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Sujeira e ratos: ex-funcionária expõe situação 'insalubre' em Ragazzo de SP

Ex-líder de plantão trabalhava em uma unidade de Santo André (SP) e também denuncia assédio moral - Fotos cedidas ao UOL
Ex-líder de plantão trabalhava em uma unidade de Santo André (SP) e também denuncia assédio moral Imagem: Fotos cedidas ao UOL
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Do UOL, em São Paulo

21/09/2024 05h30

Uma ex-funcionária da rede de fast food Ragazzo, do Grupo Habib's, entrou com um processo contra a empresa por condições "insalubres" de trabalho e assédio moral, entre outras acusações. Priscila Diny Borges Silva trabalhava na unidade do Grand Plaza Shopping, em Santo André (SP), e alega ter sido humilhada e obrigada a realizar tarefas como limpar a sujeira e "retirar ratos da loja".

O que diz a ex-funcionária

Priscila denuncia ambiente sujo e 'insalubre' no Ragazzo. Segundo a ex-funcionária, que entrou como atendente e depois virou líder de plantão, todos eram obrigados a lidar com sujeira e ratos no local de trabalho e, além disso, eram diariamente expostos a altas temperaturas de chapas, fornos e fritadeiras. Apesar das "condições inóspitas", Priscila "jamais recebeu o adicional de insalubridade", diz a ação trabalhista ajuizada em abril deste ano. Ela foi contratada em maio de 2023 e promovida em 2023, tendo trabalhado na unidade até março de 2024.

Processo cita assédio moral por parte de uma gestora. Priscila fala especificamente de Flávia — cujo sobrenome não foi divulgado — e relata situações em que foi intimidada e "tratada de forma desrespeitosa na frente de colegas". Em um dos casos, em janeiro, Flávia a chamou de "burra" e disse não saber por que era líder de plantão. "Ela estava sendo perseguida pela sua superior. Isso abalou muito a saúde dela", contaram ao UOL os advogados Júlio Nascimento e Jeckson Ângelo, que representam Priscila.

Situação humilhante a levou a uma síndrome de burnout. Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio caracterizado por exaustão extrema, estresse e esgotamento físico. Na ação, Priscila relata ter sofrido com alterações de sono, problemas de concentração e memória, alterações emocionais e depressão. A ex-funcionária "foi vítima de autoritarismo e do abuso de poder" que atingiram sua "honra, dignidade e saúde", diz outro trecho do processo.

Ex-funcionária cobra horas extras e quer rescisão indireta. Ela alega ter sido frequentemente obrigada a fazer de duas a três horas extras e que trabalhava em um turno de 8h às 23h, em média, quatro vezes por mês, "sem receber a devida remuneração". Embora seu contrato — ainda ativo — previsse jornada em escala 6x1, das 9h às 17h, a ex-funcionária trabalhou das 14h às 22h na maior parte do tempo. No processo, há inclusive o print de uma conversa no WhatsApp em que uma superiora orienta Priscila a não bater ponto.

Valor da causa, incluindo indenizações, passa de R$ 135 mil. A maior parte dessa quantia corresponde à indenização por danos morais, que equivale a 20 salários de Priscila (R$ 44.191,80). As verbas rescisórias exigidas (salário restante, férias e FGTS) somam R$ 6.424,26. São pedidos ainda R$ 24.329,09 em horas extras e R$ 14.277,47 em adicional de insalubridade, além do reconhecimento da síndrome de burnout como doença ocupacional. O valor total da causa é de R$ 135.374,16.

Segunda audiência entre as partes aconteceu na quinta (19). Segundo os advogados de Priscila, não houve acordo. O julgamento foi marcado para 21 de outubro.

[Priscila] Passou a ser perseguida e tratada de maneira autoritária, intimidatória, vexatória e menosprezada por seus superiores (...). Com o evidente intuito de desmoralizar, constranger e desestabilizar emocionalmente e profissionalmente (...), logo a reclamante passou a ser tratada com rigor excessivo, repressões desnecessárias, cobranças excessivas e tarefas exigidas além do normal.
Trecho de ação trabalhista contra o Ragazzo

Os alimentos - os pacotes de coxinha, essas coisas - muitas vezes ficavam abertos, porque não vendia tudo no mesmo dia. Não tinha como guardar em um lugar sem acesso aos ratos (...). Quando eles [funcionários] passavam essa situação para os superiores, eram tratados com arrogância, com desprezo, falavam que praça de alimentação de shopping é assim mesmo.
Defesa de Priscila, em conversa com o UOL

O que diz o Ragazzo

Procurado pelo UOL, o Grupo Habib's — dono do Ragazzo — disse apenas que "não comenta casos judiciais que estão em andamento".

A reportagem não conseguiu contato com Flávia, gestora de Priscila. O espaço segue aberto para manifestação.

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