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Em debate sem grito ou cadeirada, Marina Helena assume versão Marçal

Marina Helena em dabate SBT News - Reprodução
Marina Helena em dabate SBT News Imagem: Reprodução
do UOL

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

20/09/2024 14h12Atualizada em 20/09/2024 15h16

Quem ligou a TV para assistir ao debate do SBT e do portal Terra com os candidatos a prefeito de São Paulo poderia imaginar que sintonizou no programa errado.

Durante (quase todo) o confronto, ninguém tinha ainda gritado nem jogado nenhum tipo de objeto pontiagudo em ninguém. Teve espaço até (pasmem) para candidatos discutirem?propostas.

Parte da quietude veio da "nova" (risos) postura de Pablo Marçal (PRTB), que quebrou a quarta parede do espetáculo logo de início e garantiu ao público, com cara de cachorro esquecido na mudança: a intenção dele, ao mostrar sua "pior versão" até o último debate, foi apenas expor o caráter de cada oponente?

O curativo na mão atingida por uma banqueta na semana passada era apenas a lembrança visual do processo de imersão.

As provocações, segundo ele, serviram para mostrar quem entre os candidatos. precisava de internação psiquiátrica, quem tinha perfil ditatorial, quem tinha B.O por violência doméstica.

A explicação foi dada enquanto ele respondia a uma pergunta de Tabata Amaral (PSB), que deu a ele a chance de falar sobre educação e o comparou ao Jogo do Tigrinho: atrai um público desiludido com promessas fáceis e "lasca" a vida das pessoas.

Ela citou ainda obras inacabadas em Angola com dinheiro de doações a Marçal e os processos a que o adversário responde por quem se sentiu lesado por seus cursos e mentorias.

Em vez de espernear, como das últimas vezes, Marçal aproveitou o confronto para falar sobre seu "novo eu" e pedir perdão ao eleitor. "Eu não sou o palhaço (dos debates). Sempre respondi aos palhaços".

Ele disse que Tabata (a quem chamava de Chatabata quando não havia regra ainda de chamar adversários apenas pelo nome) "parece bem comportada", mas era ela quem levava baixaria ao debate.

Foi dessa maneira que o candidato do PRTB tentou mostrar um lado zen e mais propositivo, citando projetos para conter o trânsito da metrópole e levar "mentalidade" de riqueza às escolas municipais.

A postura zen de Marçal durou até a segunda página. Antes do fim do embate ele já chamava Ricardo Nunes (MDB) de "tchutchuca do PCC" e jogava normalmente cascas de banana para os adversários caírem com a cadeira na mão.

Em busca do voto das mulheres

A mudança de postura acontece após a escalada na rejeição de Marçal apontada pelas pesquisas.

Antes do primeiro debate, quando pouca gente o conhecia, 30% dos eleitores diziam não votar nele de jeito nenhum; hoje são 47%, e com viés de alta, segundo o último Datafolha.

Parado nas pesquisas, o ex-coach tem penado para conquistar o voto das mulheres. Com 19% das intenções de voto, ele soma 12% das preferências do eleitorado feminino. Seus principais concorrentes, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos (PSOL), marcam 30% e 29%, respectivamente.

O aceno veio mais torto do que suas ideias para São Paulo. "Sou vítima de um homem que não consegue debater ideias sem agredir", disse ele, ao falar sobre violência doméstica. Sim, ele se comparou a uma mulher vítima de agressões.

José Luiz Datena (PSDB), a quem Marçal provocou e provocou até receber uma cadeirada no último domingo (15), soma 5% das intenções de voto entre mulheres.

Sabendo disso, e em meio à acusados de assédio lançada por Marçal, ele também tentou focar o discurso na defesa das mulheres, mas tropeçou em uma (imensa) gafe: "Eu, todos os dias no meu programa, há 26 anos, venho defendendo agressores, bandidos e canalhas que agridem mulheres. Todos os dias."

Marina Helena on fire

Com Marçal versão paz e amor (ok nem tanta paz nem tanto amor), coube a Marina Helena (Novo) assumir o papel de franco atiradora do encontro.
Da metralhadora dela partiu uma coletânea de platitudes sobre política, inchaço da máquina pública, Justiça pró-bandidagem e "boquinhas para a companheirada", que fariam corar o tio mais revoltado do WhatsApp.

Sobrou para Boulos ("ele gosta tanto de defender bandido"), para Nunes ("criou cabide de empregos"), para Marçal ("usou meu plano de governo") e Datena ("gaguejava e está aprendendo") e até para o presidente Lula ("um grande ladrão").

"Acabar com a esquerda" foi a única proposta citada por ela para resolver a questão da?mobilidade urbana. Menos mal: na véspera, quando tentou falar do tema a sério, na sabatina do Estadão, ela sugeriu substituir linhas de ônibus por subsídio a usuários de Uber.

Era uma postura coerente a quem, no último debate, disse que a "violência verbal era parte da democracia".

Escaldados, os rivais evitaram dar palanque à candidata e a deixaram sambar (quase sempre) sozinha.

Boulos preferiu focar os ataques (sem gritos) a Nunes e vice-versa, num exercício de ligação direta com a clara intenção de isolar os demais.

Marçal ficou tão mordido que por pouco não rasgou a fantasia. Não deu tempo: dessa vez, todos saíram sem arranhão ou cordas vocais avariadas.

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