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Futuro gabinete do governo francês é marcado por embates entre Macron e aliados de direita

20/09/2024 06h38

A nomeação de um novo primeiro-ministro na França 60 dias após a realização de eleições legislativas antecipadas não significou o fim da crise política no país. Quinze dias depois de assumir o posto, o conservador Michel Barnier finalmente apresentou ao presidente Emmanuel Macron uma lista de 38 ministros para ocupar o futuro gabinete - mas o anúncio oficial dos nomes aos franceses ainda não ocorreu.

O impasse permanece entre a direita, fortalecida pela escolha de um nome do partido Os Republicanos (LR) para o cargo de premiê, e o centro, representando o presidente. A esquerda, vencedora do pleito realizado em junho e julho, não participa do novo governo, "depois que Barnier teve de engolir diversas recusas dos socialistas" durante as conversas para a formação da lista de ministros, salienta o jornal Libération nesta sexta-feira (20).

"Se ainda precisasse de uma prova do enfraquecimento do Executivo depois da dissolução da Assembleia, essa divulgação dos nomes sem o anúncio oficial nas escadarias do Eliseu é mais uma. A nova versão da lista preliminar, retocada por Macron que a julgou à direita demais, representa um reequilíbrio" das forças políticas no governo, acrescenta o jornal.

Barnier - que chegou a ameaçar jogar a toalha diante das dificuldades para compor o gabinete - prometeu revelar até domingo o ministério completo. Os últimos detalhes são alinhados entre o grupo macronista e a direita tradicional.

Críticas

No entanto, Macron não teria recusado nenhum dos nomes indicados, entre eles o de políticos conservadores da ala mais à direita do LR.

O senador Bruno Retailleau, da direita católica, se prepara para comandar uma das pastas mais importantes, o Ministério do Interior. A indicação de Retailleau, que tem posições parecidas com as da extrema direita sobre a questão da imigração, foi denunciada neste sexta-feira pela esquerda.

Outro nome anunciado e criticado pela oposição foi o da senadora LR Laurence Garnier, escolhida para o Ministério da Família, apesar de suas posições contra o casamento homoafetivo e contra a inscrição do direito ao aborto na Constituição francesa.

A presidente interina de Os Republicanos, Annie Genevard, ficaria com a Agricultura. Dezesseis dos 38 ministros congitados já estão em algum ministério atualmente.

Gabinete 'absurdamente parecido' com o anterior - e sem a esquerda

"O primeiro-ministro reivindica uma ruptura, mas o perfil da sua equipe se parece absurdamente com a precedente, apimentada com mais pesos pesados dos Republicanos - como se fosse uma confirmação da 'direitada' do mandato de Emmanuel Macron", afirma Le Monde, ao salientar que a ausência de políticos da esquerda "contribui para a impressão de desequilíbrio da nova equipe".

Le Monde acrescenta ainda que os macronistas, "acostumados a segurar as rédeas do poder há sete anos, ficaram furiosos por não serem convidados a participar das grandes decisões".

Le Figaro avalia que as negociações políticas para a formação do gabinete sinalizam "que o nível continua a baixar - e já estávamos próximos do nível do mar" desde a dissolução da Assembleia francesa. A lista com os nomes do ministério é apresentada "depois de 15 dias de intensas negociações nos bastidores, pontuadas de golpes baixos, portas batendo e ameaças de demissão".

"Diante de tal espetáculo, como se espantar que o voto de protesto se refugie no Reunião Nacional, na França Insubmissa ou na abstenção?", questiona o diário, referindo-se aos partidos de extrema direita e esquerda radical, respectivamente.

"O novo primeiro-ministro sabia que deveria encarar a hostilidade de princípio" destes dois partidos, continua Le Figaro, mas agora também "precisa contar com a hostilidade dissimulada do partido presidencial" - e em especial do ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, líder dos macronistas.

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