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MST tem críticas, mas continua trabalhando com governo Lula, diz representante do movimento em Paris

17/09/2024 09h47

A tradicional festa de l'Humanité, que reúne todos os anos no mês de setembro políticos e militantes de esquerda da França, mas também de outros países, aconteceu no último final de semana nos arredores de Paris. Como em edições anteriores, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra brasileiro (MST) marcou presença.

A festa de L'Humanité, organizada desde 1930 pelo jornal comunista francês que leva o mesmo nome, recebe mais de 400 mil visitantes em três dias. Milena Polini, do Setor de Internacionalismo do MST, veio especialmente do Brasil para participar do evento. "Nesse espaço da festa de l'Humanité, a gente vê o internacionalismo em prática com o movimento e também vê a diversidade de todos os outros países, todas as outras lutas", indica a jovem militante em entrevista à RFI.

Milena Polini integrou uma mesa redonda sobre o momento atual do Movimento Sem Terra do Brasil, 40 anos depois de sua criação. Ela conta que o público presente estava interessado na história e no "funcionamento do MST", mas também fez perguntas sobre "o meio ambiente, as queimadas no Brasil, e a relação (do movimento) com o governo".

Sobre os 40 anos do MST, completados em janeiro de 2024, a militante ressaltou que "a nossa perspectiva é muito positiva por conta de ser o movimento camponês que teve uma maior duração. Então, 40 anos não é pouca coisa. Foram muitos desafios, muitas coisas que aprendemos. O movimento foi também se desenvolvendo e elaborando mais sobre a reforma agrária, sobre o que significa na prática a reforma agrária popular e como lidar com o movimento de massas no contexto brasileiro".

Ela informa que VII Congresso Nacional, que iria comemorar o aniversário e deveria ter sido realizado no último mês de julho, foi adiado para 2025 devido às enchentes que assolaram o sul do Brasil.

Queimadas

O público francês mostrou preocupação com a situação atual de queimadas e seca histórica no Brasil. Essas "queimadas foram coordenadas, não foram queimadas naturais, podemos dizer assim. Elas foram intencionais, foram combinadas", denuncia.

Ela pondera que essa crise ambiental "chocante" provocou outras tragédias como as inundações no Rio Grande Sul. Lembrando que o MST é o maior produtor de arroz orgânico do país, a militante salienta que "a gente perdeu toda a nossa lavoura de arroz" nas enchentes.

Milena Polini analisa que a crise ambiental "é ruim para o produtor que perde a sua produção, perde a sua fonte de renda, mas também para a população que não vai conseguir acessar os alimentos in natura e os alimentos de qualidade num preço acessível".

Relação com governo Lula

Como o público francês, a RFI também quis saber se o governo tem feito o necessário e qual é a relação do MST com o presidente Lula.

"Podemos dizer que o projeto que venceu nas urnas não é o projeto que está conseguindo ser implementado no governo", aponta. Segundo ela, a bancada ruralista dificulta a aplicação do projeto vencedor nas urnas em 2022 com a eleição do presidente Lula contra Bolsonaro, "que é um projeto de preservação do meio ambiente, de ampliação das políticas públicas e da diminuição da desigualdade social".

"Temos críticas (ao governo), mas estamos trabalhando juntos. No entanto, pensamos que para realmente o projeto ser implementado, a gente precisa de organização social", afirma.

Venezuela

Outro ponto polêmico e de divergência com o governo é a Venezuela. O MST, que tem "uma brigada de trabalho" há alguns anos no país vizinho, anunciou na semana passada um novo projeto de produção de alimentos na Venezuela. A recente reeleição de Nicolás Maduro, sem a devida divulgação das atas de votação, é vista com preocupação por muitos países, inclusive por Brasília, mas o MST continua apoiando e dando "suporte" o governo venezuelano.

"A nossa leitura é de que a Venezuela é um espaço, um território, de disputa do imperialismo, assim como é a Palestina, assim como é a Ucrânia, assim como tem outros territórios de disputa do imperialismo contra o sul global", avalia.

"Para nós, é triste a posição do governo Lula. Para nós do MST seria muito mais proveitoso e importante se ele estivesse ao lado do Maduro. Mas o Lula é uma coisa, o PT é outra, e o MST é outra. Então, a gente nem sempre vai estar alinhado nas mesmas ideias", pontua.

Para assistir à entrevista completa, clique na foto principal

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