Conab corta previsão de safra de café do Brasil; StoneX aponta recuo acima do esperado
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de café do Brasil de 2024, já colhida, foi estimada nesta quinta-feira em 54,79 milhões de sacas de 60 kg, com um corte de 6,8% na comparação com a previsão anterior, por conta de condições climáticas adversas, informou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Com a revisão, agora a Conab passa a ver uma redução de 0,5% na safra do maior produtor e exportador global de café em relação a 2023. A estatal apontou produtividade média de 28,8 sacas/hectare, 1,9% abaixo do ano passado.
"O início da atual safra indicava um novo crescimento na colheita, considerando a situação das lavouras na época e o ciclo de alta bienalidade", disse a Conab.
Se o crescimento inicial projetado pela Conab tivesse se confirmado, o Brasil teria tido uma rara sequência de três safras seguidas de aumento da produção, já que a colheita do país, historicamente, oscila entre anos de altas e baixas produtividades, seguindo o ciclo bianual do café arábica.
"No entanto, as condições climáticas adversas, como estiagens, chuvas esparsas e mal distribuídas, juntamente com altas temperaturas durante as fases de desenvolvimento dos frutos, reduziram as produtividades previstas inicialmente", afirmou o relatório.
A Conab reduziu as previsões para as safras de café arábica, principal espécie produzida no Brasil, para 39,59 milhões de sacas, ante 42,1 milhões de sacas na projeção anterior.
Ainda assim, o Brasil colheu uma safra de arábica 1,7% maior do que a registrada na temporada passada, por conta de um aumento da área em produção de 2,4%, já que a produtividade teve leve baixa.
A estimativa de colheita de arábica ficou 6% abaixo da projeção de maio, segundo números da Conab.
Para o especialista em café da StoneX, Fernando Maximiliano, o corte na safra de arábica veio acima do esperado.
"Essa redução percentual é bastante intensa, quase 7%, ou 4 milhões de sacas... O curioso foi a redução muito intensa na produção de café arábica... não é algo que o mercado e que nós temos observado", disse o analista.
A StoneX, assim como outros analistas privados, chegaram a rever para baixo os números de safra anteriormente, por conta da seca e do calor.
Historicamente, os números de safra de café da estatal, se comparados a exportações e consumo do país, parecem subestimados.
Somente de janeiro a agosto, o Brasil exportou quase 32 milhões de sacas, enquanto o consumo anual do Brasil no ano passado superou 21,5 milhões de sacas.
A StoneX tem agora uma safra para o Brasil estimada em 65,9 milhões de sacas -- mais de 10 milhões de sacas acima da Conab --, sendo 44,7 milhões para arábica e 21,2 milhões para o canéfora.
Pela previsão da Conab, a safra de café canéfora, que envolve as variedades robusta e conilon, foi estimada em 15,2 milhões de sacas, aproximadamente 9% abaixo da previsão anterior.
Na comparação com 2023, a queda foi de 6%.
Apesar de avaliar que a safra de canéfora sofreu mais com a seca e o calor, a StoneX ainda tem número bem acima do patamar da Conab.
Conforme dados da estatal, a safra recuou na comparação anual apesar de um ligeiro aumento na área total de café em produção em 2024, estimada em 1,9 milhão de hectares, contra 1,87 milhão em 2023.
A produção em Minas Gerais, maior Estado produtor do Brasil, foi estimada em 28 milhões de sacas, queda de 3,3% ante a safra anterior.
(Por Roberto Samora e Gabriel Araujo)