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Alemanha reintroduz controle nas fronteiras terrestres para conter imigração clandestina

16/09/2024 07h47

A Alemanha iniciou nesta segunda-feira (16) o controle temporário de todas as suas fronteiras terrestres durante no mínimo seis meses, para combater a imigração irregular e a entrada de criminosos. Os controles serão realizados nas fronteiras com a França, Luxemburgo, Holanda, Bélgica e Dinamarca.

Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

O chanceler Olaf Scholz defendeu a medida neste sábado (14), em um comício em Brandemburgo. Nas fronteiras com Suíça, Áustria, República Tcheca e Polônia os controles já vêm sendo realizados desde o ano passado e se mostraram eficazes, segundo Scholz. Eles teriam permitido detectar mais de 30 mil pessoas que buscavam entrar ilegalmente no país.

O espaço Schengen, que inclui 25 dos 27 Estados-membros da União Europeia, entrou em vigor em 1995 e permite aos viajantes circularem livremente entre os países do bloco, que podem reintroduzir os controles nas fronteiras em circunstâncias excepcionais. Isso ocorreu, por exemplo, durante a pandemia de Covid-19 ou após ataques terroristas.

Segundo o governo alemão, as medidas são necessárias para "a proteção da segurança interna contra as atuais ameaças do terrorismo islâmico e da criminalidade transfronteiriça" e são um "último recurso". A decisão visa tentar conter a imigração ilegal, após uma série de ataques a faca realizados por imigrantes.

No final de junho, um policial foi morto por um afegão de 25 anos em Mannheim. Em agosto, três pessoas morreram na cidade de Solingen, no oeste da Alemanha, em um ataque reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico e supostamente cometido por um sírio de 26 anos, que deveria ter sido deportado do país, segundo as autoridades.

Os atentados chocaram a opinião pública e serviram como um catalisador para vitórias eleitorais recentes do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em eleições regionais no começo deste mês na Saxônia e na Turíngia.

Os partidos da coalizão de governo do chanceler alemão Olaf Scholz sofreram duras derrotas nessas votações. O AfD também está liderando as pesquisas antes das eleições regionais do próximo domingo (22) no estado de Brandemburgo, que atualmente é governado por uma coalizão liderada pelos sociais-democratas de Olaf Scholz. As pesquisas também indicam que segurança e imigração são prioridades para os eleitores.

Protestos dos vizinhos

O premiê polonês, Donald Tusk, qualificou de "inaceitável" o anúncio de Berlim e disse que vai pleitear consultas urgentes com outros países afetados na União Europeia. O governo austríaco também reclamou da medida.

Entre as principais preocupações estão as longas filas e esperas nas passagens de fronteira que podem prejudicar não só a circulação de pessoas, mas também o comércio entre os países.

O governo alemão garante que os controles de fronteira serão feitos de forma pontual, direcionada, flexível e não generalizada. E afirma também que serão realizados de maneira a evitar a formação de engarrafamentos e o menor transtorno possível ao trânsito de pessoas e mercadorias.

Clima anti-imigração

O clima anti-migratório vem crescendo na economia mais forte da Europa nos últimos nove anos, depois de ter acolhido, em 2015, cerca de um milhão de refugiados que escapavam de guerras em países como a Síria.

Os partidos de extrema direita e de extrema esquerda têm crescido nas pesquisas e vêm se beneficiando desse contexto e da conjuntura econômica desfavorável, com elevados níveis de inflação, aumento do custo de vida e  uma crise energética que levou à falência de muitas empresas na Alemanha.

Além disso, a coalizão de governo alemã também está sob pressão da principal força de oposição, representada pelos conservadores democratas-cristãos da CDU (União Democrata Cristã), partido da ex-chanceler Angela Merkel.

Eles defendem uma política de migração mais rígida, incluindo uma rejeição generalizada de requerentes de asilo na fronteira, o que o governo considera contrário ao direito europeu.

Há algumas semanas, o governo alemão voltou a realizar deportações para o Afeganistão pela primeira vez desde que os talibãs tomaram o poder, em 2021. Berlim também anunciou um pacote de leis cortando benefícios para requerentes de asilo, o que visa acelerar as expulsões.

Com informações da AFP

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