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Ibovespa cai 0,9% e encerra na mínima do dia, no menor nível desde 14 de agosto

São Paulo

18/09/2024 17h54

O Ibovespa oscilou ao sabor do comunicado do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e das palavras do presidente da instituição dos Estados Unidos, Jerome Powell, após a decisão - conforme a expectativa majoritária do mercado - de cortar a taxa de juros da maior economia do mundo em 50 pontos-base, a primeira redução desde 2020, o que a princípio deu impulso moderado aos índices de ações em Nova York no meio da tarde - mas não sustentado também por lá no fechamento do dia, levemente negativo.

No Brasil, além do Fed, os investidores aguardam ainda o comunicado do período da noite do Comitê de Política Monetária (Copom). A previsão é de que a Selic volte a subir, provavelmente em 25 pontos-base, o que manteria o juro doméstico em nível atrativo para o estrangeiro - inclusive com relação a fluxo externo para a B3, cujas ações ainda teriam desconto a oferecer.

Assim, de olho no Fed mas à espera do Copom, a corrente do dia manteve o Ibovespa em modo de cautela ao longo desta 'super quarta' em que o índice de referência esboçou reação no meio da tarde, mas encerrou na mínima do dia, em queda de 0,90%, aos 133.747,69 pontos. O giro foi bastante reforçado, a R$ 37,6 bilhões, nesta quarta-feira de vencimento de opções sobre o índice.

Na semana, em retração nas últimas duas sessões, o Ibovespa cai 0,84%, colocando a perda do mês a 1,66%. No ano, o índice passou nesta quarta-feira também ao negativo (-0,33%). Agora aos 133,7 mil pontos, foi o menor nível de fechamento desde 14 de agosto.

A referência da B3 mudou de sinal e testou alta nos minutos seguintes à divulgação do comunicado do Fed, às 15h, e voltou a renovar máxima do dia depois das 15h30, aos 135.203,32 pontos, durante a fala do presidente da instituição.

Ao decidir pela redução dos juros em 0,50 ponto porcentual, o Federal Reserve apontou em comunicado que seus dirigentes têm registrado "maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%, e julga que os riscos de atingir seus objetivos para emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados." De acordo com o documento, "o cenário econômico é incerto e o Comitê está atento aos riscos dos dois lados do mandato duplo".

O Fed alterou a redação de trecho do comunicado que trata da inflação, destacando progressos na área. O Federal Reserve cortou os Fed Funds em 50 pontos-base, para a faixa de 4,75% a 5,00% ao ano, em decisão por 11 votos a 1.

Dentre os 19 dirigentes do Federal Reserve presentes na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) desta quarta-feira, nove acreditam que os juros terminarão este ano entre 4,5% e 4,25%, faixa 50 pontos-base menor do que a atual, após o corte desta quarta.

Outros sete dirigentes acreditam que a taxa terminará 2024 entre 4,5% e 4,75%, enquanto dois banqueiros centrais defendem que os juros devem encerrar este ano no nível atual, entre 4,75% e 5%. A mediana das projeções para a taxa dos Fed Funds caiu de 5,1% em junho para 4,4% nesta quarta.

Na entrevista coletiva desta tarde, Jerome Powell afirmou que não há "um curso predeterminado" para administrar a taxa de juros, e que o BC americano continua dependente de dados econômicos para adotar as decisões de política monetária a cada reunião.

Ele ressaltou também que os dirigentes estão atentos aos riscos para atingir os objetivos de seus dois mandatos, que são a estabilidade de preços e a máxima geração de empregos. "A nossa postura paciente no último ano gerou dividendos", disse Powell, ao destacar a postura do Fed de manter as taxas de juros restritivas para conter a alta da inflação.

"O Fed iniciou o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos de forma mais agressiva do que o consenso apontava pouco tempo atrás - prevaleceu a redução de meio ponto porcentual, que tinha se firmado nos últimos dias como a aposta majoritária do mercado, que por muito tempo esteve em apenas 0,25 ponto para esta reunião de setembro", aponta Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria.

Para além da decisão do Fed, o dia não foi bom para as ações de commodities, com Petrobras (ON -1,73%; PN -2,40%, mínima do dia no fechamento) e Vale (ON -1,17%) à frente, assim como para outro setor de peso, o financeiro (Bradesco ON -1,16%, piso do dia no encerramento; Itaú PN -0,57%), o que segurou o Ibovespa no negativo, aprofundando perdas em direção ao fechamento, observa Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. Apesar da melhora pontual, a tendência do Ibovespa se manteve mesmo diante da recuperação vista em Nova York logo depois do Fed, mas que também se enfraqueceu durante a fala de Powell, com as nuances observadas em relação ao ritmo de corte de juros - ainda em aberto e dependente dos dados.

Na ponta ganhadora na B3, Braskem (+4,76%), Usiminas (+2,79%) e São Martinho (+2,57%), dentre os componentes do Ibovespa. No lado oposto, Azul (-10,08%), CSN Mineração (-8,26%) e Marfrig (-5,44%). Em Nova York, os ganhos da tarde se transformaram em leves perdas no fechamento: -0,25% (Dow Jones), -0,29% (S&P 500) e -0,31% (Nasdaq).

O mercado local aguarda agora a decisão sobre a Selic, e a expectativa por alta da taxa doméstica no momento em que os juros começam a ser cortados nas maiores economias tende a ser benéfica para o Brasil. "Um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa de juros do Fed pode ser excelente para o fluxo estrangeiro para emergentes que têm apresentado bom crescimento, e o Brasil é um desses destinos", diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

"A curva de juros nos Estados Unidos é a 'mãe de todas as curvas', dada a sua importância para a valorização e desvalorização da maior parte dos ativos no mundo. Logo, a discussão dos juros nos Estados Unidos é relevante para discussão dos juros aqui no Brasil, inclusive com impacto na taxa de câmbio. Essa queda de juros nos Estados Unidos, sem a manifestação de um quadro recessivo - pelo menos por enquanto -, pode trazer alívio para as economias emergentes e ativos de risco", avalia Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

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