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Enfermeiro, militar e aposentado: quem são os 50 acusados de estuprar francesa sedada pelo marido

Desenho de Dominique Pelicot (à direita) feito durante o julgamento - AFP
Desenho de Dominique Pelicot (à direita) feito durante o julgamento Imagem: AFP

18/09/2024 10h53Atualizada em 18/09/2024 11h19

Além de Dominique Pelicot, outros 50 réus são julgados por terem estuprado Gisèle Pelicot enquanto ela estava inconsciente. Com idades que vão dos 26 aos 73 anos, vindos de todas as classes sociais e profissões - jardineiro, bombeiro, pedreiro, enfermeiro, engenheiro, mas também desempregado, aposentado e militar - eles responderam ao anúncio do marido da vítima postado em um site de encontros sexuais. Eles podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

"São pessoas que não são delinquentes", disse o advogado de defesa de quatro acusados, Louis-Alain Lemaire, em entrevista ao canal France 2, às margens do julgamento. "Na maioria dos casos sem antecedentes criminais, com uma vida de família normal, uma atividade profissional e que se encontraram nesse caso que é claro, muito importante."

Entre os acusados, 35 dizem que são inocentes. Diante dos investigadores, alguns deles chegaram a se apresentar como vítimas.

"Eu tenho a impressão de ter sido manipulado (...) Era Dominique que dava todas as ordens", disse Cyril B., motorista de caminhão de 46 anos.

"Eu sou apenas uma vítima colateral (...) eu servi apenas para realizar as fantasias de Dominique Pelicot", disse Ludovik B., de 39 anos, funcionário de uma loja.

Vários acusados alegam que acreditavam estar participando das fantasias sexuais de um casal, sem saber que a vítima estava sedada.

"Você pergunta o porquê de essas pessoas estarem aqui, já que elas têm um perfil banal e correto. Talvez porque eles não tenham feito nada de repreensível", disse Antoine Minier, advogado de vários acusados.

Muitos réus são pais de família e alguns eram voluntários em associações. Apesar de alegarem terem sido manipulados, dizem que estão arrependidos, como o militar Joan K., de 26 anos, que teria abusado de Gisèle Pelicot no dia do nascimento da filha dele. "Eu cometi um estupro. Eu fui manipulado, mas eu tenho minha parte de responsabilidade", afirmou.

"Os fatos são muito graves. Eu mereço ser enforcado", disse outro acusado, Simoné M., de 43 anos.

Acusados alegam violência sexual na infância

Nesta quarta-feira (18) foi recolhido o depoimento de Jean-Pierre M. 63, primeiro dos acusados a ser ouvido no processo. Ele é o único que não responde por estupro de Gisèle Pelicot, mas afirma ter se inspirado de Dominique Pélicot para drogar sua própria esposa.

O homem alto e magro, com cabelos curtos, contou aos juízes que, assim como seu "mentor", havia sofrido violência física e sexual na infância.

"Minha juventude foi vergonha, álcool, sexo e muito silêncio", explicou. "Sofremos atos horríveis do meu pai. Violência sexual", disse.

Ele detalhou os momentos em que, quando criança, teve que fazer sexo oral no pai como "pagamento" para poder acompanhá-lo na pesca com a irmã.

"Minha irmã chorava, eu preferia que fosse eu. Eu estava mais acostumado com isso", disse ele, se perguntando se não teria sido estuprado pelo próprio cachorro, por ordem do pai, quando tinha "entre sete e oito anos".

"Nossa mãe tentou nos proteger, mas ela bebia", disse ele, acrescentando que teve que testemunhar seu pai estuprando sua mãe.

Jean-Pierre M. explicou então que conheceu a sua atual companheira com quem "teve uma vida feliz", aos 33 anos, o que ela também afirmou na semana passada durante seu primeiro depoimento.

O advogado de Jean-Pierre M., Patrick Gontard, o descreveu como um homem influenciável. "Meu cliente, que é muito manipulável e inocente, pelo que comprovam as perícias, simplesmente entrou nesta trama. Ele não tem personalidade para dizer não", disse.

"Amo a minha mulher. Farei tudo para ficar bem. Estou preso e mereço. Cometi atos desprezíveis. Sou um criminoso e um estuprador", disse. "O que fiz foi horrível! Quero um castigo severo", acrescentou.

Ele drogou a esposa com um calmante fornecido por Dominique Pelicot, que conheceu no site Coco.fr, antes de estuprá-la e deixá-la ser estuprada por Pelicot.

Pelo menos doze estupros foram registrados pelos investigadores contra a esposa de "Rasmus", "Pierre" ou "Kim" - pseudônimos de Jean-Pierre na internet - incluindo dez dos quais Pelicot participou, entre 2015 e 2018, na casa deles, na região da Drôme, a cerca de 50 km do domicílio dos Pelicot, em Mazan.

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