Jornalista Paulo Paranaguá lança "Trópico de Paris", uma autobiografia surrealista
O jornalista brasileiro Paulo Antônio Paranaguá é radicado na França desde 1977, tendo trabalhado em importantes veículos da mídia francesa como a RFI e o jornal Le Monde. Especialista em América Latina e cinema, Paranaguá possui uma vasta obra publicada sobre esses temas. "Trópico de Paris", sua mais recente publicação, é sua primeira incursão na ficção.
O jornalista brasileiro Paulo Antônio Paranaguá é radicado na França desde 1977, tendo trabalhado em importantes veículos da mídia francesa como a RFI e o jornal Le Monde. Especialista em América Latina e cinema, Paranaguá possui uma vasta obra publicada sobre esses temas. "Trópico de Paris", sua mais recente publicação, é sua primeira incursão na ficção.
"Trópico de Paris" está, por enquanto, disponível apenas em versão digital. Coeditado pelas revistas EntreTmas, baseada em Nova York, e Agulhas, baseada em Fortaleza, a obra, que integra a coleção "Livros Impossíveis", pode ser baixada gratuitamente na internet.
Descrito pela editora como "ensaio autobiográfico" o livro apresenta um subtítulo intrigante: "O esquisitíssimo mistério do cadáver flutuante em busca de um encontro indesejado". Em entrevista à RFI, Paranaguá revela que a frase, que lembra literatura de cordel, deixa claro que se trata de uma obra de ficção.
A narrativa começa com um cadáver boiando em uma piscina em Paris e o narrador da história é justamente esse cadáver, que surpreendentemente fala e é, na verdade, o próprio autor. "Obviamente, uma situação impossível, que ao mesmo tempo torna possível qualquer coisa, né?", diz o autor. Ele explica que essa ideia foi inspirada pelo filme "Sunset Boulevard", de Billy Wilder, que também começa "com um dos personagens boiando na piscina e falando. Só que o meu, fala pelos cotovelos", antecipa.
Entre surrealismo e revolução
O livro tem 40 capítulos que relembram a vida do jornalista e suas errâncias, entre o Brasil, Argentina, Cuba e França, entre surrealismo e revolução. Paulo Antônio Paranaguá nasceu no Rio de Janeiro. Jovem, começou a cursar sociologia, mas sonhava mesmo era com cinema. Aderiu ao movimento surrealista, às ideais revolucionárias e acabou exilado na França, fugindo das ditaduras militares no Brasil e Argentina.
"Trópico de Paris" tem tudo isso, mas tem também muita "coisa inventada", experimentação literária, muito humor e autoironia. "Do começo ao fim, experimentei toda uma série de processos literários e de escrita que eu não podia usar quando era jornalista, porque não cabe no jornalismo misturar a realidade e a ficção", lembra. Nessa primeira incursão pela ficção, Paulo Paranaguá, que desconfia do gênero "egoficção", explora diversos estilos.
"Aproveitando o fato de que o narrador é um cadáver e, portanto, a sua memória está em frangalhos, é possível passar de uma coisa à outra, sem que haja necessariamente continuidade. É possível misturar coisas justamente muito diferentes, evocações de personagens, algumas encarnadas por personagens femininos", descreve. Entre essas figuras estão mulheres que o escritor conheceu ou admira, como a escultora brasileira Maria Martins, a viúva de Trotsky, Nathalia Sedova, e a esposa e viúva de André Breton, Elisa Breton.
Saudosismo
A narrativa de "Trópico de Paris" é ágil, fragmentada, repleta de citações literárias ou cinematográficas, mas também permeada por muito saudosismo. "Quando a gente envelhece, (...) uma maneira de manter o espírito alerta é lembrar do passado e, ao mesmo tempo, uma maneira de transmitir coisas que a gente acha que valem a pena de serem contadas para outros", diz o escritor que pensa, principalmente, "nos meus interlocutores mais jovens".
No livro, o jornalista escreve que é "o decano da comunidade invertebrada brasileira (na França) sem representação coletiva". À RFI, ele afirma que esse é mais um exemplo do tom característico de autoironia do livro. A frase reflete seu sentimento de pertencimento a uma geração que já não existe mais, em uma comunidade que mudou muito ao longo dos anos.
Paulo Paranaguá tem um ensaio prestes a ser lançado no Brasil, "História da América Latina em 100 Fotografias" (Editora Bazar do Tempo), além de outros textos ficcionais inéditos, inclusive em francês, mas que ainda não encontraram um editor. "Pelo visto, em matéria de ficção eu só consigo escrever livros impossíveis", brinca em referência ao nome da coleção digital de "Trópico de Paris". Humor e ironia sempre!
Para assistir à entrevista completa, clique na imagem principal