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Relatório responsabiliza pecuarista e empresas por desmatamento no Pantanal

17/09/2024 07h15

Um novo relatório da ONG Mighty Earth, realizado em parceria com a plataforma Repórter Brasil e a ONG holandesa AidEnvironment e divulgado nesta terça-feira (17), aponta o envolvimento do pecuarista brasileiro Claudecy Oliveira Lemes e das empresas JBS, Marfrig e Minerva no maior desmatamento químico já realizado no Brasil. Segundo o documento, um poderoso componente do "agente laranja" foi usado para devastar 81,2 mil hectares do Pantanal.  

Um novo relatório da ONG Mighty Earth, realizado em parceria com a plataforma Repórter Brasil e a ONG holandesa AidEnvironment e divulgado nesta terça-feira (17), aponta o envolvimento do pecuarista brasileiro Claudecy Oliveira Lemes e das empresas JBS, Marfrig e Minerva no maior desmatamento químico já realizado no Brasil. Segundo o documento, um poderoso componente do "agente laranja" foi usado para devastar 81,2 mil hectares do Pantanal.

Intitulado de "Guerra Contra a Natureza", o relatório alerta que o Pantanal está em risco e aponta que o desmatamento químico "ilegal" devastou "uma vasta área, quatro vezes maior do que Amsterdã". "As descobertas ocorrem no momento em que a seca extrema e as mudanças climáticas alimentam uma das piores temporadas de incêndios no Brasil em décadas, com as autoridades brasileiras culpando os 'criminosos' por incêndios deliberados", reitera do documento.

No alvo do relatório está o pecuarista brasileiro Claudecy Oliveira Lemes, 52 anos, proprietário de 11 fazendas na cidade de Barão de Melgaço (MT), estado com o maior rebanho bovino do país, no coração do Pantanal, a maior planície inundável de água doce do mundo. Ele foi absolvido no início deste mês pela devastação de mais de 3 mil hectares, mas segue investigado por mais de R$ 25 milhões em desmate químico.

No último mês de abril, a plataforma Repórter Brasil já havia revelado que ao longo de 2023 o fazendeiro vendeu gado à JBS, uma das maiores produtoras de carne do mundo. Mas a Mighty Earth destaca ainda que outros dois grandes frigoríficos - a Marfrig e a Minerva - também compraram, nos últimos anos, animais criados em áreas devastadas por Lemes. Segundo a ONG, a carne oriunda de uma das fazendas de Lemes, a "Soberana" é processada pela JBS, Marfrig e Minerva antes de ir parar nas quatro maiores redes de supermercados do Brasil: Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus and Sendas/Assaí.

Investigado desde 2022

As autoridades brasileiras investigam as devastações químicas nas fazendas do pecuarista desde 2022, nas quais foram utilizados "25 tipos de agrotóxicos, entre eles o 2,4-D", diz a Repórter Brasil. A substância, também chamada de "agente laranja" é célebre por sua toxicidade e foi utilizada pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, entre 1955 e 1975.

Em entrevista à RFI, a consultora Mariana Gameiro, da Might Earth, explicou que o objetivo do desmatamento químico é aniquilar a vegetação local para expandir a criação de gado, mas de forma dissimulada. "Primeiro, as folhas caem, depois, as árvores perdem força e acabam morrendo. Isso dá a impressão que é uma degradação natural da floresta, mas não é verdade, é criminoso", diz.

Segundo a especialista, os danos não se limitam à vegetação, já que o vento acaba por espalhar as substâncias químicas, prejudicando também a fauna e até mesmo os moradores das áreas desvastadas. "Não são apenas as árvores que morrem, mas toda a biodiversidade local, a floresta e os animais. Há também o impacto na saúde das comunidades próximas e principalmente na qualidade da água", ressalta.

Rastreamento da carne

Para a elaboração do relatório, as ONGs Mighty Earth e AidEnvironment, com a plataforma Repórter Brasil, indicam ter examinado mais de 1.600 peças de carne em 120 supermercados de 52 cidades brasileiras, entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024. O documento ainda ressalta que se apoiou em rastreamento realizado por satélite e o transporte dos animais.

Em seu site, Mighty Earth faz uma série de exigências, entre elas, que a JBS, Marfrig a Minerva investiguem as alegações e suspenda suas relações diretas e indiretas com responsáveis pelo desmatamento. Também pede que frigoríficos revelem o volume e a origem da carne de gado comercializada e que os distribuidores apontados na investigação suspendam seus negócios com as empresas envolvidas nas denúncias.

O Carrefour afirmou ter bloqueado os negócios com duas das cinco fazendas apontadas no documento, afirma a ONG. Mais da metade dos produtos bovinos (56%) das lojas da rede analisadas é originária dos frigoríficos da JBS, "o que significa que a gigante francesa está potencialmente relacionada" aos desmatamentos químicos.

"Neste momento, o Brasil está em chamas com incêndios florestais que assolam todo o país, causados ??em grande parte por atividades criminosas impulsionadas pela agricultura", lembra, no relatório, João Gonçalves, diretor sênior do escritório da Mighty Earth no Brasil. "O bioma não consegue resistir ao fogo e à desflorestação química desenfreada, que não só desnuda árvores em vastas áreas, como envenena ecossistemas inteiros. As grandes empresas de carne bovina precisam suspender urgentemente todos os pecuaristas empenhados nesta destruição da natureza para obter lucro", conclui.

Posicionamento da Mafrig

Posicionamento Marfrig:

Do ponto de vista da rastreabilidade, a Marfrig antecipou, de 2030 para 2025, sua meta de monitorar 100% dos fornecedores indiretos em todos os biomas brasileiros. Neste momento, a Marfrig rastreia 100% de seus fornecedores diretos eaté junho de 2024, o Programa já atingiu 87% de rastreabilidade de indiretos no bioma Amazônia e 73% no bioma Cerrado, regiões estratégicas e de maior volume de animais fornecidos à empresa. São as maiores taxas do setor em controle de indiretos no Brasil. Além disso, todos os fornecedores indiretos localizados nas áreas de maior risco já estão 100% monitorados. Para nortear seu trabalho, a empresa desenvolveu um Mapa de Mitigação de Riscos Socioambientais, e um sistema de geomonitoramento, via satélite e em tempo real, que rastreia sua cadeia de fornecimento 24 horas por dia, assegurando a conformidade das fazendas fornecedoras de acordo com os critérios socioambientais da empresa.

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