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Real é moeda mais valorizada do mundo no mês; Bolsa oscila e dólar cai

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

19/09/2024 10h15Atualizada em 19/09/2024 15h10

A Bolsa de Valores de São Paulo abriu o pregão desta quinta-feira (19) em alta, mas durou pouco. Depois da primeira hora de negociações, o Ibovespa perdeu força e virou de sinal. Passou a oscilar bastante e, por volta de 15h, marcava queda de 0,25%, indo a 133.417 pontos, repercutindo o corte de 0,5 ponto percentual feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e a alta de 0,25 ponto realizada pelo Banco Central brasileiro.

O dólar comercial tinha baixa de 0,68%, indo a R$ 5,426. O dólar turismo ia a R$ 5,63. Com alta acumulada de 4,4% em setembro, o real se tornou a moeda que mais cresceu ante a divisa americana.

O que está acontecendo

A nova taxa de juros americana caiu de 5,25% a 5,5% ao ano para o intervalo de 4,75% a 5% anuais. A Selic passou de 10,50% para 10,75% ao ano, em decisão unânime. As duas decisões ajudam o câmbio e a Bolsa.

Mas os investidores ponderam o que é melhor: Bolsa ou renda fixa? Assim, o Ibovespa perde impulso e cai. "Com a alta de juros aqui, isso torna a renda fixa mais atrativa. Isso é um fato. Lá fora, as Bolsas estão subindo. Houve um susto com as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, de que os próximos cortes podem ser menores, mas nada de novidade nisso", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank. Na Europa, as Bolsas fecharam com mais de 1% de ganhos embaladas pelo corte americano.

Por que o Ibovespa não sobe?

O mercado prevê que o BC deve fazer mais altas nos juros até dezembro e, assim, os investidores fogem da Bolsa. "Esperamos que a Selic atinja 11,50% até dezembro e 11,75% até janeiro de 2025. Os cortes nas taxas devem começar só na reunião de junho do ano que vem, com a Selic terminando 2025 em 10,25%. Se o câmbio e as expectativas não melhorarem, não descartamos um ciclo de alta mais profundo", publicou o Goldman Sachs.

O Itaú também aposta em juros ainda maiores. "Em nossa visão, o comunicado indica que o próximo passo será uma alta de 50 p.b., a menos que o cenário apresente uma melhora substancial. No momento, esperamos que a taxa básica termine o ano em 11,75%", divulgou o banco.

Com isso, as taxas do Tesouro Direto, por exemplo, deram um salto. Os rendimentos dos títulos prefixados 2027 passaram de ontem para hoje de 11,72% para 11,91% ao ano. Os 2031, passaram de 11,99% para 12,10%. O Tesouro Direto com juros semestrais 2035 teve os rendimentos corrigidos de 11,93% para 12%.

Juros altos desestimulam investidores a aplicarem em mercados voláteis, como a Bolsa de Valores. O custo do dinheiro fica menos atrativo para as empresas. "Muitas companhias listadas na Bolsa têm endividamentos atrelados à Selic. Com a alta dos juros, isso impacta diretamente o fluxo de caixa futuro dessas companhias, o que tende a baixar o preço das ações no curto prazo", diz Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital.

Real segue se valorizando

O real vem ganhando valor sobre o dólar há seis pregões consecutivos. A moeda nacional tem perdas acumuladas no ano de 13,12% (de 31 de dezembro a 18 de setembro, conforme a Economatica). Mas em setembro, ela foi a que mais ganhou valor dentre um conjunto de 118 moedas, analisada pela Austin Rating, considerando a Ptax (taxa de câmbio de referência do real) desta quinta-feira (19). Confira:

  1. Brasil / real 4,4%
  2. Tailândia / bath 2,6%
  3. Malásia / ringgit 2,6%
  4. México / peso 2,2%
  5. Afeganistão / afegane 2,2%
  6. Japão / iene 2,1%
  7. Namíbia / dólar 2,0%
  8. África do Sul / rand 1,8%
  9. Suazilândia /lilangeni 1,8%
  10. Indonésia /rupa 1,4%

Fonte: Austin Rating

Esse fator pode dar uma alívio à inflação que o Banco Central brasileiro prevê que vai continuar crescendo. O BC tomou a decisão de alta ontem baseado em modelos com o câmbio a R$ 5,60. Mas com a diferença de juros entre EUA e Brasil, o fluxo de dólares aumenta a favor do real. Os investidores emprestam dinheiro a juros baixos no exterior e aplicam nas altas taxas brasileiras.

Preocupação com inflação

Apesar do dólar parecer agora estar jogando a favor de uma inflação menor, ainda há a pressão da energia. Hoje mais cedo, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou a 0,47% na segunda prévia de setembro, após registrar alta de 0,45% na mesma leitura de agosto, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).

O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, disse que a tendência é de bandeira amarela ou vermelha até o final do ano. Por outro lado, ele avaliou que a situação atual para o sistema elétrico é mais confortável em relação a 2021, quando os reservatórios ficaram abaixo de 30%. Hoje, estão em cerca de 50%.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresenta hoje um plano de contingência para o setor elétrico. Avalia-se um possível retorno do horário de verão no Brasil.

Arrecadação

Outro fator que influencia o pregão desta quinta é a arrecadação. O governo federal embolsou R$ 201,6 bilhões com impostos e contribuições no mês de agosto, segundo a Receita Federal. O montante corresponde ao maior nominal de toda a série histórica, iniciada em 1994, para o oitavo mês do ano.

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