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Morte de ameaçado pelo PCC: MP pede DNA para investigar segurança de Marçal

Pré-candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal contratou tenente-coronel Edson Melo como segurança - Redes sociais
Pré-candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal contratou tenente-coronel Edson Melo como segurança Imagem: Redes sociais
do UOL

Do UOL, em São Paulo

20/09/2024 05h30

Na apuração do possível assassinato seguido de confronto forjado em operação policial chefiada pelo oficial que hoje atua como segurança de Pablo Marçal (PRTB), o Ministério Público pediu para a Polícia Civil o exame pericial de vestígios de sangue e de DNA no veículo onde estavam os corpos. Entre os três mortos, estava o piloto Felipe Ramos Morais, que era alvo de ameaças do PCC.

O que aconteceu

Caso foi reaberto, a pedido do MP, após resultado negativo de exame de pólvora nas mãos do piloto. Comandante da ação ocorrida em fevereiro de 2023, o tenente-coronel Edson Melo, conhecido como Edson Raiado, pediu licença da corporação para atuar como segurança do candidato a prefeito de SP. Mesmo licenciado, ele recebe salário bruto de R$ 33 mil do governo goiano, indica o Portal da Transparência.

Dos 15 tiros que mataram as três vítimas, 12 foram disparados por Edson Melo, diz o Ministério Público. Ainda de acordo com a Procuradoria, os outros três disparos foram dados pelo major Renyson Castanheira Silva.

Com reabertura do inquérito, a Promotoria pediu novos depoimentos de testemunhas à Polícia Civil. Entre elas, está o dono da empresa de aviação citado pela mãe de Nathan Moreira Cavalcante, funcionário da empresa de voo panorâmico também morto na ação. Segundo ela, o homem teria dito que o filho dela estava "no lugar errado, na hora errada", cita o documento do MP produzido na terça-feira (17) e obtido pelo UOL.

Dados dos celulares. O MP também pediu a extração do conteúdo dos aparelhos dos mortos na ação, já autorizada pela mãe de Nathan e pela esposa do mecânico de aeronaves Paulo Ricardo Pereira Bueno, o terceiro morto na operação da PM de Goiás. Nathan e Paulo não tinham antecedentes criminais, segundo o inquérito policial do caso.

O órgão quer a extração de impressões digitais nas armas que teriam sido apreendidas com as vítimas. A Promotoria também solicitou à Polícia Civil a complementação dos laudos cadavéricos, indicando as lesões sofridas pelas vítimas. O MP solicitou ainda as fotos originais ou em melhor qualidade do laudo de local e da reprodução simulada produzidos pelo Instituto de Criminalística.

Pedido de esclarecimentos ao Samu. O MP quer que os socorristas que retiraram os corpos da cena do crime prestem depoimento à Polícia Civil. Os laudos cadavéricos indicam que eles já estariam mortos após a ação policial e não precisariam de atendimento médico. Com os corpos no local, a perícia poderia fazer um trabalho mais preciso.

Segurança de Marçal comentou reabertura do caso em seu perfil nas redes sociais. "Realmente, o inquérito foi reaberto (...). Passou [sic] horas ali, o cadáver não vai dar positivo [sobre o resultado negativo do exame de pólvora]. E foi recolhido no dia subsequente ao confronto", disse o tenente-coronel licenciado da PM de Goiás. A assessoria de Marçal tem sido procurada desde a reabertura do caso, mas não tem se manifestado.

A reportagem também procurou a defesa do major Renyson Castanheira Silva. Se houver retorno, o texto será atualizado.

Mudança de cena e outro caso suspeito

Equipe chefiada por segurança de Marçal disse, à época, que atirou após disparos dos mortos na ação. Contudo, laudos anteriores do MP de maio de 2023 indicavam alteração de cena de crime, já contestando a versão de legítima defesa da equipe do tenente-coronel Edson Melo, o Edson Raiado, conforme revelou reportagem do UOL.

Os estojos das munições dos PMs foram removidos do local. As armas supostamente usadas pelos três mortos foram encontradas em uma caminhonete, retiradas da cena do crime. Mas os policiais não souberam explicar em depoimento como as armas foram colocadas no veículo. Apesar de reconhecer irregularidades, a Promotoria arquivou o caso à época alegando falta de provas.

Segurança de Marçal tentou se eleger deputado nas eleições de 2022 em Goiás citando participação em buscas de serial killer. Influencer no Instagram, onde tem 328 mil seguidores, Raiado escreveu um livro sobre a operação do Caso Lázaro Barbosa, morto em junho de 2021 em Águas Lindas de Goiás (GO).

A morte do piloto ameaçado pelo PCC não foi o primeiro caso de suspeita de confronto forjado envolvendo Raiado. O oficial chefiava agentes da tropa investigada por suposta armação após o vazamento de um vídeo que registrou o assassinato de dois homens no dia 1º de abril em Goiânia. As imagens foram gravadas pelo celular de uma das vítimas sem que os PMs percebessem. Seis PMs foram indiciados.

A Polícia Civil apura se o vídeo mostra PMs simulando armação. Um deles retira a arma de um saco plástico. O outro agente atira, simulando disparar. Um dos mortos na ação era informante da própria PM e havia acusado policiais de extorsão quando foi preso em 2020.

Quem era o piloto ameaçado pelo PCC

O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, jurado de morte pelo PCC - Reprodução - Reprodução
O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, jurado de morte pelo PCC
Imagem: Reprodução

Felipe Ramos Morais levou de helicóptero dois líderes do PCC para uma emboscada na região metropolitana de Fortaleza (CE) em 2018. Rogério Jeremias Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram mortos pela própria facção.

Após os assassinatos, o piloto foi preso por suspeita de envolvimento no crime. Em abril de 2021, Felipe foi solto da penitenciária federal de Campo Grande (MS) por determinação da Justiça cearense. O piloto sempre negou o envolvimento com a organização criminosa.

Após fazer acordo de delação premiada contra a cúpula do PCC, ele foi ameaçado de morte pela facção. Com base nas delações dele, a Polícia Federal bloqueou ao menos R$ 1 bilhão em bens e contas bancárias ligadas à organização criminosa.

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