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Luta pelo retorno de restos mortais de indígenas à América do Sul dura mais de um século

16/09/2024 11h52

No Museu do Homem, em Paris, os restos mortais de seis indígenas da América do Sul permanecem "em uma caixa" há "132 anos", afirma Corinne Toka Devilliers, que luta para sua devolução ao território da Guiana Francesa.

No início do ano de 1892, 33 indígenas dos povos Galibis e Aruaque, de entre 3 meses e 60 anos de idade, partiram para a Europa de Paramaribo, na antiga Guiana Holandesa e atual Suriname, vizinha da Guiana Francesa.

O explorador francês François Laveau recrutou esses homens e mulheres da foz do rio Maroni a pedido do diretor do Jardin d'Acclimatation em Paris para mostrá-los aos visitantes.

Desde 1877, o lugar, perto do parque Bois de Boulogne em Paris, organizava "espetáculos etnológicos", precursores dos zoológicos humanos. François Laveau prometeu dinheiro e o retorno dos 33 indígenas sul-americanos. 

"Eles nunca receberam o dinheiro e 8 deles não voltaram e ver seu país", disse Toka Devilliers à AFP. A mulher é descendente de Moliko, uma adolescente que, ao contrário de seus companheiros de sofrimento, sobreviveu à viagem e à estada.

"Meu avô me contava esta história detalhadamente, mas eu não prestava atenção", conta. Em 2018, quando ela viu um documentário sobre zoológicos humanos, escutou novamente falarem sobre seus ancestrais.

Quatro anos depois, ela criou a associação Moliko Alet+Po -Descendentes de Moliko, no idioma Galibis - para obter reconhecimento e reparações pelo tratamento dado aos indígenas.

- Cerimônia xamânica -

Das 33 pessoas que viajaram para Paris em 1892, oito morreram antes de retornar, uma vez que chegaram no meio do inverno do norte, elas contraíram "bronquite e vários problemas pulmonares".

Os restos mortais de seis deles estão preservados no Museu do Homem em Paris, um sétimo foi dissecado para fins científicos e o oitavo está enterrado na comuna de Levallois-Perret, a oeste de Paris.

"Eles estão em uma caixa há 132 anos", diz Toka Devilliers, indignada. "Se eles soubessem, nunca teriam tomado aquele barco", acrescenta a mulher, que está exigindo a devolução dos restos mortais para que os mortos possam ser tratados de acordo com os ritos tradicionais.

Embora a França tenha aprovado uma lei em 2023 para permitir a restituição de restos mortais humanos, ela é reservada para solicitações de países estrangeiros e não se aplica a territórios ultramarinos franceses, como a Guiana Francesa.

"As discussões estão em andamento para encontrar a estrutura legal apropriada", explica o Ministério da Cultura da França.

- Trabalho memorial -

Corinne Toka Devilliers e sua associação conseguiram identificar 27 dos 33 indígenas sul-americanos em questão.

Ela agora rastreia o contrato entre François Laveau e o governador da Guiana Holandesa, na esperança de encontrar uma lista de nomes e a indenização prometida.

fro-jt/tjc/jvb/jmo

© Agence France-Presse

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