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Leticia, a cidade colombiana isolada pela seca do rio Amazonas na fronteira com Peru e Brasil

19/09/2024 12h26

"Hoje o Amazonas chora, está secando", lamenta o prefeito de Leticia, cidade colombiana na fronteira tríplice com Peru e Brasil que sofre com a seca do caudaloso rio, vital para seu transporte e abastecimento.

O imenso Amazonas nasce na cordilheira dos Andes e corre por braços separados ao passar pela Colômbia, deixando o município de Leticia com apenas um canal secundário que reduziu seu nível em pelo menos dez metros desde junho, informou o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (Ideam).

A estiagem transformou as margens em paredes de barro inacessíveis para as embarcações, que diariamente precisam descarregar alimentos, água potável e combustível cada vez mais longe para a comunidade de quase 60.000 habitantes, que se conecta com a cidade brasileira de Tabatinga.

O baixo nível do rio obrigou a suspensão das aulas em escolas acessíveis apenas por via fluvial e ameaça a subsistência das comunidades que vivem essencialmente da produção de milho, arroz, mandioca e outros cultivos, alerta o líder indígena Crispín Angarita.

"É o nível mais baixo em 50 anos", estima o morador, que também denuncia o drama dos doentes para receber atendimento médico.

A América do Sul registrou neste ano uma prolongada seca associada ao fenômeno climático El Niño, a qual causou racionamentos de água e energia, além de incêndios florestais históricos em vários países.

- Alerta amarelo -

As ruas de Leticia abrigam uma economia vibrante que atrai comerciantes dos três países e turistas do mundo todo.

Frutas e vegetais de cores brilhantes são oferecidos em barracas montadas com guarda-sóis ao longo das calçadas. Mas o comércio está sendo afetado pela seca, e o prefeito da cidade, Elquin Uní, aponta que a cesta básica se tornou mais escassa e cara.

Diante da emergência, a prefeitura de Leticia decretou um "alerta amarelo" em julho, mês em que o nível do rio caiu em média oito centímetros por dia.

Setembro é geralmente o mês mais seco na floresta da fronteira tríplice, mas 2024 apresenta sinais alarmantes, indica à AFP o professor Santiago Duque, do Instituto Amazônico de Pesquisas da Universidade Nacional da Colômbia.

"Estamos há dois anos enfrentando secas mais severas, e neste ano tem o agravante de que as chuvas no início do ano foram menores", diz o biólogo.

Imagens do satélite Sentinel-2 da Agência Espacial Europeia mostram o leito do rio em Leticia com "ilhas" e praias de areia antes ocupadas pela água, comenta Duque.

Os canais afluentes da região secaram quase que completamente e estão cada vez mais estreitos, constatou a AFP através de imagens aéreas.

- "Problema trinacional" -

"Percebemos uma seca maior. O que antes era um fluxo de 600 metros de largura agora não chega a 200; e de seis a dez metros de profundidade passamos para três", explica Santiago Duque.

Para o docente, a crise do rio Amazonas, que chega a Leticia após contornar populações do Brasil e Peru, é "um problema trinacional" que precisa ser abordado com urgência.

No Peru, o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia informou que o afluente se encontra em "limite hidrológico vermelho".

Meios de comunicação do país vizinho relataram que é possível caminhar do povoado peruano de Santa Rosa até Leticia, que normalmente são separados por um quilômetro de água.

A seca é provocada principalmente pela intensidade do fenômeno El Niño, explicou Duque. A isso se somam os efeitos do desmatamento para a pecuária e agricultura.

"O aquecimento global é apenas uma das facetas", esclarece o especialista, que ressalta a importância da floresta amazônica na produção da umidade que gera chuvas e alimenta rios até mesmo no sul do continente.

A Amazônia é considerada o pulmão da Terra, pois sua densa vegetação absorve uma parte significativa dos gases do efeito estufa gerados pela atividade humana, enquanto sua abundante umidade regula as temperaturas globais em constante aumento.

Mas o desmatamento e as mudanças climáticas ameaçam levar a região a um ponto de não retorno, que poderia transformar a floresta em savana.

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© Agence France-Presse

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