

Em 2005, descobriu um tumor no fêmur. Teve que parar de jogar basquete aos 23 anos.

Fui 'aposentada' no dia do diagnóstico. Fiquei sem chão. Imagina o baque na minha vida, pois meu sonho era jogar basquete por mais um bom tempo. Foi um caos na família também. Meus pais são médicos e sabem que tumor ósseo em gente jovem geralmente é maligno.
Clarissa Rios, CEO e diretora técnica da DoctorFit

Após investigar por seis meses a doença, ela descobriu que o tumor era benigno. "Não precisava tirá-lo, mas o médico me proibiu de fazer exercícios de alto impacto", diz. Clarissa tem o tumor até hoje, do mesmo tamanho (10 cm), mas sempre monitorado.

Ela continuou nos esportes

Na época, Clarissa já era formada em educação física. "Não podia mais praticar esportes de alto impacto, mas podia atuar como profissional de educação física", diz. Ela fez mestrado e virou professora universitária do curso de educação física. Também atuava como árbitra internacional de atletismo.

Em 2007, ela fez um intercâmbio como professora universitária nos EUA. Ficou dois meses na Universidade Estadual do Mississippi, acompanhando o treinamento físico das modalidades de basquete, futebol americano e atletismo. "Foi lá que desenvolvi os primeiros conceitos da metodologia de treinamento que hoje é o 'core business' da DoctorFit", afirmou. Na volta do intercâmbio, ela decidiu cursar Medicina, para, segundo ela, ajudar as pessoas lesionadas ou em recuperação médica a fazer exercícios.

Ela entrou na faculdade de medicina em 2009. Um ano depois, ela abriu um estúdio de 40 m², em Braço do Norte (SC). "Levei para o estúdio o conceito de 'exercício como remédio', que aprendi durante a faculdade de educação física", diz. Em 2012, ela e seu irmão Guilherme Simoni formataram o negócio para virar franquia. O estúdio virou a DoctorFit.

Em 2016, Clarissa se formou em medicina. "Quando terminei a faculdade, havia planejado tirar um ano sabático, mas um colega sugeriu que eu servisse o Exército, já que tenho um perfil de militar. O Exército tinha vagas de voluntários. Consegui uma vaga em clínica geral na unidade de João Pessoa [PB]", diz ela, que ficou sete anos no Exército. Clarissa continua morando em João Pessoa.

Treinos sem uso de máquinas tradicionais

Treinos - Divulgação - Divulgação
Os treinos são indicados para pessoas de qualquer idade e independente das limitações físicas
Imagem: Divulgação

A DoctorFit foi criada em 2012, em Braço do Norte. Hoje, a sede da empresa fica em Balneário Camboriú (SC).

A empresa é uma rede de estúdios de treinos físicos personalizados. O treinamento não utiliza máquinas convencionais, usa apenas pesos livres (como halteres, barras e tornozeleiras). Clarissa diz que a empresa possui mais de 7.000 treinos catalogados e 2.500 exercícios diferentes. A metodologia foi criada e ainda é atualizada por ela. Clarissa diz que o treinamento é montado com esses exercícios conforme a necessidade da pessoa.

O público-alvo da empresa é bem diverso. Atende desde pessoas em processo de reabilitação até clientes que buscam emagrecimento e ganho de massa muscular. Há treinos especiais para gestantes, pessoas com TEA (transtorno do espectro autista), com lesões articulares, pré e pós cirurgias bariátricas, crianças, pessoas com doenças neurológicas e cardiovasculares, por exemplo. A mensalidade custa, em média, R$ 350.

O gargalo do negócio foi replicar o conhecimento e manter a qualidade técnica dos profissionais e dos treinamentos. Segundo Clarissa, para solucionar esse problema, a empresa criou o DoctorFit System PRO, um sistema que gera as séries de treinos segundo as necessidades e objetivos de cada cliente. Além disso, ela realiza pessoalmente treinamentos aos professores da rede.

Franquia custa a partir de R$ 133 mil

A rede tem 35 unidades em operação. O modelo de negócio é loja de rua (100 m²). Para abrir uma franquia da marca, o investimento inicial é a partir de 133 mil. O faturamento médio mensal vai de R$ 30 mil a R$ 40 mil, e o lucro médio mensal, de 30%.

Em 2023, o faturamento foi de R$ 14 milhões. O lucro foi de R$ 4,4 milhões.

A DoctorFit tem três sócios. Além de Clarissa, também são sócios o seu irmão Guilherme Simoni (diretor financeiro) e Cristiano Hoffmann (diretor de operações), um ex-franqueado.

Volta ao basquete aos 38 anos

Clarissa Rios jogando - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aos 41 anos, Clarissa Rios foi convocada para seleção brasileira máster
Imagem: Arquivo pessoal

Aos 38 anos, Clarissa voltou a jogar basquete. Joga pela Avab (Associação de Veteranos Basquete do Rio Grande do Norte). Aos 41 anos, foi convocada para a seleção brasileira master, participando do Campeonato Mundial Master de Basquete na Argentina e, neste ano, do Panamericano Master no México, onde conquistou o terceiro lugar para o Brasil na categoria 40+.

Como ela conseguiu voltar a jogar? Clarissa diz que retornou às atividades esportivas após entender quais seriam as melhores condutas para manutenção da porção óssea que sustenta o fêmur, reduzindo o peso corporal (de 83 kg para 75 kg) e aumentando a massa muscular. Ela ainda utiliza uma dieta voltada para melhora da saúde óssea e muscular e faz reposição hormonal, já que está na menopausa.

O treinamento na metodologia da DoctorFit nos últimos 12 anos tem me mantido mais forte do que eu era aos 23 anos, com boa resistência física e me protegendo das lesões comuns osteoarticulares que se desenvolvem com o avanço da idade.
Clarissa Rios, CEO e diretora técnica da DoctorFit

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