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'Cidade; Campo', drama que trata da migração no Brasil, abre o Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz

21/09/2024 11h36

O primeiro filme a ser exibido no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, na manhã deste sábado (21), trata de duas histórias de migração entre a vida rural e urbana, de mulheres que buscam um novo começo. O longa-metragem brasileiro "Cidade; Campo", da diretora Juliana Rojas, foi apresentado em avant-première, fora de competição, tendo sido aplaudido na sala de projeção do antigo cassino municipal. A RFI conversou com a produtora desse drama nacional, Sara Silveira, após a sessão.  

O primeiro filme a ser exibido no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, na manhã deste sábado (21), trata de duas histórias de migração entre a vida rural e urbana, de mulheres que buscam um novo começo. O longa-metragem brasileiro "Cidade; Campo", da diretora Juliana Rojas, foi apresentado em avant-première, fora de competição, tendo sido aplaudido na sala de projeção do antigo cassino municipal. A RFI conversou com a produtora desse drama nacional, Sara Silveira, após a sessão.  

Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz 

De um lado, a história de Joana, que é obrigada a deixar a vida no campo depois que sua cidade é devastada pelo rompimento de uma barragem. A personagem é inspirada no drama de muitas famílias atingidas pela catástrofe de Brumadinho, em Minas Gerais, em janeiro de 2019, quando a barragem da Mina Córrego do Feijão, controlada pela Vale S.A, se rompeu. Ela então vai viver com a irmã, em São Paulo, sem jamais superar o drama de ter perdido tudo neste desastre ambiental. 

"Num momento, você sai do campo porque você perde tudo por forças de uma tragédia, de uma usina que explode os seus aparatos e inunda essa cidade, destruindo a vida de muitas pessoas que até hoje ainda não foram recompensadas e é uma luta muito grande no Brasil com relação a esse reconhecimento", explica a produtora Sara Silveira. "O estado de Minas Gerais é um estado forte no Brasil e sofreu este abalo, que nos faz pensar cada vez mais no que estamos fazendo com a natureza e o clima", alerta.

"Cada um de nós tem que ter em mente que é preciso proteger o nosso planeta contra as grandes indústrias e as maldades climáticas que o mundo está sofrendo e esse filme vem com este grito", completa. "Cinema também é educação, cinema é revolução e precisamos mudar o mundo", alerta. "Muitas famílias vivem na borda de rios que são próximos a essas usinas, que invadiram essas terras para tirar o minério desse solo brasileiro riquíssimo. Hoje o mundo está clamando por mudança", acrescenta. 

A segunda parte do filme conta a aventura de Flávia, que após a morte do pai, se instala na antiga fazenda da família com a namorada Mara, personagem vivida pela atriz Bruna Linzmeyer. As duas são confrontadas pela natureza, fantasmas do passado e, sobretudo, o avanço da agricultura extensiva no centro-oeste do Brasil. "Um casal de mulheres se muda para o interior do Mato Grosso do Sul, onde uma delas é herdeira, e lá vai tentar descobrir as suas raízes", conta Sara Silveira.

O filme foi rodado em Ponta-Porã, cidade do Mato Grosso do Sul, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. "Sair da grande capital sul-americana, São Paulo, e ir para um interior duro, rústico, é outro grito nosso, brasileiro, para o mundo", diz. "A soja que está destruindo o nosso solo, hectares e mais hectares no horizonte ao infinito de plantações, numa terra que já não aguenta mais e está gritando porque também está doente", denuncia.  "Nós estivemos lá, vimos o problema dos agrotóxicos e insumos que fazem mal a humanidade", diz.   

Grito de humanidade

A estreia mundial de "Cidade; Campo" aconteceu no início do ano, durante a Berlinale, quando a diretora Juliana Rojas venceu o prêmio de melhor direção na mostra Encounters, paralela ao evento principal. O elenco tem ainda Marcela Vianna e Mirella Façanha.  

Além de ser interpretado, o filme é produzido e dirigido por mulheres. Um "trabalho de inclusão", afirma Sara Silveira. "Este filme é um chamado para as mulheres encontrarem o seu lugar, terem o devido respeito e a dignidade que merecem", diz. "Nós, mulheres, temos agora a oportunidade de dar este grito social; político e de humanidade", conclui.  

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