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Marçal deixa centro das atenções e fala sozinho em reencontro pós-cadeirada

Seguranças ao lado dos candidatos à Prefeitura de São Paulo durante debate RedeTV!/UOL - UOL
Seguranças ao lado dos candidatos à Prefeitura de São Paulo durante debate RedeTV!/UOL Imagem: UOL
do UOL

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

17/09/2024 14h05

A história parecia se repetir.

Com a mão enfaixada e cara de cão abandonado na mudança, Pablo Marçal (PRTB) tirou Ricardo Nunes (MDB) do sério nos primeiros minutos do debate da RedeTV! em parceria com o UOL.

O influencer gritava no microfone. O prefeito berrava fora dele. E a apresentadora, Amanda Klein, berrava para colocar os marmanjos em seus lugares.

Faltou pegar os marmanjos pela orelha e colocar de castigo.

Não precisou.

A cena aconteceu após Marçal girar a metralhadora de provocações e trazer à baila uma acusação de violência doméstica contra o candidato à reeleição. A coisa escalou quando ele, aos berros, disse que Nunes já havia sido preso e voltaria à cadeia por supostos desvios na merenda.

Sim: o espírito da cadeira que voou no debate anterior parecia habitar todo o recinto cercado por seguranças. Por sorte, as armas de guerra estavam muito bem fixadas desta vez.

A gritaria elevou a tensão ao pico, mas logo baixou. Ninguém saiu ferido.

O próprio Nunes, após voltar a si, fez questão de se desculpar aos espectadores. Disse que não era fácil lidar com quem mente e ataca o tempo todo sem perder a calma. E emendou: Marçal saiu da cadeia, mas a cadeia não saiu dele.

Com Marçal em cena, qualquer debate vira exercício de paciência e teste mental. Guilherme Boulos (PSOL) é quem parece mais bem treinado para a missão.

Marçal jogou cascas de banana em direção a ele o tempo todo. Ele sequer respondeu. Como num jogo de ligação direta, em que a bola não passa por outros jogadores, ele preferiu mirar as armas para Nunes, trazendo questões sobre saúde e orçamento.

Marçal, vendo a tática dos rivais, demonstrou impaciência e contrariedade diversas vezes.

Nem mesmo José Luiz Datena (PSDB) caiu em provocação. E olha que foi acusado de agir em condições análogas a um "orangotango" ao desferir um golpe contra o oponente com uma banqueta no debate anterior, na TV Cultura.

O apresentador foi alvo indireto também quando Marçal disse haver candidatos ali "inflamados", incapazes de cuidar da própria saúde e que, portanto, não saberiam cuidar da população.

Datena só respirou fundo. Seja lá o que tomou antes do reencontro, o lado zen funcionou. "Covarde apanha uma vez só", disse o apresentador, que promete deixar para a Justiça o segundo round da briga.

De fato, foi preciso trincar os dentes ao ver o sorriso de deboche do rival após afirmar que quem levou a cadeirada foi ele por ser acusado de praticar um crime hediondo que, segundo ele, não chegou perto de cometer.

Na sequência, disse que o lugar de Marçal, no hospital onde foi atendido, era a ala psiquiátrica.

Datena vestia uma jaqueta preta sem nenhuma referência ao número de sua legenda — exposto em adesivos no vestiário de outros postulantes. Longe do figurino de candidato, ele parecia admitir que estava lá para se defender. E para negar a Marçal o rótulo de "fujão".

De modo geral, os candidatos conseguiram finalmente pisar na mangueira que enche de ar o boneco de Marçal nos debates: a atenção.

Marçal foi ignorado até mesmo quando fingiu estar arrependido por usar o pai de Tabata, morto de maneira trágica, em campanha para atacá-la.

"Você me perdoa?", questionou.

Tabata não pensou meio segundo no conflito entre reabilitar um candidato perverso ou ferir um princípio cristão. Simplesmente desconversou.

Sobrou a Marçal tentar capitalizar a agressão sofrida no domingo para se dizer vítima de um complô (de comunistas, ele garante) para eliminá-lo fisicamente do jogo.

Acreditou quem quis.

Dois dias após a agressão em rede nacional, quem melhor capitalizou o episódio foi Tabata, não Marçal. Ela já tinha levado as cenas de violência para a propaganda na TV. A proposta era questionar se era aquele nível de agressividade que o eleitor pretende instalar na prefeitura da cidade mais rica do país.

Ela fez o mesmo no debate ao passar um sabão nos coleguinhas do fundão: "A gente tem que eleger não é quem é machão, não é quem grita alto, não é quem é bom de confusão. É quem é boa de resolver."

De castigo, os machões foram para o recreio advertidos e contrariados. (Um deles, inclusive, ferido).

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