Brasil tem dez filmes no festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz que começa neste sábado
Começa neste sábado (21) no litoral sudoeste da França, a 33ª edição do festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. O evento, que vai até sexta-feira (27), é uma porta de entrada na França para produções cinematográficas da América Latina, reunindo um público de 30 mil pessoas nas salas de cinema deste charmoso balneário. O Brasil terá dez filmes apresentados, seis em competição nas seguintes categorias: dois longas-metragens, três curtas-metragens e um documentário.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
O famoso Festival Village, local de convívio e intercâmbio situado no antigo Cassino de Biarritz, em frente ao mar, receberá novamente os amantes do cinema, atores, diretores, roteiristas e crítica especializada para mais uma edição do festival Cinelatino. O local abriga também exposições, conferências e concertos gratuitos todas as noites.
Já na manhã deste sábado, será exibido em avant-première o longa-metragem brasileiro "Cidade Campo", da diretora Juliana Rojas. O filme trata de duas histórias de migração entre a vida urbana e o ambiente rural.
O país também é destaque na cerimônia de abertura, com a exibição do filme "Ainda Estou Aqui", do cineasta Walter Salles, que estará presente no evento. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme que tem Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Melo no elenco já recebeu o prêmio de melhor roteiro no prestigiado Festival de Veneza, em 7 de setembro. "Ainda Estou Aqui" conta a história real de Eunice Paiva, que passou 40 anos em busca da verdade sobre o seu marido desaparecido.
"O cinema brasileiro está sempre presente e o que eu acho interessante é que ele consegue conciliar a estética e um testemunho da realidade brasileira", destaca Serge Fohr, presidente do Festival Cine Latino. "O Festival de Biarritz é um dos mais conhecidos na Europa entre os poucos que se consagram exclusivamente à América Latina, na França existe este e o de Toulouse", explica Fohr, em entrevista à RFI Brasil na tarde desta sexta-feira (20).
700 filmes inscritos
"Este festival é reconhecido na América Latina pelos profissionais. Todos os anos, recebemos cerca de 700 filmes entre ficção longa-metragem, curta metragem e documentários e escolhemos 30 filmes, dez em cada categoria", completa Serge Fohr. "Além disso, temos um laboratório que permite aos produtores latino-americanos fazerem contato com profissionais franceses para co-produções", explica. "Este é um festival reconhecido e que tem o seu público; unicamente nos cinemas temos 30 mil pessoas que vêm assistir aos filmes e ele tem outras atividades, como encontros universitários, literários, debates e shows", destaca.
Filmes brasileiros em Biarritz
O Brasil participa da mostra competitiva de longas-metragens com duas produções. "Senhoritas" marca a estreia na ficção da diretora e roteirista Mykaela Plotkin e oferece uma abordagem diferente do envelhecimento, trazendo temas ainda considerados tabus, como a sexualidade entre adultos maduros.
O filme, que terá a sua estreia mundial na seção oficial do Festival de Biarritz, foi rodado em Recife, Olinda e Cabo de Santo Agostinho. A personagem Lívia é uma arquiteta aposentada de 70 anos que tem a vida transformada com a chegada de uma amiga de juventude, com quem resgata sua vitalidade e confronta desejos adormecidos, embarcando em uma jornada de autodescoberta e de libertação feminina.
O outro longa-metragem em competição é "Baby", uma coprodução entre o Brasil e a França. Ao ser libertado de um centro socioeducativo, o personagem Wellington se vê sozinho nas ruas de São Paulo, sem notícias dos pais ou recursos para começar uma nova vida. Ele conhece Ronaldo, um homem maduro com quem vive uma paixão conflitante.
Três curtas-metragens em competição
"Esconde-Esconde", da diretora Vitória Vasconcelos, também se passa no coração de São Paulo, onde uma jovem recebe a vista inesperada da família e um segredo pode ser revelado.
"Utopia Muda", de Júlio Matos, aborda a luta pela democratização da mídia no Brasil, ao contar a história da rádio Muda, emissora independente desafiada pelo sistema por defender a liberdade de expressão.
"A Visita", de Ivan Cordeiro, utiliza sequências de arquivo em Super 8 restauradas da visita de Luiz Inácio Lula da Silva ao Recife, durante campanha eleitoral de 1982. O filme mostra o então futuro presidente do país em debates e interações com correligionários para reforçar o Partido dos Trabalhadores face aos desafios da ditadura militar.
Na competição de documentários, o Brasil será representado por "No Céu da Pátria Neste Instante", de Sandra Kogut. O filme examina as eleições presidenciais brasileiras e a tomada do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023.
"A Queda do Céu", de Erik Rocha e Gabriela Carneiro Cunha será exibido fora de competição. O filme é baseado no livro e testemunho do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert, publicado originalmente em francês em 2010. O documentário acompanha o ritual fúnebre Reahu, denuncia o garimpo ilegal e as epidemias trazidas por forasteiros.
"O menino e o Mundo", de Alê Abreu, também será exibido em uma sessão especial. O filme conta a história de um menino que sai de sua aldeia e descobre um mundo fantástico dominado por animais-máquinas e seres estranhos. Uma viagem lírica e onírica que ilustra os problemas do mundo moderno.
Foco na Argentina
Além dos filmes em competição, o festival de Biarritz apresenta anualmente enfoques em temas variados, oferecendo a oportunidade para o público descobrir a cultura latino-americana em outras formas, com encontros literários e debates organizados pelo IHEAL (Instituto de Estudos Avançados da América Latina).
Nesta edição, o tema será a transformação da Argentina após a ascensão de Javier Milei à presidência da República, em dezembro de 2023. Acadêmicos e autores farão um balanço das ações que afetam atualmente a sociedade do país.