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Marçal esbarra em paredão mais difícil que o Pico dos Marins: a periferia

O candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) - 11.set.2024-Werther Santana/Estadão Conteúdo
O candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) Imagem: 11.set.2024-Werther Santana/Estadão Conteúdo
do UOL

Matheus Pichonelli

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/09/2024 05h30Atualizada em 14/09/2024 09h28

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (12) mostra que a campanha de Pablo Marçal esbarrou em um paredão mais difícil de escalar do que o Pico dos Marins: o voto dos mais pobres.

O candidato do PRTB soma 13% das preferências entre quem ganha até dois salários mínimos. O grupo representa 36% do eleitorado.

Em 23 de agosto, o mesmo instituto apontava um empate quádruplo, dentro da margem de erro (de cinco pontos), neste segmento.

Marçal marcava 18%, mesmo índice de Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). José Luiz Datena (PSDB) tinha 15%.

veio a campanha da TV, e Nunes decidiu mostrar as travas da chuteira da máquina pública.

Na estreia da propaganda eleitoral, o prefeito tentou (e aparentemente conseguiu) vender a imagem de candidato que cresceu na quebrada e manteve conexões com a zona sul da cidade.

Hoje ele soma 27% das intenções de votos entre os mais pobres. Boulos vem na sequência, com 21%.

Sem tempo de TV, Marçal até tentou enviar piscadelas para os moradores da periferia. Cantou Racionais MCs no Roda Viva, disse que vinha da quebrada em Goiânia e prometeu, na sabatina do UOL e da Folha de S.Paulo, levar educação financeira para que jovens da favela pudessem sonhar com outro futuro que não fosse o futebol, a música ou o crime.

Deixava escancarada ali a imagem estereotipada sobre um público que só finge conhecer. Se nasceu em bairro pobre de Goiânia, em São Paulo, Marçal nunca precisou pegar ônibus para chegar à sede das suas empresas, em Alphaville, Barueri.

O paredão em direção à quebrada ficou ainda mais alto quando o influenciador compartilhou nas redes sociais um esquete de humor em que pessoas da periferia correm quando veem uma carteira de trabalho na frente.

Mas o tiro no pé mesmo aconteceu quando ele decidiu atacar um programa de transferência de renda considerado modelo no mundo todo —menos nos cursos e mentorias dele, eventos em que política social é tratada como moeda de troca da dependência eleitoral.

Na mesma sabatina para o UOL e a Folha, Marçal, afirmou: "A pessoa que está embaixo do assistencialismo é proibida de trabalhar, ela é desempregada. Ela só está sendo bancada por uma leitoa bem gorda".

Além de mentirosa (nenhum beneficiário é proibido de trabalhar), a frase evidencia uma ignorância quase suína.

Não é difícil perceber por que, com tanta verborragia, Marçal viu a rejeição escalar e bater 44% — contra 37% de Boulos, seu alvo principal.

Na capital paulista, existem 692,6 mil famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Não é lá muito inteligente pedir voto acusando-as de se aproveitar de uma leitoa estatal.

Aos poucos, Marçal percebe que, com partido nanico e estrutura avariada, não consegue escalar todos os paredões de uma vez. Ansiedade é mesmo um mal da geração millennial, da qual faz parte.

No sábado, 7 de setembro, ele não conseguiu subir ao carro de som de onde Jair Bolsonaro e companhia atacavam o Judiciário, a esquerda e o governo Lula. Fora da festa, ele decidiu elevar o tom e, em uma entrevista ao podcast "Te Atualizei", sugeriu que as pessoas acampem na porta do Congresso para pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a autorizar o processo de impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A fala é música para os ouvidos de uma faixa específica da classe média bolsonarista. A que tem tempo e recursos para acampar e cantar o hino nacional para pneu.

Quem está atrasado para chegar de ônibus ao trabalho a partir do Capão Redondo tem outras preocupações. E cantar à capela o único rap que conhece não vai conquistar quem mais precisa de propostas concretas em uma cidade tomada de concreto e buraco.

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