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Após morte perto de faculdade, alunas cobram segurança: 'Medo constante'

do UOL

Do UOL, em São Paulo

18/09/2024 05h30

Alunas e ex-alunas cobraram mais segurança dentro e nos arredores do campus do Centro Universitário do Vale do Ribeira, em Registro (SP), após a estudante Ianca Victoria de Oliveira Silva, 19, ser assassinada a cerca de 1,5 km da faculdade, na última quinta-feira (12).

O que aconteceu

As principais queixas são sobre pouca ou quase nenhuma iluminação e sensação de insegurança. A aluna de direito Camilly Isabela Belchior, 21, é do turno da noite. Ela conta que as aulas terminam por volta das 22h, mas que seu ônibus só passa no local cerca de 22h30. "Ficamos lá fora no escuro esperando o ônibus. A segurança é precária, não tem um guarda, nem ninguém", afirmou.

A estudante diz que sente medo constante no fim das aulas e que a cobrança por melhorias é antiga. "A faculdade deveria ter mais guardas porque pagamos caro na mensalidade. Eu, por exemplo, pago quase R$ 1.400. Fora do campus é escuro e super vasto, tem um matagal que é perigoso, um criminoso pode arrastar uma aluna para lá. Há anos isso é cobrado, tenho amigas já formadas que fizeram faculdade nessa instituição que já falam sobre isso há anos", lamentou.

Uma ex-aluna de enfermagem, de 23 anos, que preferiu não se identificar, diz que o medo foi um dos motivos para ter deixado a faculdade. Ela estudou no Centro Universitário do Vale do Ribeira por um ano. "A faculdade é bem precária na segurança, muito mal iluminada, não há câmeras de segurança e nem seguranças cuidando da entrada e da saída dos alunos. Muitas vezes, a catraca de entrada quebrava e assim qualquer pessoa podia entrar, os pontos de ônibus em frente também não tem luz e nem câmeras", criticou.

A estudante de enfermagem contou que há muito mato nos arredores da instituição. Por medo de que algo acontecesse, ela lembra que sempre preferia andar com amigas. "Nos arredores da faculdade tem muito mato, na maioria das vezes até mesmo dentro da faculdade, perto da secretaria, também tem mato alto. Por várias vezes tive medo de atravessar o corredor da faculdade e ir até a secretaria", destacou.

Após a morte de Ianca, grupo levou velas e cartazes a uma manifestação em frente ao centro universitário - Cedido ao UOL - Cedido ao UOL
Após a morte de Ianca, grupo levou velas e cartazes a uma manifestação em frente ao centro universitário
Imagem: Cedido ao UOL

"Nós precisamos de segurança e iluminação", diz uma publicação de uma das alunas nas redes sociais. Após o corpo de Ianca ter sido encontrado, alunas do centro universitário publicaram uma série de comentários online e cobraram uma melhor estrutura da unidade de ensino.

Amigos da vítima e estudantes da instituição realizaram uma manifestação na frente da faculdade na segunda-feira (16). O grupo levou flores, velas e cartazes ao local. Eles rezaram, cobraram mais segurança e pediram justiça pela morte de Ianca. "Quantas de nós ainda precisam morrer?", dizia um dos cartazes.

Aluna morta foi vista pela última vez na faculdade

Ianca Victoria era aluna de farmácia e foi vista pela última vez Centro Universitário do Vale do Ribeira, na quarta-feira (11). - Cedido ao UOL - Cedido ao UOL
Ianca Victoria era aluna de farmácia e foi vista pela última vez Centro Universitário do Vale do Ribeira, na quarta-feira (11).
Imagem: Cedido ao UOL

Ianca Victoria era aluna de farmácia e foi vista pela última vez Centro Universitário do Vale do Ribeira, na quarta-feira (11). Ela havia desaparecido após ligar para o namorado e pedir ajuda. Ludmila Rodrigues do Amaral, amiga de Ianca, contou que a vítima telefonou para ele, por volta das 22h05, após sair da faculdade.

Ludmila e Ianca tinham marcado de se encontrar após as aulas. No entanto, a vítima parou de responder às mensagens. Após ligar mais de oito vezes para a amiga, Ludmila desconfiou que algo poderia ter acontecido. "Ela não ficaria tanto tempo sem atender", declarou.

A amiga explicou que procurou o namorado de Ianca e ele relatou como teria sido a ligação com o pedido de socorro. "Foi uma ligação de 19 segundos, na qual ela diz 'sai, sai daqui'. Ela sai correndo e dá para ouvir barulho dos passos", segundo detalhou o rapaz.

Ainda na noite de quarta-feira (11), a amiga, o namorado e outros amigos procuraram por Ianca nas proximidades da faculdade. "Ficamos procurando das 23h até às 2h e nada. Fiz um cartaz [com informações] que viralizou", detalhou Ludmila.

O corpo dela foi encontrado na quinta-feira (12) pela polícia, na rua Oscar Yoshiaki Magário, no bairro Jardim das Bromélias. O local, uma área de mata, fica a cerca de 1,5 km da faculdade. Policiais militares foram acionados e preservaram o local.

Foi requisitada perícia, que confirmou a identidade da vítima como de uma mulher que estava desaparecida. A mochila de Ianca foi encontrada junto ao corpo. Já o celular dela foi encontrado depois.

No laudo médico consta asfixia mecânica como uma das causas da morte, segundo a família da vítima. O resultado oficial, no entanto, ainda não foi divulgado. A polícia investiga o caso como homicídio.

Nenhum suspeito foi identificado ou preso. O caso foi registrado no 1º DP de Registro, e a Polícia Civil segue investigando para esclarecer os fatos.

Rosa de Oliveira Azevedo, mãe da estudante, falou que a jovem era "muito responsável". "Tratava bem todo mundo", afirmou. Ela detalhou ainda que a filha trabalhava durante o dia em uma loja de roupa em um shopping e estudava no turno da noite.

O que diz a faculdade

O Centro Universitário do Vale do Ribeira informou que não recebeu reclamações oficiais de alunos antes e depois do assassinato de Ianca. Ao UOL, o reitor Frederico Ribeiro Simões esclareceu que desde 2016 tem feito esforços junto a Prefeitura de Registro e a Polícia Militar para melhorar a segurança e iluminação fora do campus.

O reitor afirmou que a instituição alertou as autoridades por diversas vezes. "Temos reiterado por diversas queixas ao longo destes anos. Sendo a última datada do dia 24 de janeiro deste ano. Ou seja, cansamos de alertar sobre esta situação às autoridades", disse.

Na contramão das denúncias das alunas, Frederico Ribeiro Simões explicou que internamente, o campus tem total segurança, desde a sua inauguração em 1996. "Em nenhum momento tivemos qualquer problema de violência no campus. Este ano já fizemos o investimento em novas instalações como iluminação, no mês de junho, temos contrato mensal de manutenção das catracas e em maio deste ano também foram feitas as manutenções em todo o sistema de câmeras de segurança".

Sobre os pontos de ônibus, o reitor esclareceu que ambos ficam próximos das saídas da faculdade. O representante da instituição também destacou que as duas entradas têm vigias que ficam na portaria controlando o acesso ao campus.

Com relação a segurança do campus, esclarecemos que o mesmo é inteiramente cercado, duplamente por sinal, em sua parte externa com muros e alambrados e na sua parte interna com uma segunda linha de alambrados. Temos o campus inteiro monitorado por 140 câmeras de segurança que podem ser acessadas pelo circuito interno e por celular em tempo real 24 horas por dia. Temos porteiros nas duas portarias, com catracas que monitoram a entrada, onde os alunos, funcionários, professores, pacientes, usuários de outros serviços e visitantes tem que ser previamente cadastrados e ter uma carteirinha para adentrar na instituição.
Frederico Ribeiro Simões, reitor do Centro Universitário do Vale do Ribeira

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi questionada pelo UOL sobre como é feita a ronda Polícia Militar nos arredores da faculdade, mas não respondeu. O texto será atualizado tão logo haja resposta.

A Prefeitura de Registro também foi procurada para esclarecer sobre a estrutura de iluminação nos pontos de ônibus, mas não respondeu. O espaço segue aberto para manifestação.

Em caso de violência, denuncie

O Ligue 190 é o número de emergência indicado para quem estiver presenciando uma situação de agressão. A Polícia Militar poderá agir imediatamente e levar o agressor a uma delegacia.

Também é possível pedir ajuda e se informar pelo número 180, do governo federal, criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita.

O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo WhatsApp. Nesse caso, acesse o (61) 99656-5008.

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