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Francesa vítima de estupros que era sedada pelo marido agradece apoio de manifestantes

16/09/2024 10h31

"Graças a todos vocês, tenho forças para levar esta batalha até o fim", disse a francesa Gisèle Pelicot nesta segunda-feira (16) após uma série de protestos em seu apoio. As manifestações, que aconteceram neste sábado (14) em toda a França, reuniram cerca de 10 mil pessoas.

"Dedico minha luta a todas as pessoas, mulheres e homens, ao redor do mundo, vítimas de violência sexual. Para todas elas, digo: "Olhe ao seu redor, você não está sozinho", declarou Gisèle. "Fiquei profundamente emocionada com essa iniciativa", acrescentou. 

O caso teve repercussão mundial e está sendo usado como exemplo pelos movimentos feministas para debater a questão do consentimento. 

"Somos todos Gisèle", "Estuprador, estamos de olho em você, vítima, acreditamos em você", "Você não está mais sozinho", gritavam os cerca de 3.500 manifestantes reunidos na Praça da República, em Paris.

Em Marselha, várias centenas de pessoas - mil segundo os organizadores - se reuniram em frente ao tribunal e penduraram faixas com a frase: "A vergonha tem que mudar de lado". 

Gisèle Pelicot recusou que o julgamento do crime acontecesse a portas fechadas. Entre 2011 e 2020, ela foi sedada pelo seu ex-marido, Dominique Pélicot, que a oferecia na internet a dezenas de estranhos, que vinham estuprá-la na residência do casal, em Mazan, no sudeste da França.

Os crimes foram gravados e descobertos por acaso pela polícia. Os acusados podem ser condenados a penas de até 20 anos de prisão.

O processo de Dominique Pélicot e de outros 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, foi temporariamente suspenso nesta segunda-feira devido ao estado de saúde do principal acusado. O caso começou a ser julgado no dia 2 de setembro, no tribunal criminal de Vaucluse, no sul da França.

Dominique Pélicot, 71 anos, foi submetido a uma tomografia computadorizada neste domingo (15). Ele tem "pedra nos rins, sofre de uma infecção renal e um problema na próstata", disse o presidente do tribunal, Roger Arata.

"Vamos suspender o julgamento por hoje e retomá-lo amanhã de manhã", declarou Arata, que pediu um relatório médico para decidir se adiará definitivamente o processo.

Advogada critica falta de assistência médica

"Ele não estará aqui hoje. A menos que o tirem à força" de sua cela, anunciou a advogada Béatrice Zavarro à AFP, antes do julgamento ser retomado rapidamente no tribunal de Avignon, no sul da França.

O primeiro interrogatório de Pelicot estava marcado para a terça-feira passada, mas ele já estava ausente na véspera, obrigando o presidente do tribunal a alterar o programa e decretar várias suspensões.

Antes da última suspensão, nesta segunda-feira, os advogados de defesa, as partes civis e até o Ministério Público denunciaram uma situação "insustentável".

"Estamos como reféns há oito dias, porque se tivessem cuidado dele desde o início não estaríamos nesta situação", lamentou Zavarro no tribunal, especificando que seu cliente "continua querendo falar e o fará".

Os advogados e Gisèle Pelicot, e seus filhos consideraram "anormal" a retomada do julgamento sem o principal acusado, já que há pessoas que têm como função garantir sua presença. "Se esta situação se deve a um atraso no tratamento [médico], será um escândalo", disse seu advogado, Stéphane Babonneau.

O julgamento tornou-se um símbolo do uso de drogas para cometer agressões sexuais, prática conhecida como submissão química. O presidente da Corte, Roger Arata, marcou uma nova reunião na terça-feira, na reabertura da audiência.

As próximas fases do processo dependem agora do estado de saúde de Dominique Pelicot e da avaliação médica. O julgamento pode ser adiado por alguns dias ou até meses.

Adiamento "catastrófico"

Tal adiamento "seria catastrófico" porque "teríamos que começar do zero", disse Patrick Gontard, advogado de um dos réus, durante o recesso da audiência na segunda-feira. "Se essa situação ocorre devido a um atraso no atendimento, seria um escândalo", acrescentou.    

"Este julgamento é uma prova diária para Gisèle Pelicot e sua família que, todos os dias, aparecem em público com coragem para enfrentar os olhares, encontrar com o acusado, vir e testemunhar. Isso está se tornando uma tortura", disse Babonneau no final da audiência. Na segunda-feira, ela era a única que ainda estava presente na bancada das partes civis.  

Dominique Pelicot, que filmou ou fotografou todos os estupros e os guardou em arquivos dentro do seu computador, é réu confesso, mas nunca explicou os crimes em detalhes. Seu testemunho também é crucial para o julgamento dos outros 50 acusados, com idades entre 26 e 74 anos. 

Com informações da AFP

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