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Greve para aeroporto na Argentina e brasileiros reclamam: 'Estragaram a viagem'

13.set.24 - Passageiros ficam presos no aeroporto Jorge Newbery, em Buenos Aires, durante greve sindical - Agustin Marcarian/REUTERS
13.set.24 - Passageiros ficam presos no aeroporto Jorge Newbery, em Buenos Aires, durante greve sindical Imagem: Agustin Marcarian/REUTERS

Márcio Resende;

Correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires

14/09/2024 10h19Atualizada em 14/09/2024 11h07

A paralisação nos voos da companhia aérea Aerolíneas Argentinas completa um dia neste sábado (14), totalizando 319 voos domésticos e internacionais cancelados. Cerca de 37 mil passageiros foram atingidos, entre eles, milhares de brasileiros.

No painel de partidas, a repetição da advertência de voo "cancelado" indica que mais de 90% dos voos são atingidos. A Aerolíneas Argentinas tem uma posição dominante no mercado local. Os passageiros, que deveriam estar nos guichês de check-in, estão na fila de reclamação e demonstram raiva, tristeza e frustração. Nessa fila, os brasileiros são maioria.

A funcionária pública carioca Mirian Dias, de 56 anos, partiu do Rio de Janeiro para El Calafate, na Patagônia. O grupo de seis pessoas deveria encontrar o resto da família para continuar viagem a São Carlos de Bariloche, mas na conexão em Buenos Aires, a greve interrompeu planos e sonhos.

"Vamos ter de ficar aqui, em Buenos Aires, no mínimo, até dia 18, esperando a disponibilidade de um voo. E teremos de pagar hospedagem e refeições do nosso bolso porque eles não assumem as perdas que provocam. Perdemos vários passeios, hotel, tudo pago", indigna-se Mirian em entrevista à RFI.

As perdas não só apenas econômicas. Mirian vai às lágrimas diante da frustração. "Estragaram a minha viagem. Acabaram com as minhas férias. Tudo perdido", emociona-se.

A advogada Mariana Dias, de 34 anos, veio passar o aniversário em Ushuaia, na Terra do Fogo. Saiu de Brasília com o namorado e um casal de amigos - mas, em Buenos Aires, estragaram-lhe a festa. "Um dia de passeio é muita coisa para quem vem com os dias contados. Era para passar o meu aniversário aqui. Isso está perdido", lamenta.

O gaúcho Luis Fernando Muneroli, de 66 anos, está num grupo de oito pessoas. Saíram todos de Ushuaia, no extremo sul argentino, a Posadas, no norte. Porém, no meio do caminho, havia uma greve. A viagem agora terá de continuar de ônibus.

"Vamos viajar durante 12 horas de ônibus para podermos chegar amanhã. Em Ushuaia, ficaram outros 12 amigos que deveriam fazer o mesmo trajeto neste sábado. O voo deles foi cancelado e ficarão presos lá até, pelo menos, dia 17", descreve Luis Fernando à RFI. "Agora, precisam conseguir hospedagem porque a companhia aérea não dá satisfação nenhuma."

Sétima greve em um mês

A greve da Aerolíneas Argentinas é prevista para durar 24 horas, começando ao meio-dia de sexta-feira (13), indo até o meio-dia deste sábado. Esta é a sétima paralisação na companhia Aerolíneas Argentinas em menos de um mês.

Por trás da reivindicação de aumentos salariais, a greve é também contra a privatização da empresa, impulsionada pelo presidente Javier Milei. Mas o tiro tem saído pela culatra. A cada novo desgaste por greve, aumenta o número de argentinos a favor da privatização.

O próprio presidente da companhia, Fabián Lombardo, disse que administra a empresa com o objetivo de privatizá-la.

Os aeronáuticos, liderados pelos pilotos, dizem que há um desajuste salarial de 72%, mas o governo expõe que as exigências passam por manter benefícios que nenhuma outra companhia concede.

Os brasileiros pegos pelo movimento social no meio da viagem são os que conseguiram partir antes do meio-dia, mas não puderam continuar na conexão. Os demais engrossam a lista de afetados, mas tiveram os voos cancelados desde a origem.

São 319 voos cancelados pela Aerolineas Argentinas, atingindo 37 mil passageiros. Porém, essa conta é ainda maior porque a estatal Intercargo, responsável pelo movimento de rampa e de bagagem, faz greves intermitentes, atrasando os voos de todas as demais companhias.

O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, denunciou que os pilotos ganham entre US$ 10 e 20 mil e que todos os benefícios, como passagens grátis em primeira classe para toda a família, custam US$ 20 milhões anuais ao Estado.

O presidente Javier Milei decretou que o serviço aéreo passa a ser essencial. Na prática, a medida impõe uma quantidade de voos obrigatórios, mesmo durante greves.

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