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Seca extrema na Amazônia ameaça fornecimento de energia para Manaus

Trecho seco do rio Solimões proximo à comunidade indígena Porto Praia, município de Tefé (AM)  - Lalo de Almeida - 18.set.24/ Folhapress
Trecho seco do rio Solimões proximo à comunidade indígena Porto Praia, município de Tefé (AM) Imagem: Lalo de Almeida - 18.set.24/ Folhapress
do UOL

The Brazilian Report, em Brasília

20/09/2024 05h30

A pior estiagem enfrentada pelo Brasil nos últimos 75 anos ameaça o abastecimento de energia elétrica na região de Manaus, capital do Amazonas onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas.

O alerta foi dado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) há 20 dias. Em documento encaminhado ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), ao qual Brazilian Report teve acesso, a agência reguladora alerta que "a situação de seca na região Norte tem se agravado" e que isso está "resultando em dificuldade de navegabilidade em alguns rios da região amazônica, o que pode representar risco de desabastecimento de combustível para as centrais geradoras localizadas na região".

O ONS é a instituição responsável por gerenciar as operações diárias e a programação do abastecimento nacional de energia. Com a baixa no nível de água em várias regiões, como o rio Solimões, um dos afluentes que formam o rio Amazonas, são grandes os riscos de encalhe de embarcações de combustível, já que em várias regiões o meio fluvial é a única rota de acesso.

Embora a região amazônica concentre as maiores usinas hidrelétricas do país, grande parte dessa geração é enviada para a região Sudeste do país, o que faz com que territórios amazônicos dependam da geração de termelétricas a gás e óleo diesel.

Em seu ofício, a Aneel cita o fato de que a principal região produtora de óleo e gás na região, o chamado "Polo Urucu", no município de Coari (AM), controlado pela Petrobras, depende, em parte do percurso, do transporte fluvial até chegar ao terminal portuário de Solimões, o qual está localizado em uma região que tem sofrido severamente com a seca.

"A dificuldade de movimentação de GLP/petróleo por via fluvial, em função de navegabilidade durante crise hídrica, poderá representar parada de produção desses produtos, indisponibilizando, parcial ou totalmente, o suprimento de gás natural", afirma a Aneel no documento.

Para afastar riscos de desabastecimento, a agência tem cobrado das usinas a manutenção de seus estoques de combustível nos níveis mais altos, com a finalidade de evitar paralisação por falta do insumo.

O MME (Ministério de Minas e Energia) acompanha o assunto de perto, por meio da "sala de monitoramento do abastecimento de combustíveis na região Norte", que foi criada pela pasta.

Há 20 dias, segundo o MME, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), responsável pela gestão das estradas e hidrovias federais, informou que as ações de dragagem (retirada de sedimentos do leito) no trecho do rio Solimões, entre as cidades de Coari e Codajás, no estado do Amazonas, seria iniciada apenas na segunda quinzena deste mês, o que aumenta os riscos de encalhe.

"Tal fato aumenta os riscos de problemas sérios na rota de navegação que leva produtos da província petrolífera de Urucu para Manaus, podendo, no limite, até implicar na parada da planta de Urucu, com corte de suprimento de gás natural, petróleo e GLP para a Refinaria de Manaus, impactando o mercado de suprimento na região.

O Amazonas é abastecido por 121 usinas térmicas de produção de energia. Em muitos casos, os geradores também relatam aumento no custo do diesel que utilizam em suas plantas, devido ao preço do frete do combustível, que ficou mais caro.

Seca já compromete transporte no Acre

No estado do Acre, vizinho do Amazonas, a seca dos rios já compromete o abastecimento de usinas da região. Brazilian Report apurou que, nos municípios de Cruzeiro do Sul, Feijó e Tarauacá, o transporte de combustível das usinas trocou o caminho mais curto dos rios pela estrada, a BR-364, bem mais longo.

No dia 13 de setembro, a empresa Rovema Energia informou que, em Cruzeiro do Sul, principal polo econômico da região cortado pelo rio Juruá, um afluente do rio Amazonas, está com o transporte "suspenso pela seca que atinge a região".

Para evitar falta de combustível, o transporte deixou o rio e migrou para a rodovia, com cerca de 20 carretas cruzando 1.250 km, entre Porto Velho (RO) e Cruzeiro do Sul (AC).

O combustível destinado para Cruzeiro do Sul é normalmente transportado pela via fluvial, a partir de Manaus pelo rio Juruá, durante os meses de chuva. Devido à seca, porém, um total de 5.000 m³ de combustível chegou a ficar encalhado, segundo a empresa, mas o transbordo do insumo para outra embarcação já foi feito, aguardando melhora do fluxo de navegabilidade.

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Bancos de areia no rio Solimões, um dos maiores afluentes do rio Amazonas, observados durante um sobrevoo perto de Coari (AM)
Imagem: Jorge Silva - 19.set.24/Reuters

Neste ano, segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), do Ministério de Ciência e Tecnologia, 58% do território nacional já foi afetado pela seca. Em cerca de um terço do país, o cenário é de seca severa.

A Bacia Amazônica enfrenta a pior estiagem em 45 anos. Até o dia 15 de setembro, 820 incêndios foram identificados na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 20 municípios concentram 85% dos focos de calor na Amazônia e, entre 1º de janeiro e 15 de setembro, foram queimados 9.686.750 hectares de floresta, o equivalente a 2,3% do bioma no Brasil.

Leia o texto original no site The Brazilian Report.

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