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Rastro de pagers explosivos do Hezbollah vai de Taiwan até Hungria

Homem mostra como ficou pager após explosão no Líbano - Reprodução/Telegram
Homem mostra como ficou pager após explosão no Líbano Imagem: Reprodução/Telegram

18/09/2024 07h53Atualizada em 18/09/2024 10h48

Por Laila Bassam e Maya Gebeily

BEIRUTE (Reuters) - A detonação de milhares de pagers visando o Hezbollah no Líbano deixou um rastro misterioso de Taiwan até a Hungria, aumentando a perspectiva de outra guerra em grande escala no Oriente Médio entre o grupo apoiado pelo Irã e o inimigo Israel.

A agência de espionagem israelense Mossad, que tem um longo histórico de realizar ataques sofisticados em solo estrangeiro, colocou explosivos dentro de pagers importados pelo Hezbollah meses antes das detonações de terça-feira que mataram nove pessoas, disseram à Reuters uma fonte sênior de segurança libanesa e outra fonte.

A operação foi uma falha de segurança sem precedentes do Hezbollah, que viu milhares de pagers explodirem em todo o Líbano, ferindo cerca de 3.000 pessoas, incluindo muitos dos combatentes do grupo e o enviado do Irã a Beirute.

A fonte de segurança libanesa disse que os pagers eram da Gold Apollo, sediada em Taiwan, mas a empresa afirmou em um comunicado que não fabricou os dispositivos. Ela disse que eles foram fabricados por uma empresa chamada BAC - sediada na capital húngara - que tem licença para usar sua marca.

O Hezbollah, apoiado pelo Irã, prometeu retaliar Israel, cujos militares se recusaram a comentar sobre as explosões. Os dois lados estão envolvidos em uma guerra entre fronteiras desde o início do conflito em Gaza, em outubro passado.

Embora a guerra em Gaza tenha sido o foco principal de Israel desde o ataque de 7 de outubro por homens armados liderados pelo Hamas, os combates ao longo da fronteira norte de Israel com o Líbano têm alimentado os temores de um conflito regional que poderia arrastar os Estados Unidos e o Irã.

"O Hezbollah quer evitar uma guerra total. Ele ainda quer evitar. Mas, dada a escala, o impacto sobre as famílias e os civis, haverá pressão para uma resposta mais forte", declarou Mohanad Hage Ali, do Carnegie Middle East Center.

O Hezbollah disse em um comunicado na quarta-feira que "a resistência continuará hoje, como em qualquer outro dia, suas operações para apoiar Gaza, seu povo e sua resistência, que é um caminho separado da punição severa que o inimigo criminoso (Israel) deve esperar em resposta ao massacre de terça-feira".

A trama parece ter sido planejada há muitos meses, disseram várias fontes à Reuters. Ela se seguiu a uma série de assassinatos de comandantes e líderes do Hezbollah e do Hamas atribuídos a Israel desde o início da guerra de Gaza.

RASTRO LEVA A BUDAPESTE

A fonte sênior de segurança libanesa disse que o grupo encomendou 5.000 pagers da Gold Apollo, que, segundo várias fontes, foram levados para o país neste ano.

O fundador da Gold Apollo, Hsu Ching-Kuang, afirmou que os pagers usados na explosão foram fabricados por uma empresa da Europa que a Gold Apollo chamou de BAC em um comunicado.

"O produto não era nosso. O produto não era nosso, apenas tinha a nossa marca", disse Hsu aos repórteres nos escritórios da empresa na cidade de Nova Taipé, no norte de Taiwan, na quarta-feira.

O endereço declarado da BAC Consulting em Budapeste, capital da Hungria, é um edifício em uma rua predominantemente residencial em um subúrbio. O nome da empresa estava afixado na porta de vidro em uma folha A4.

Uma pessoa do prédio, que pediu para não ser identificada, disse que a BAC Consulting estava registrada no endereço, mas não tinha presença física lá. A presidente-executiva da BAC Consulting, Cristiana Barsony-Arcidiacono, diz em seu perfil no LinkedIn que trabalhou como consultora para várias organizações, incluindo Unesco. Ela não respondeu aos emails da Reuters.

(Reportagem adicional de Tom Perry em Beirute, Phil Stewart e Matt Spetalnick em Washington; Ben Blanchard em Taipé, Krisztina Than e Krisztina Fenyo em Budapeste)

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