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Debate tem Marçal isolado, Boulos x Nunes e foco em segurança e mulheres

do UOL

Do UOL*, em São Paulo

20/09/2024 13h02Atualizada em 20/09/2024 14h59

No terceiro debate da semana, agora no SBT, os candidatos à Prefeitura de São Paulo isolaram Pablo Marçal (PRTB) e focaram mais em propostas — com destaque a programas para segurança e para mulheres. Guilheme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) polarizaram a dicusssão.

O que aconteceu

Marçal foi evitado pelos rivais já no primeiro bloco, etapa em que os candidatos fizeram perguntas entre si. Somente após 23 minutos de debate o apresentador César Filho disse que Tabata obrigatoriamente teria de questionar Marçal. Ela perguntou sobre o programa aprovado por sua sugestão na Câmara dos Deputados, o Pé de Meia, um valor para "nenhum jovem abandonar o estudo".

Marçal não comentou sobre o programa e preferiu sugerir uma proposta sua. "A primeira delas é transformar a educação, a escola de aula pública de São Paulo na escola olímpica. O que que é isso? São mais de 60 modalidades onde o esporte molda caráter, seu filho vai ter uma ocupação e nós vamos investir nele nas competições. Segundo, educação financeira. Na Europa, mais de 70% das pessoas investem na bolsa, nos Estados Unidos mais de 50% bolsa e no Brasil é 20% investe na bolsa, disse.

Em sua tréplica, Tabata lançou a primeira provocação. Ela comparou o método do influenciador na campanha ao jogo do Tigrinho. "Pablo Marçal é como o jogo do Tigrinho: promessas fáceis que podem até atrair quem está desiludido. Com a vida da maioria das pessoas. Quanta gente que não fez os cursos dele, em que ele promete tudo isso, que agora o processam? O que ele fez em Angola é de partir o coração", disse ela em referência a uma reportagem do site Intercept Brasil sobre as 300 casas que Marçal prometeu construir no local, mas que só teria entregue 30. "Os processos que ele responde, os golpes que ele deu na quadrilha. Por isso que é importante a gente conhecer a história das pessoas", disse.

Marçal respondeu indicando que pretendia mudar de postura após estagnar nas pesquisas. Ele pediu desculpas, mas alfinetou Tabata. "Quero dar os parabéns aqui pra Tabata, que ela começou a baixar o nível do debate. E aproveitando essa oportunidade, eu quero pedir perdão pra todo eleitor paulistano, que minha tentativa até o último debate [era] expor o caráter de cada um", afirmou. O influenciador provocou os rivais ao dizer que um deles precisa de "internação psiquiátrica [em referência a Datena], outro tem um perfil ditatorial [em alusão a Boulos], alguém que tem boletim de ocorrência em relação à violência doméstica [Nunes]", afirmou sem citar nomes.

Em razão da comparação com o jogo do Tigrinho, Marçal ganhou direito de resposta e prometeu mudar de postura na campanha — promessa quebrada antes mesmo do fim do debate. Disse que "minha pior [versão] eu já mostrei nos debates". "A partir de agora, você vai ver alguém que tem postura de governante que de fato gerou riqueza, que gerou mais empregos, que de fato é o único candidato que pode tirar você dessa miséria", afirmou. Ao final do debate, voltou ao ataque e chamou Nunes de "tchutchuca do PCC"

Violência contra mulheres

O aumento da violência contra mulheres foi um dos temas mais tratados no debate. Boulos foi o primeiro a entrar no tema. Na disputa pelo voto feminino, ele parece empatado tecnicamente com Nunes, com 30% e 29% da intenções de voto, respectivamente segundo o Datafolha. O candidato do PSOL disse que o feminicídio cresceu "40% no último período" e perguntou a Datena sobre a política para o setor.

Tucano prometeu aumentar as Patrulhas Maria da Penha —já criada para combatr feminicídios. "Eu, todos os dias do meu programa, há 26 anos, venho defendendo agressores, bandidos, canalhas que agridem mulheres", disse, confundindo agressores com vítimas. "Essas patrulhas serão aumentadas e bem equipadas", afirmou. Já Boulos prometeu "dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana".

Tabata também explorou o tema ao questionar Marçal. "São Paulo está especialmente insegura para as mulheres. A gente bateu o recorde de feminicídio neste ano", disse. Marçal culpou o presidente Lula (PT) e fez apelo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia Nunes. "Primeiro, responsabilizar o presidente da República, que ele também não está ajudando e no governo dele aumentou em 40%. Governador do estado, precisamos da sua ajuda com as polícias ostensivas, tanto militar como civil, e responsabilizar o prefeito atual, com um orçamento multibilionário, não conseguiu resolver."

Antes, Marçal sugeriu que dois candidatos no debate agrediram mulheres. "Aqui no nosso debate tem dois homens que são agressores, cada um em uma modalidade. Não falei o nome, então não tem direito de resposta." Ele disse ainda, se comparando a vítima de violência doméstica, que a culpa do assédio nunca é da vítima. "A culpa é da mulher que está usando saia curta? A culpa é sempre do agressor, e nós vamos combater vocês veementemente."

Nunes X Boulos

Boulos iniciou a polarização com Nunes ao escolhê-lo primeiro para perguntar sobre meio ambiente. O candidato do PSOL lembrou que São Paulo "ficou como a cidade mais poluída do mundo" na semana passada. "Infelizmente, a nossa cidade, seu governo, Ricardo Nunes, parou no tempo, não avançou", disse.

Nunes rebateu, afirmando que o rival está "desinformado". "A área de cobertura vegetal da cidade de São Paulo que era 48% hoje é 54%. Eu já entreguei seis parques, temos hoje 118 parques, vamos entregar mais dez parques na próxima gestão. Nós temos hoje 15% de área de mata pública. Eu estou desapropriando 11%", disse.

Boulos também cutucou o prefeito sobre a zeladoria, ao dizer que a privatização dos cemitérios criou uma "indústria da morte". "A cidade estava totalmente largada, praça virando matagal, cratera nas ruas fazendo aniversário. Aí foi chegar perto da eleição, Nunes começou a fazer maquiagem", afirmou. "Os cemitérios, além de estarem mais sujos, mal cuidados, teve preço que aumentou 11 vezes."

Nunes preferiu dizer que saneou as contas da cidade e que está cuidando bem da zeladoria. Ele mencionou o asfaltamento de ruas, criação de vagas em creches e de postos de saúde e praças. "Vocês sabem que eu estou, desde 2021, muito presente nos bairros e trabalhando duramente. Eu consegui resolver a saúde financeira da cidade e, por isso, muitos investimentos para São Paulo."

Vacinação obrigatória

No segundo bloco, Boulos voltou a cutucar o prefeito ao relacioná-lo ao negacionismo vacinal. Aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o prefeito afirmou recentemente ter errado ao instituir o passaporte da vacina da covid-19 durante a pandemia na cidade. "Ou seja, [Nunes] fica mudando de posição na eleição", disse o Boulos. "Você [Nunes] defende vacina obrigatória, caso São Paulo enfrente uma nova pandemia?"

Nunes rebateu dizendo que o nível do debate estava "tão bom, aí você vai querer baixar", mas admitiu o arrependimento. "A gente precisa sempre corrigir aquilo que às vezes a gente erra, que foi a questão do passaporte. As pessoas, para ir numa igreja, não precisa obrigar ter que apresentar um passaporte, para ir num bar, para ir num restaurante", disse. "Eu tenho muito orgulho do que eu fiz e minha equipe com relação à questão da pandemia."

Propostas prevalecem

Bolsonarista, Marina tentou uma dobradinha com Nunes ao perguntar sobre a zeladoria. Já em sua primeira intervenção, criticou a prefeitura do PSOL em Belém antes de perguntar sobre a proposta do prefeito para a área. Nunes agradeceu e respondeu que fez "o maior programa de asfalto novo da cidade: 4.300 km de asfalto novo. Dá para sair daqui e ir para Salvador e voltar", disse.

Em seguida, Datena questionou Tabata sobre a suposta infiltração do crime organizado na saúde. A candidata do PSB cutucou Nunes sem citá-lo. Disse que, com a "máfia das creches" [com suspeitas sobre a participação de Nunes quando era vereador — o que ele nega], a gente vê a educação caindo de qualidade. Transporte público: olha a qualidade dos ônibus. Denúncia no lixo: olha como a cidade está suja. Enfrentar a corrupção é muito importante, mas é importante também saber o que vai colocar. Uma das propostas que eu trago é o Saúde na Escola", disse.

No segundo bloco, uma jornalista perguntou a Boulos sobre como terá autoridade sobre a Guarda Civil Metropolitana ao pedir a desocupação de "invasões". A pergunta se deve ao fato de que ele foi líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). "Eu tenho o maior orgulho da minha trajetória de ter atuado mais de 20 anos do lado das pessoas que precisam de moradia, ajudando mães que estavam sendo despejadas e perderam o seu último colchão no despejo", afirmou. "Tenho na minha campanha [o apoio das] GCMs, ex-comandantes da guarda. Sem dúvida a relação vai ser muito tranquila, de muito respeito, inclusive porque eu vou dobrar o efetivo da GCM em São Paulo e valorizar os guardas."

Escolhida para réplica, Marina chamou os membros do movimento sem teto de "bandidos". "Guilherme Boulos comanda um movimento marginal", disse ela, alegando que "a esquerda passa a mão na cabeça de bandido".

Na sequência, Datena tratou sobre população de rua. O tucano questionou "onde estão os conselhos tutelares da Prefeitura de São Paulo", e propôs o financiamento de "uma primeira moradia, aluguel ou auxílio" a esses moradores. "Auxílio ou aluguel. Se você tem R$ 600, você não aluga nem um barraco."

Nunes defendeu seus programas para o setor. "No ano passado, 10.744 pessoas saíram em situação de rua, mas o que eu estou fazendo?", questionou. "Eu sinto o sofrimento desses moradores de rua que vivem numa insegurança alimentar terrível. São 1 milhão e 300 mil pessoas, 800 mil em situação de situação alimentar grave, que não vão ter direito nem à comida."

Já no terceiro e último bloco, Boulos questionou Tabata sobre suas ideias para saúde mental. A candidata afirmou que é difícil tratar do tema "porque as pessoas têm preconceito, acham que é um tabu". "E a gente ouve tanto, 'ai, é frescura, é mimimi'. Só diz isso quem nunca perdeu alguém da família por conta de uma doença mental", disse. "Todo posto terá uma equipe de saúde mental, toda escola terá um psicólogo", prometeu.

Este foi o terceiro debate entre cadidatos a prefeito de São Paulo apenas nesta semana. No domingo (15), o encontro foi na TV Cultura, quando Datena acertou uma cadeirada em Marçal. O segundo, na terça (17), foi promovido pela Rede TV e UOL.

* Participaram desta cobertura Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Caíque Alencar, Fabíola Perez, Rafael Neves, Saulo Pereira Guimarães e Wanderley Preite Sobrinho e Letícia Polydoro (colaboração para o UOL)

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