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Jornalista Véronique Mortaigne elogia a "irracionalidade" do Brasil em novo livro

20/09/2024 13h53

O livro "Brésils, éloge de la déraison" (Brasis, elogio da irracionalidade, em tradução livre) acaba de chegar às livrarias francesas pela editora Equateurs. A obra é assinada pela jornalista Véronique Mortaigne, grande conhecedora do Brasil e da música brasileira.

O livro "Brésils, éloge de la déraison" (Brasis, elogio da irracionalidade, em tradução livre) acaba de chegar às livrarias francesas pela editora Equateurs. A obra é assinada pela jornalista Véronique Mortaigne, grande conhecedora do Brasil e da música brasileira.

Véronique Mortaigne conheceu o Brasil muito jovem durante uma viagem pela América Latina, se encantou e ficou. Ela morou no país, mais precisamente em Olinda, entre 1975 e 1981. Depois, voltou para Paris, começou a carreira de jornalista e trabalhou até 2016 no prestigioso jornal Le Monde escrevendo principalmente sobre música, e em particular, sobre música brasileira.

Ela tem vários livros publicados sobre música, músicos e um livro de entrevista com o antropólogo Claude Levi-Strauss, autor de "Tristes Trópicos".  "Brésil, éloge de la déraison" é sua primeira obra especificamente sobre o Brasil.

Na obra, o jornalista entrelaça lembranças pessoais de sua relação com o país, com a cultura e a história brasileira. Depois que voltou para a França, ela nunca mais deixou de ir ao Brasil pelo menos uma vez por ano para visitar os amigos, entrevistar grandes nomes da MPB, como João Gilberto ou Tom Jobim. O ritmo e as visitas só foram interrompidos durante três anos por causa da pandemia. Aí veio a saudade e com ela o desejo de escrever um livro.

"Eu falei: 'eu tenho que relembrar o porquê do amor que eu tenho pelo Brasil", conta. Ela completa que "o Brasil me deu muito e eu queria saber exatamente o que ele me deu, o que é ser brasileiro e o que o Brasil, que é uma ilha imensa, com muita diversidade, pode trazer para a Europa, para todo o mundo".

Entre história pessoal e coletiva

Nessa autobiografia hibrida, Véronique Mortaigne vai de sua história pessoal à história coletiva. Ela escreve na primeira pessoa, contando sua descoberta do Brasil nos anos 1970, viagens e encontros que fez no país, mas passa com naturalidade para a terceira pessoa para contar a história brasileira. A narrativa, que tem sete partes compostas por vários capítulos que podem ser lidos individualmente, quase como crônicas, passeia pelo tempo e pelo espaço.

A autora diz que seu objetivo era também contar essa história brasileira que ela descobriu muito "através da música, e particularmente, por exemplo, (dos desfiles) das escolas de samba". Um desses enredos foi uma verdadeira revelação. "Eu assisti um desfile da Portela que falava de como os judeus de Recife fundaram Manhattan. Eu fiquei admirada", lembra. A história dos judeus de Pernambuco é narrada em detalhes em um dos capítulos do livro.

"Eu me sinto às vezes uma cidadã do século 16 de Olinda. De repente, sou a judia sefardita que chega ao Brasil para desenvolver a cana de açúcar com as coisas piores que se pode imaginar, como comprar e vender escravos. Quer dizer, tenho um sentimento profundo de que eu faço parte dessa história", revela.

Elogio à irracionalidade

A tradução literal do título seria "Brasis, elogio da irracionalidade", mas a frase também poderia ser traduzida como "elogio da insensatez" para lembrar o título de uma canção de Tom Jobim que Véronique Mortaigne conheceu, entrevistou e cita muito no livro.

No texto, onde a autora conversa com os gatos brasileiros e franceses, ela relembra que quando chegou ao Brasil era muito "cartesiana francesa", isto é, só acreditava no que via e não "em coisas invisíveis". Até que foi visitar uma rezadeira e a minha maneira de encarar a vida, os acontecimentos, a história, tudo mudou radicalmente".  

Elogio à música brasileira

"Brésils, éloge de la déraison" é também um elogio à música brasileira. A narrativa é permeada de letras de músicas que marcaram a relação de Véronique Mortaigne com o país e a história da MPB. No final do livro, a autora indica até uma playlist.

"No Brasil, a música traduz tudo, acompanha cada dia, cada hora, né? Tem uma música para tudo", descreve. Ela acredita que a música "é uma porta de uma entrada para entender o país, para entender como é que as pessoas pensam".

A questão da origem, de "o que é ser brasileiro", as raízes brasileiras, permeia a narrativa. Véronique Mortaigne cita um teste DNA feito pela filha, nascida em Pernambuco, e conclui que o "Brasil é um planisfério". Ela pensa que mesmo neste momento de avanço de movimentos identitários no Brasil, a questão da identidade coletiva continua pertinente no país.

Ressaltando que a "definição da identidade passa pelo passado" e que o Brasil vive "muito no presente", a autora escreve que o país "realmente tenta dar uma definição de si mesmo, sem conseguir". Mas, segundo ela, isso proporciona ao mesmo tempo "uma liberdade" e "faz o charme" do Brasil.

Clique na imagem principal para assistir à entrevista completa.

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